A nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro-chefe da Casa Civil ainda está rendendo problemas para a ex-presidente Dilma Rousseff. Vista como uma tentativa de blindar Lula nas investigações da Lava Jato, a nomeação do petista é um dos motivos que levaram a Polícia Federal (PF) a sugerir que Lula e Dilma sejam denunciados – em primeiro grau – pelo crime de obstrução da Justiça. A PF também atribuiu ao ex-ministro Aloizio Mercadante o crime de tráfico de influência. Em um relatório do inquérito, o delegado da PF Marlon Oliveira Cajado dos Santos, do Grupo de Inquéritos da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, pede que os três sejam denunciados no âmbito da Justiça Federal do Distrito Federal porque eles não têm mais foro privilegiado na Corte máxima. O relatório foi encaminhado ao ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), e também para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A Polícia Federal considerou que a nomeação de Lula como ministro, em março do ano passado, provocou "embaraço ao avanço da investigação da Operação Lava Jato". A nomeação de Lula foi barrada pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). É interessante observar que a conclusão do relatório da polícia aconteceu na mesma semana em que o ministro Celso de Mello, do Supremo, deu parecer favorável à nomeação de Moreira Franco para a Secretaria-Geral da Casa Civil do presidente Michel Temer. Franco foi citado em delações de executivos da empreiteira Odebrecht. Quanto a Aloizio Mercadante, a polícia aponta a gravação de uma conversa que provaria a intenção do petista em barrar a delação premiada do ex-senador Delcídio Amaral. A PF vê uma intenção comum nas atitudes de Dilma, Lula e Mercadante: atrapalhar as investigações da Lava Jato, que completa três anos em 14 de março. Qualquer tentativa de intervenção em investigações que apuram corrupção na política devem ser denunciadas e combatidas. E a preocupação aumenta neste momento em que a atenção dos brasileiros se volta para as delações da Odebrecht, que prometem fazer tremer o mundo político. Isso porque os depoimentos dos executivos da maior empreiteira do País devem revelar mais detalhes sobre como funciona a atuação dos partidos políticos, agentes públicos e empresas em esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro.