Vestindo terno cinza e camisa social sem gravata, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) chegou ontem, por volta das 10 horas, no Instituto Médico Legal (IML) de Curitiba para fazer o exame de corpo de delito. No breve contato com os jornalistas, o peemedebista limitou-se a dizer que a decisão do juiz Sérgio Moro de mandar prendê-lo foi "absurda". Cunha passou a noite em uma cela de 12 metros quadrados na Superintendência da Polícia Federal (PF). Ao contrário do que se esperava, durante a chegada do ex-deputado ao IML não houve grande manifestação popular. Poucas pessoas se arriscavam a algumas palavras de protesto do tipo "Tchau querido" ou "Entrega todo mundo". É certo que a prisão daquele que até meses atrás era um dos políticos mais importantes do País causou apreensão em Brasília. Se antes da prisão, muitos não acreditavam que o peemedebista recorreria a um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, agora o risco está sendo considerado. Políticos aliados a Michel Temer (PMDB) disseram não acreditar que Cunha tenha elementos para comprometer o presidente da República, mas há preocupação com retaliações por parte do político carioca. O ex-parlamentar perdeu o foro privilegiado depois que teve o seu mandato cassado, por isso o seu processo foi parar nas mãos de Moro. No pedido de prisão feito contra Cunha, a força-tarefa da Lava Jato justificou que ele ainda mantém influência nos seus correligionários. Cunha entrou na vida pública em 1991, por sugestão do então tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor, Paulo Cesar Farias. Ele foi nomeado para a presidência da Telerj e acabou exonerado depois de vir à tona um esquema de corrupção na estatal do Rio de Janeiro. Para os procuradores, Cunha teria dedicado toda a sua vida pública a "obter vantagens indevidas com a finalidade de possibilitar uma vida de gastos vultosos" para si e sua família. O patrimônio dele seria 53 vezes maior do que o declarado. É justamente essa a questão que leva a classe política brasileira ao descrédito. Para muitos homens públicos, obter vantagens indevidas é o sentido do cargo que ocupam, quando na verdade, os representantes do povo deveriam usar o seu mandato para servir ao País e à população.