O cavalo encilhado

Cuca e Dorival Júnior foram campeão e vice-campeão brasileiro do ano passado. O técnico do Palmeiras pediu demissão sexta-feira (13). Seu agente foi quem telefonou para Alexandre Mattos para avisar que Cuca não estava feliz e queria sair.

Isso não muda o resultado do trabalho, insuficiente. Foram 34 jogos, contra 51 de sua primeira passagem. Nas duas vezes, somou 11 derrotas. Eram 21% no ano passado, 32% desta vez, uma a cada três partidas.

Dorival Júnior assumiu o São Paulo em 17º lugar, foi parar em 19º e seu time saiu da zona de rebaixamento no sábado (14) à noite, com a virada sobre o Atlético-PR.

Quem define de maneira simplista diz: trabalho ruim. Mas já se pode chamar de trabalho? Não se trata de atualização ou desatualização.

O maior pecado de quem analisa os técnicos brasileiros não é a preguiça nem a gula, ou a ira, a inveja, luxúria, a vaidade ou a avareza. É a pressa.
O problema é quando quem tem de analisar cai na armadilha dos dirigentes, apressados pela estrutura política dos conselheiros.

Cuca não conseguiu fazer o Palmeiras se aproximar de seus objetivos em 2017. Óbvio que fracassou. Dorival Júnior soma menos pontos do que se imaginava, num clube castigado por cinco anos de resultados ruins. Não parece ser um problema de técnicos, mas de dirigentes.

Acusar Cuca e Dorival Júnior de fracassados é como dizer que Jürgen Klopp, do Liverpool, e Massimiliano Allegri, da Juventus, vice-campeões da Liga dos Campeões em 2013 e 2017, respectivamente, de estarem desatualizados, pelos maus resultados deste início de temporada.

Dorival Júnior monta sua equipe exatamente como Tite, num 4-1-4-1, preza a posse de bola, evita os lançamentos longos. Não vence.

A culpa não é só dele. O São Paulo mudou seis titulares durante o ano. Mexeu no elenco inteiro.

Cuca é acusado de abusar dos cruzamentos. Ano passado, foi o quinto time com menos bolas cruzadas. Neste ano, é o décimo. Não abusa dos cruzamentos. Não existe Cucabol.

Dirigiu o Palmeiras em 34 jogos. Nos primeiros 24, sempre teve intervalos entre quarta-feira e domingo, com distância de três dias e nenhuma semana livre para treinos. Podia ter sido um fracasso no ano passado em condições iguais. Ou um sucesso neste ano, com mais tempo para treinar. Não se trata de absolver o treinador. Apenas de ser justo.

Enquanto não houver tempo para treinos, não haverá times bem montados no Brasil. Vamos continuar dizendo que o campeonato está nivelado por baixo, apesar de o Corinthians e o Atlético-GO desnivelarem a disputa?

Este é o 15º Campeonato Brasileiro por pontos corridos. Só três campeões trocaram de técnicos e 54 dos 56 rebaixados mudaram. O São Paulo pode se salvar do rebaixamento e iniciar 2018 com Dorival Júnior. No Palmeiras, é mais confuso.
O técnico pode ser Mano Menezes, mas só se não renovar com o Cruzeiro, possibilidade que existe.

Alberto Valentim mudou pouco o Palmeiras. Manteve o sistema tático, tirou Thiago Santos e escalou Keno, o melhor em campo.

O maior aliado de Alberto é Fábio Carille. Se deu certo no Corinthians, pode funcionar no Palmeiras. O cavalo está passando encilhado, Alberto Valentim. Apesar de Mano Menezes.

O GRANDE RISCO

Cueva reagiu depois da crise em que se envolveu com Rodrigo Caio. Parece mais comprometido após a reunião com a torcida, em que Hernanes afirmou que não se aceitavam cobranças individuais. O problema é que Cueva estará fora por quatro jogos em novembro.

PACAEMBU

O Santos venceu 22 dos últimos 24 jogos no Pacaembu e é o único, entre os grandes de São Paulo, com média de público crescente quando atua no estádio. Óbvio: a Vila Belmiro é menor. Ganhar do Vitória, nesta segunda, não é só pelo título. É pela vaga direta na Libertadores.