A piada a seguir mostra muito bem a destrutividade da inveja. Dois amigos muito pobres andavam pela rua quando, casualmente, encontraram uma lâmpada mágica. Eles a esfregaram e dela saiu um gênio, muito cansado e irritado, que reclamou já estar nessa vida há milênios e que por isso mesmo só iria conceder um desejo para cada um. Os amigos refletiram bem e um deles pediu imensa riqueza e zás, no mesmo instante, o gênio o tornou muito rico. Ele pulava de alegria por se ver agora dono de uma fortuna e quando o gênio inquiriu o segundo amigo sobre o que queria ele respondeu: “Eu quero que ele fique pobre novamente” – disse ele apontando para o amigo que tinha acabado de ficar rico.

Muitos acreditam que a inveja se trata de desejar o que os outros têm, de cobiçar algo que é do outro. Com certeza também há esse aspecto, mas ela é muito mais do que isso e implica em ansiar, de uma maneira voraz, o que o outro sente. Quem é dominado pela inveja deseja e se ressente do estado de espirito do próximo, que sempre imagina que é um estado cheio de delícias e um gozo sem fim. O invejoso crê que o outro está sentindo uma tal maravilha, tal estado de graça e se ressentindo disso passa a odiar o que o outro sente.

Voltando na piada acima o segundo amigo ao notar a felicidade do primeiro, ao ver que ele se encontrava numa alegria enorme, ficou ressentido de imaginar o quanto o outro estava se deliciando e tomado de um estado de espirito favorável e sua reação foi desperdiçar a própria chance de obter o que queria para destruir os bons objetos que se encontravam no mundo interno do amigo. Isso que é a inveja.

Obviamente, todos sentem inveja. Sem exceção. E mais do que isso: não há como ‘controlarmos’ se vamos sentir inveja ou não. Ninguém tem esse poder de afirmar: “Eu não sinto inveja, estou acima dela”. Como se trata de uma emoção ela surge em nossa mente quer se queira ou não. O que vai fazer toda a diferença em separar quem sofre com a inveja e quem a sente sem precisar se ressentir com ela é o grau de satisfação que alguém tem consigo próprio.

Quanto menor o grau de contato de uma pessoa consigo mesma mais ela pode ficar presa a emoções como a inveja. Quanto menos alguém pode ‘olhar’ para dentro de si mais essa pessoa vai acreditar que tudo o que há de bom nessa vida vem de fora e é dado de presente. Alguém assim vai crer que existem apenas dois tipos de pessoas: as sortudas e as azaradas. As sortudas recebem todas as bênçãos, sempre tem sorte em tudo o que tocam e ganham tudo sem o menor esforço. Já as azaradas, com quem se identificam, só ficam tropeçando e nada de bom lhes é dado.

Pessoas assim quando se deparam com as emoções doces e alegres de alguém próximo ficam ressentidas, pois elas mesmas sentem que não têm dentro de si essa doçura e alegria e por isso mesmo ficam tão dominadas pela inveja que são impelidas a destruir tudo aquilo que sente estar fora de seu alcance. Não acreditam que possam encontrar dentro de si mesmas bons objetos que possam ser preservados. Sentir dentro de si que nada bom possa surgir e existir pode tornar alguém bem destrutivo.

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