Metade do total de dinheiro arrecadado por candidatos e partidos nas eleições municipais deste ano está sob suspeita de irregularidades. Os problemas foram identificados no trabalho de cruzamento de dados feito pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e entregues ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que publicou as informações em seu site. Há suspeitas em um volume total de R$ 1,41 bilhão – o total arrecadado por candidatos a prefeitos e vereadores chegou a R$ 2,227 bilhões. Entre os indícios de irregularidades mais relevantes de despesas declaradas à Justiça Eleitoral, chama atenção o caso de uma agência de publicidade com apenas dois funcionários contratada para campanha no valor de R$ 219 mil. Uma empresa de produções cujo sócio é beneficiário do Bolsa Família prestou serviço no valor de R$ 3,57 milhões. Há outro caso bizarro que está sendo investigado, o de uma pessoa física que recebe o Bolsa Família e fez doação de R$ 75 milhões. O rastreamento chegou a um doador que repassou R$ 50 milhões sem ter renda compatível e a um prefeito que doou R$ 60 milhões para o seu diretório municipal. Foram identificados ainda 290 doadores falecidos. Esse trabalho de cruzamento de dados a partir da prestação de contas dos candidatos é inédito e tem como objetivo coibir crimes eleitorais no período da campanha. Ele começou a ser realizado este ano graças a uma parceria entre o TSE e diversos órgãos públicos. No início de setembro, segundo a lista apresentada pelo TCU, a somatória de quantias suspeitas correspondia a cerca de R$ 116 milhões. Uma semana depois, o valor passava de R$ 275 milhões, chegando a R$ 388 milhões no dia 19 e a mais de R$ 554 milhões no final de setembro. O montante de doações suspeitas não para de crescer. No começo de outubro, o valor superou a casa dos R$ 659 milhões. Todos os indícios de irregularidades serão disponibilizados aos juízes eleitorais para apuração com prioridade. O fim das doações de empresa foi um passo importante, mas o Brasil precisa se dedicar ainda mais a pensar em uma forma de disciplinar o financiamento e apurar com rigor qualquer sinal de fraude.