Reação ao abafa
Hoje há mais possibilidade de "melar" a Lava Jato do que antes e até o fluxo judicial o comprova: na fase aguda, tivemos o caso Eduardo Cunha, com sua destituição da presidência da Câmara Federal e de sua prisão, cujo primeiro ano foi recentemente celebrado, e isso por unanimidade, entendimento que não prevaleceria nas medidas aplicadas em Aécio Neves, o que revela a ausência de ordenamento jurisprudencial na Suprema Corte. Aquilo que era um referencial paradigmático de um ciclo contra a impunidade e a corrupção acabou diluído com a passagem do tempo e uma visão mais política do universo jurídico.

É grande a euforia na classe política, expressa nos mais de 43% dos votos na CCJ em favor do presidente Michel Temer envolvidos nas tramas da Lava Jato. É a defesa em causa própria hoje identificada na figura do denunciado que, como todos os outros, se queixa dos excessos na onda de criminalização da política. Como parte do Judiciário se acopla à linha, há motivos para festejar um possível breque para valer no momento até então tido, pelos que não se envolveram na trapaça das propinas como meio de sobrevivência, como um sinal de esperança de que o Brasil se veria livre, em breve, da corrupção e da impunidade que o caracterizam.

Como rareiam hoje as cenas fortes (o Rocha Loures em corrida com a mala e o Geddel apanhado com a fortuna), o ciclo punitivo perde densidade quase como uma tela de pintor impressionista, já que a rotina dos julgamentos finais dos processos mexe com figuras de menor representatividade apanhadas em falcatruas na Petrobras. Também se tornaram mais comuns as revisões de primeira instância no Tribunal da 4ª Região em Porto Alegre.

Mesmo em "troféus" do ciclo como Eduardo Cunha, agravado com a delação de Funaro, e Sérgio Cabral que deve deixar o presídio carioca por um federal, não há perspectiva de novidade contundente, o que explica a perda, segundo o Instituto Ipsus, de confiança do público na Lava Jato com 40% entendendo que tudo termina em pizza.

Depois de desempates, como os da ministra Carmen Lúcia no caso do ensino religioso em escola pública e na questão das medidas cautelares contra parlamentares estarem sujeitas à ratificação ou retificação pela respectiva casa do Congresso e a manifesta rejeição da denúncia contra o presidente da República, percebe-se claramente que a contraofensiva dos políticos está a pleno vapor e a justificar a euforia dos indiciados e referidos como se estivesse a ponto de aflorar algo com as características de uma anistia num acordão, nunca num acordam.

Fim da marca
A Walmart anuncia para 2021 o fim do uso da marca Mercadorama nas unidades ainda existentes na rede. A empresa paranaense da família Demeterco, listada à época entre as dez do país, foi absorvida primeiramente pelo grupo português Sonae. Ao longo do tempo, perdemos por fusão ou absorção e também extinção a Hermes Macedo, maior loja de departamentos da América Latina, a maior moveleira do Móveis Cimo, gigantes em transporte interurbano como a Nossa Senhora da Penha.

A marca Mercadorama ainda tem um forte apelo pela evolução do grupo Demeterco que com suas lojas da Praça Tiradentes e também a torrefadora de café Galgo construíram uma história de sucesso.

Doação
Mãe de 80 anos e dois filhos de 60 e 52 anunciam a doação dos respectivos corpos para estudos de Medicina na Universidade. A notícia circulou ontem e deu margem, como sempre, a muita polêmica.

Mais um
Pelo jeito, está fechado o cerco e terminado o caso daquele gerente do Banco do Brasil, contador e um empresário que operaram com a conta de clientes. É que teria se apresentado à polícia ontem o outro envolvido. Houve também evento parecido na Caixa Econômica.

Voto religioso
Tanto católicos como evangélicos têm maioria no PT, segundo pesquisa Datafolha que analisou a influência do voto religioso nas eleições brasileiras. Conclusão: orientação fundamentalista só guia dois entre cada dez brasileiros. O fato, porém, é que a bancada evangélica é muito atenta e não apenas em questões como aborto em que faz frente comum com católicos e se envolve em matérias comportamentais e educativas de forma permanente.
Desde a redemocratização mais antiga, que veio com a Carta de 1946, tínhamos, quando a hegemonia católica era indiscutível, um organismo denominado Liga Eleitoral Católica que tentava orientar o eleitorado. Por exemplo, no pleito de 1950, que elegeu Getúlio Vargas, o veto era mais ao seu vice João Café Filho, por suposto agnosticismo, e não pegou. Mas foi a pressão religiosa que levou Nelson Carneiro, jurista e defensor do divórcio a uma luta de décadas enunciada, preliminarmente, pela legislação dos direitos da companheira. Pelo jeito a trajetória do aborto terá um roteiro diferenciado.

Folclore
Irreverência religiosa era comum no passado em nossos carnavais: a teoria criacionista era satirizada com "Papai Adão já foi o tal// hoje é Eva quem manobra// e a culpada foi a cobra// Uma folha de parreira // uma Eva sem juízo// uma cobra traiçoeira// lá se foi o Paraíso!". E havia outra mais aguda: "A história da maçã é pura fantasia// maçã igual aquela papai também comia".