Em 1990, ainda vivendo na cidade de São Paulo, votei no sociólogo Florestan Fernandes para deputado federal. A alegria desse voto tão simbólico – cursei Ciências Sociais mais tarde e passei a admirar profundamente o autor de “A revolução burguesa no Brasil” – foi também minha única escolha até ontem que deu certo. De lá até 2022, eu nunca mais elegi um parlamentar. Fica a questão inevitável: erro eu ou se equivoca a maioria dos eleitores? Olhando para o perfil das casas legislativas do país, sinto-me bastante aliviado, confesso.


“Ontem”, em 2022, acertei mais uma vez. Votei em Renato Freitas para deputado estadual do Paraná. E meu regozijo é gigante: vejo-me completamente agraciado pela postura dele como representante do povo paranaense na Assembleia Legislativa. O que não falta é motivo para essa indisfarçável satisfação.


Vale recordar que Renato Freitas era vereador em Curitiba. Destacou-se como porta-voz de movimentos sociais e defensor dos direitos de cidadania para diversas minorias. Por causa de uma legítima manifestação numa igreja da capital, cujos elementos práticos e culturais eram evidentes para quem quisesse ver, teve seu mandato cassado. O absurdo foi tão grande que o STF lhe devolveu o mandato. Circulou pelo Brasil a vergonha de que a política oficial pode ser portadora, do racismo evidente, do ódio de classe escancarado. Não é preciso ser um grande intérprete da formação social brasileira para constatar o tamanho do atraso que compõe a maior parte do imaginário político daqueles que representam a população nesta nossa tão frágil, inacabada e segregadora democracia.

Como ato de coragem cidadã, sou Renato Freitas e me desmancho de orgulho disso
Como ato de coragem cidadã, sou Renato Freitas e me desmancho de orgulho disso | Foto: Orlando Kissner/Alep


Freitas deu a volta por cima. Obteve 57.880 votos na disputa por uma vaga na Alep. Destoando da velha política paranaense (hereditária, casuística, sempre intimada à sombra do poder), o jovem parlamentar do Partido dos Trabalhadores revelou-se uma excelente novidade. Passou a dar voz e vez aos sobreviventes de um colonialismo que não se acaba, aos grupos sociais silenciados pelo elitismo dos esquemas oficiosos, às ideias que promovem o valor da verdadeira democracia, da igualdade, dos urgentíssimos espíritos revolucionários. Em poucos meses como deputado, balançou a calmaria dos conchavos, denunciou a mentira do negacionismo, expôs a hipocrisia daqueles que se vendem sem constrangimento. Freitas traz à luz, em sua atividade de abrir as vísceras da política paranaense, uma velha máxima do saudoso Barão de Itararé: “Aquele que se vende sempre recebe muito mais do que merece”.


Quando decidi pelo voto em Renato Freitas, sabia que minha opção seria em prol de um corpo e de uma voz em defesa da educação, da cultura, da ciência e das políticas públicas por justiça e solidariedade. E eu também estava convicto de que meu deputado lutaria contra a corrente, mesmo que se sentisse um peixe fora d’água. Decerto, é complicado ser julgado e injuriado por aqueles que carregam nas costas o atraso, o horror, o inaceitável em termos históricos. Como ato de coragem cidadã, sou Renato Freitas e me desmancho de orgulho disso. Ele representa o Paraná que merece, enfim, um lugar ao sol.