Bom devoto, mal de voto
O ministro Henrique Meirelles, da Fazenda, já disse que o governo terá candidato centrado no legado de Michel Temer e que ele não será Geraldo Alckmin, e modestamente se coloca disposto ao sacrifício: o de postulante presidencial das reformas, acreditando até que por lá pelo segundo trimestre de 2018 o horizonte econômico do País será outro, com sinais da retomada do crescimento.

Ora, Meirelles é o candidato mais ajustado ao mercado e aos seus impulsos nem sempre coerentes, mas tem cotação muito abaixo da Bolsa nos 2% de intenções do Datafolha. Que ele é o maior devoto das reformas não se discute, todavia até aqui, pelo menos, ruim, muito ruim mesmo, de voto.

O veto a Alckmin é projeção de consenso interno e fidelidades e Temer já mostrou o cartão vermelho ao PSDB por seu pendularismo em relação ao mandato presidencial e ausência de firmeza em relação às reformas, notadamente a da Previdência.

Faciap insiste
A Faciap (Federação das Associações Comerciais e Empresariais) pleiteou, mais uma vez, a retirada do projeto, e sua reelaboração, na questão do ICMS das micro e pequenas empresas. Reproduzindo o clima do regime militar e das soluções tecnocráticas no exercício da pressão, o governo deu ordens expressas para a sua bancada legislativa aprová-lo o quanto antes, se possível, na base do tratoraço, por se tratar de compromisso na negociação das dívidas com a União e no indispensável ajuste regulamentar.

Se a matéria passar, restará o recurso ao Judiciário, com baixa perspectiva de êxito. De outro lado, se dá o mesmo no município da Capital, tanto que a alta do ISS, sinal do desespero fiscal, passou tranquilamente. Discute-se, por exemplo, se tem sentido suprimir a imunidade dos planos de saúde na cobrança do ISS. Do jeito que a coisa está, ceguinho que toca acordeão nas ruas vai acabar pagando ISS também, desde que autorizado com crachá da Fundação Cultural.

Natal
Aposta-se nos efeitos financeiros do Natal de Curitiba, um dos nossos poucos eventos presentes em calendário nacional. Reproduções na televisão dos espetáculos do Palácio Avenida estão assegurando o fluxo de pacotes turísticos e há a previsão, entre os técnicos da prefeitura, de que haverá uma renda de R$ 130 milhões daí decorrente. Passeios turísticos em ônibus especiais dão claramente essa indicação, bem como a movimentação nos hotéis.

Londrina x Curitiba
Londrina tomou uma decisão inaplicável em Curitiba: a proibição de consumo de bebidas nas ruas, bossa dominante nos botecos e bistrôs da cidade, especialmente no bairro São Francisco, lançador da moda hoje generalizada, com a clientela usando a calçada e os meios-fios como continuidade dos estabelecimentos. A Abrabar, que tem horror de qualquer fecha-bar, exerce a reação no segundo polo urbano do Paraná.

Pois agora vem mais um desafio no projeto da vereadora Maria Letícia Fagundes, que autoriza a prefeitura a fechar os bares que perturbam o sossego e agridem o meio ambiente. Já a ideia de interditar o consumo de bebida na rua daria mobilização de milhares de botequins. E quem correria o risco de fazer a sessão na calçada (como já fez na Ópera de Arame) seria a própria Câmara Municipal, levemente constrangida.

Pesquisa
Dá para confiar em pesquisa eleitoral? É a pergunta que se faz quando o Datafolha mostra Celso Russomano, pela enésima vez, liderando a sondagem ao governo paulista. Isso já ocorreu inúmeras vezes e a "fotografia do momento", lá na frente, na hora do vamos ver, não passou de inútil e tediosa repetição. Russomano em primeiro, com 25%, João Doria em segundo, com 19%, e Paulo Skaf, da Fiep, com 13%.

Respingados pela Lava Jato aparecem com altos índices de rejeição, como Gilberto Kassab, com 41%, e José Serra, com 40%. Essa rejeição a José Serra tem sido usada como argumento para desaconselhá-lo de aventura eleitoral, mesmo que tenha condições plenas de superar as denúncias apresentadas nas delações.

OAB
Pegou mal para a Ordem dos Advogados do Brasil o vazamento de posições do conselheiro Flávio Pansieri, primeiro contra e depois favorável às ações da Procuradoria da República em cima do presidente Michel Temer. Estranhou que a instituição levasse um ano e meio para tomar posição sobre o impeachment de Dilma Rousseff e entrasse de sola no atual governante rapidamente, em apenas quatro dias. A postura contraditória leva à suspeita de mediação política indevida, que no caso a OAB nacional não soube preservar. E o Palácio do Planalto comemora isso como prova de armação.

Folclore
Nem sempre a OAB tem posições consistentes sobre temas em debate: Juliano Breda, presidente da regional e criminalista, era a favor da tese de que o inquérito policial é exclusivo da polícia, o que com a rebelião das ruas de 2013 perdeu o embalo, favorecendo o Ministério Público na aprovação dessa prerrogativa.