Frustrar uma criança implica impor-lhe limites, consistindo em dizer "não", uma palavra que ninguém aprecia ouvir. Não podemos, nem devemos atender a todos os desejos da criança, pois isto seria impossível e também perigoso já que nem todo desejo é necessariamente bom. Entretanto, é desafiador para muitos pais mostrar à criança que seu desejo não é equivalente ao poder.

Desde tenra idade, o bebê é exposto à palavra "não", pois os pais buscam protegê-lo de perigos, dizendo "não faz isso", "não toque nisso", "não bote aquilo na boca". Só que atualmente, dizer "não" à criança é uma situação que traz angústias aos adultos já que eles têm medo de traumatizar os pequenos e acham que só podem dizer ‘sim’.

Na verdade, ambas as perspectivas são fundamentais. É necessário tanto dizer "não" quanto dizer "sim" e os pais precisam ser capazes de transitar entre as duas perspectivas de maneira tranquila. Quando, por exemplo, o bebê deseja mamar e a mãe demora um pouco para atendê-lo, o bebê não apenas ouve o "não", mas vivencia a ausência, experimentando o que é o "não". Assim, a criança aprende que nem sempre pode obter tudo o que deseja, no momento desejado. E essa aprendizagem não é pouca coisa, é de extrema importância para a vida adulta.

É angustiante para as pessoas aceitar limites. Muitas passam a vida inteira resistindo a eles, sonhando em eliminar os "nãos" da vida para alcançar a liberdade e prazer sem fim. No entanto, há limites em nós mesmos: "não sei", "não consigo", "não tenho", "não posso". Além disso, há limites nas diversas pessoas com as quais nos relacionamos e não há ninguém todo-poderoso. Enfrentamos diariamente os limites impostos pela vida e pelos outros. É necessário suportar a frustração para ser capaz de viver tanto consigo quanto em sociedade.

Frequentemente observamos que as crianças têm dificuldade em aceitar o "não" e reagem com birras, esperneios e gritos. Geralmente, para evitar o escândalo, os pais cedem a tais cenas. A criança passa a acreditar que sua agressividade possui grande poder e que pode alcançar seus desejos sendo agressiva, o que só vai levar a equívocos futuramente em suas vidas.

Muitas pessoas consideram cruel submeter uma criança à experiência da frustração. Pelo contrário, é inevitável e fundamental para o desenvolvimento de qualquer pessoa. A partir da frustração e da ausência, numa quantidade suportável, a criança desenvolverá habilidades como começar a pensar, que será fundamental para a vida.

A criança pequena tem a ilusão de ser todo-poderosa, o centro do mundo, acreditando que tudo ocorre por causa dela e que basta pensar para que aconteça. Com o tempo, ela percebe que as coisas não são tão simples, que não é onipotente, não pode realizar todos os desejos e não controla o mundo nem as outras pessoas. Aos poucos, ela compreende seus próprios limites e os dos outros, reconhecendo que cada pessoa existe separadamente e que os outros têm vidas independentes dela. Seria impossível uma criança ter um desenvolvimento emocional e intelectual adequado sem ter enfrentado os “nãos’ da vida.

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