Tudo sob avaliação
Vivemos no Brasil um momento crucial: todas as instituições se encontram em processo de avaliação e isso tem tal capilaridade que coloca em xeque até as profissões, especialmente as de juiz, promotor, delegado de polícia e advogado. Se a denúncia contra Michel Temer tem algumas deficiências com forte lastro em delações premiadas, a resposta da defesa também é mais retórica do que técnica e doutrinária. A analogia entre a figura do procurador com a de um pistoleiro e dita em nome de clientes tão vulneráveis é a medida de um ato de recusa à inteligência.

Ao mesmo tempo, tivemos uma decisão - no mínimo produzindo espanto - do STF (não é a primeira, pois aquela do ensino religioso implica em recuo numa perspectiva mínima dos ideais republicanos) que admite, talvez em nome da moral pública e do ativismo punitivo do momento, a retroatividade nos casos de burla à Lei da Ficha Limpa. Essa agressão a um dos fundamentos básicos do Direito não foi aceita pela minoria no placar de 6 a 5.

Valores colocados em jogo desse porte dão a entender que o espírito da punição em nome de uma nova ordem de pensamento voltada para expungir o mínimo sinal de impunidade está em pleno curso, tendendo a transformar-se em cruzada. Nem sempre é de concordar-se com as posturas do ministro Gilmar Mendes, mas aquela advertência feita, dias passados, de que o STF corre o risco de enquadrar-se num esquete dos "Trapalhões" não deixa de ter procedência.

Há, porém, um lado positivo nesse ciclo (insisto em que não vê-lo como uma era até porque não temos uma ideia do produto final desse debate) que está justamente no monitoramento de tudo pela sociedade, graças hoje ao império de uma nova etapa tecnológica das nossas comunicações no ruído, por vezes anárquico, das redes sociais. Esse alude de informação, mormente a de traço político, impõe o engajamento de todos e numa hora adequada por dar sinais de tão decisiva e ruptura.

Mais exegese
Decisões como a do ensino religioso e essa da Ficha Limpa se dão num instante em que a hermenêutica (a interpretação do texto), mais do que a imanência imediata da lei, é posta em questão. Como a matéria, essa da Ficha Limpa é tão controversa que há necessidade de discutir o seu alcance e como possa a ser aplicada em outras instâncias judiciais. Dá para imaginar o número de demandas no ambiente passional dos municípios.

De repente, cada decisão conflitiva exigirá um tipo de adendo para que a sua exegese não leve a transbordamentos. Coisas nossas como a jabuticaba e a banda dos fuzileiros navais.

Contornos
Contornos rodoviários surgiram como garantia de regulação principalmente dos veículos de carga nos centros urbanos. Todos os montados no anel rodoviário de Curitiba demoraram muito e geraram problemas já no andamento da execução. Volta e meia há neles enormes engarrafamentos e acidentes como um ontem, pela manhã, no Contorno Sul, entre uma carreta e dois automóveis com um morto e dois feridos e um bloqueio de horas da rodovia.

Vem aumento, sim
Um jogo solerte de semântica tenta dissimular o aumento tributário que vem aí e atinge micros e pequenas empresas. A Federação das Associações Comerciais e Industriais denunciou, já o governo frisou que não é bem assim, mas que há um ajuste a providências nacionais em relação à negociação das dívidas dos Estados com a qual estamos comprometidos. Mauro Ricardo Costa, o secretário da Fazenda, promete que manteremos descontos e subsídios. Está aí, como tenho dito, a fancaria do oásis fiscal.

Estamos, com todas as medidas fortes adotadas e que pelo jeito não terminaram, a um colapso dos serviços públicos na hipótese da expectativa de aposentadorias sem a menor perspectiva de reposição de quadros em setores como a polícia civil, Procuradoria do Estado e tantos outros organismos, pois não há dinheiro para concursos públicos .

Interessante a reação da Faciap, normalmente aberta ao diálogo com o governo, que saiu um pouco do tom. Há muito tempo a Associação Comercial do Paraná perdeu o traço crítico e sua relação normalmente é de cordialidade. Às vezes contundente, dos tempos da Guerra Fria, quando era dirigida tanto por Oscar Schrap Sobrinho (que chegou a pregar o não pagamento de impostos e ameaçado de enquadramento na Lei de Segurança Nacional) como por Carlos Alberto de Oliveira, este por muito mais tempo. Quando Lerner tentou leiloar a Copel, houve a sua derradeira reação mais articulada. Normalmente, aliás tanto a prefeitura da capital quanto o governo estadual levam previamente suas intenções ao plenário da entidade.

Crise
Novamente, a Santa Casa de Colombo se vê ameaçada de novo fechamento. É que a prefeitura não faz os repasses para sua sustentação e funcionários da instituição, que delas dependem, estão há quatro meses com salários atrasados.

Folclore
Num agito, comum nas épocas de estiagem com o aumento subsequente da carne em função dos pastos ressecados, a polícia transbordou e prendeu vários estudantes que protestavam contra a carestia e que davam cobertura à invasão dos açougues. A massa estudantil se deslocou ao Palácio São Francisco. Lá dentro, o chefe da Casa Civil, Milton Carneiro, sugeriu ao governador Munhoz da Rocha que recebesse o estudante. Versões da época dizem que Bento teria feito com os braços o gestual de uma banana ao conselho do seu amigo de tertúlias filosóficas e foi o suficiente para que a oposição explorasse a especulação. E não faltou quem lembrasse que se faltava carne sobrava banana.