Sintomas razoáveis
Não fosse o peso da delação da JBS, com todas as suas implicações, Michel Temer estaria em condições de pilotar o processo das reformas, podendo até, de um momento para outro, pintar como candidato da linha centro-direita, ainda mais se emplacar a Previdência. Há um vazio de tal extensão e profundidade que até isso seria imaginável, ante a escassez de alternativas para a população, afora as precárias já postas.

As contingências do momento indicam melhoras apreciáveis no cenário, especialmente com o registro da primeira alta no comércio varejista em 12 meses desde abril de 2015, ainda que com o tímido percentual de 0,3%. Já se trata de uma escalada, a sétima alta, correspondente a 2,5% em outubro sobre o mesmo período de 2016. Como temos ainda a queda da inflação, a melhora no PIB e discreta reação no mercado de trabalho, tudo coopera para manter em alta a predisposição para a vitória na questão previdenciária, que completaria o ciclo.

Nada, porém, garante coisa alguma, bastando lembrar que o PSDB fechou questão a favor da reforma, mas não se indisporá contra os que votarem contra. É esse tipo de vacilo que mancha o clima da área reformista. De outro lado na batalha da informação, o primarismo: Michel Temer desmente o próprio líder, senador Romero Jucá, no sentido de que a reforma ficaria para 2018, porém se admitem dificuldades ainda que o projeto de consenso seja colocado em debate de forma imediata na sustentação do clima de emergência e sufoco.

Saque irregular
O saque de R$ 692 milhões do fundo de pensão municipal de Curitiba é considerado por uma auditoria do Ministério da Fazenda irregular e inaplicável. Até hoje o caso correlato da ParanaPrevidência, com a retirada de R$ 2 bi anuais, não foi julgado, ainda que tenha parecer favorável da Procuradoria da República. Se estivesse para ocorrer, seria o caos, como se isso já não tivesse provocado o massacre de abril, com mais de 200 feridos, e aquele processo do MP de improbidade, que bateu na trave, inocentando Richa, seus secretários e operadores da Segurança.

Homofobia
Um casal faz campanha pública a condenar o comportamento de vizinhos homossexuais e na hora do enquadramento há dificuldades para definir a tipicidade do delito apontado. Questões como essa – de discriminação de gênero, opção sexual ou racismo - exigem o chamado desforço imediato. Estranhável que haja tanta dificuldade de caracterização, ainda mais quando os ofensores agem abertamente.

Meio-campo saturado
E tivemos a continuidade do debate no STF se a Polícia Federal e as civis podem atuar nas delações, velha pendência em que a Procuradoria Geral da República entendia ter exclusiva prerrogativa. Com muita gente no meio de campo, saturando-o, vai dar conflito. De todo o contingente, o menos apto a esse tipo de operação é a civil, condicionada a atuar sem qualquer mínimo de autonomia, dado o seu histórico de subordinação.

A Polícia Federal ganhou consistência estamentária e possui quadro em condições de um debate doutrinário sobre o tema com os procuradores, o que não tem impedido setores de vanguarda de pleitear maior raio de autonomia. Cautelas devem ser tomadas em apoio à decisão, para evitar comprometimento das delações que possam abrir caminho para gerar nulidades e detonar todos os ganhos, ao longo do tempo, com o instituto. Paralelismo e superposições são deformações do burocratismo, capazes de aflorar com toda força.

Aposta de Lula
O tatame tem dois lutadores: Lula e Sergio Moro. Esse raciocínio maniqueísta e conflitivo é o cenário exposto pelo ex-presidente, como se a luta do magistrado fosse pessoal e não afinal respaldada em provas testemunhais e documentais sobre seus atos de improbidade e de comprometimento entre empresários e estatais. Da mesma forma que o diagrama da esquerda coloca o "nós" contra eles, e às vezes até buscando a tensão da luta de classes, a oratória se faz cada vez mais radical e o processo criminal é olhado apenas e tão somente como o ato de impedir a sua candidatura presidencial, como se essa fosse a obsessão das elites, que não desejam que o povo tenha três refeições ao dia. Promete brigar até as ultimas consequências, valendo-se do vitimalismo, velho tique da praça, e já conta com o apelo de José Dirceu, que pede convocação da militância em 24 de janeiro. Só que a imagem de guerrilheiro travestido em lobista abate um pouco o personagem, lembrando um Robin Hood que toma dos ricos, mas esnoba os pobres.

Safra de sangue
Cada vez mais acidentes nos contornos rodoviários da Grande Curitiba: na quinta-feira, só no Contorno Norte, três ocorrências fatais. Dada a intensidade do movimento, há muito a fazer de novo em matéria de sinalização, fiscalização e matéria educativa para tentar reduzir a sinistrose.

Folclore
A discussão no PT é basicamente a de manter a candidatura de Lula de qualquer jeito, até para sugerir que esse é o propósito das elites - o de impedi-la. Ainda que condenado e preso, manteria a postulação. E se ele, Lula, não resistir, aí ele dá uma de Quincas Berro D'água, que mesmo falecido continuou a romaria em botecos e boates na saga de Jorge Amado.