Imagem ilustrativa da imagem As orquídeas de Elisabeth Khater
| Foto: iStock

Minha amiga Fernanda Khater enviou-me este maravilhoso texto sobre sua amada tia, a juíza Elisabeth Khater, falecida no último dia 20:

“Ao longo da vida, minha tia Elisabeth Khater teve três paixões: o trabalho, a família e suas orquídeas.

No trabalho, atuou com a responsabilidade que o cargo exige, honrando a magistratura com sua nobreza, rigidez moral, de caráter e de postura. Paulistana de nascimento, recebeu o título de cidadã honorária das cidades em que atuou e do Estado do Paraná.

Ao longo da carreira, enfrentou grandes batalhas e agiu com bravura. Mesmo quando sofreu ameaças contra sua vida — estas noticiadas nacionalmente e que lhe impuseram um período de escoltamento militar —, não esmoreceu ou se acovardou, continuando a decidir de maneira firme e justa.

Figurou na lista das juízas mais produtivas do país, sendo que em 2017 recebeu da Associação dos Magistrados do Paraná, a medalha de mérito judiciário, em razão dos relevantes serviços prestados à Justiça e pelo fortalecimento da magistratura.

Partiu com o trabalho em ordem, não deixando qualquer atraso na sua vara de atuação. Foi uma mulher de grandes feitos.

Com a família, não mediu esforços para que sempre pudéssemos estar juntos. Fazia questão do almoço de domingo, convidando a todos, logo pela manhã, para que a acompanhassem. Foi uma irmã companheira, preocupada e amorosa. Com os sobrinhos, uma verdadeira mãe. Temos a plena ciência de que abdicou de sonhos próprios para contribuir com nossa formação e para realizar nos nossos sonhos.

Adorava receber orquídeas e as cultivava pacientemente até que florescessem no mês de setembro, exatamente no mês em que nos deixou. Das orquídeas que ora florescem, extraímos a mensagem que precisamos sempre florescer, ainda que tenhamos obstáculos e que tenhamos que esperar pela chegada da nova primavera.

Desde à época em que recebeu o diagnóstico, travou uma batalha contra a doença, estando disposta a tudo para que pudesse combater o mal. Por meses, fez um tratamento quimioterápico em São Paulo. Para que não perdesse um só dia de trabalho, retornava à Londrina logo após a colocação da bolsa de quimio em seu corpo e ia trabalhar enquanto a medicação ainda circulava em seu corpo. Fazia audiências e júri com a bolsa de quimio. Salvo a família, nunca ninguém soube disso!

A partir do diagnóstico, a sua expectativa de vida era de seis meses. Ela viveu dois anos e seis meses — um milagre que os médicos não souberam explicar. Sabemos que aí, como sempre em sua vida, esteve presente a mão de Deus.

Partiu em paz, pois, com a presença de todos, certificou-se pela última vez que seus ensinamentos de união familiar foram absorvidos por todos, sendo certo que permaneceremos honrando essa união ensinada. Embora não tenhamos aprendido a dizer adeus, nós a deixamos ir, com lágrimas no olhar, mas com certeza de que sua presença jamais irá se apagar.

Em todos os títulos de cidadão honorária que recebeu, iniciou seu discurso com a frase dita por Tiradentes: ‘Mil vidas eu tivesse, mil vidas eu te daria...’ Hoje nós dizemos o mesmo. Mil vidas nós tivéssemos, mil vidas daríamos a você, querida Tia Beta!”