A cidade refém
Várias decisões judiciais em favor das empresas do transporte coletivo, impedindo-as de renovarem suas frotas enquanto não se restabelecer o equilíbrio financeiro da operação, têm o peso de uma carta de alforria. Fazem ainda a ameaça de devolver tudo à prefeitura, seguida de uma ação indenizatória por perdas e lucros cessantes. É sob esse fogo que Curitiba se tornou refém do cartel.

E a forma como foi concedida a última tarifa, a um preço sideral, deu a impressão que o poder concedente não reagiria. Noticiou-se ontem finalmente que a prefeitura entrou com recurso contra a liminar que a condenou à impotência, mas não se percebe "punch" por parte do município nessa controvérsia. Nunca houve tantos fatos defensivos como agora em favor dos usuários: uma CPI, que a atual Câmara não se dispõe a dar continuidade; uma auditagem do Tribunal de Contas sobre o sistema e ainda o pleito da Corte de baixa da tarifa, derrubado no Judiciário. Pela vez primeira havia uma carga razoável de fundamentos técnicos e políticos em favor da população.

Até hoje não se fez uma perícia, judicial ou administrativa que investigasse a fundo a questão. Em quase todo o país a questão acabou na Justiça como se dá com a do Rio de Janeiro numa das mais recentes etapas da Lava Jato ou em outras unidades investigadas por ações dos gaecos, nas quais o nosso esteve envolvido e detectou anomalias em Guarapuava, Maringá e Foz do Iguaçu no respeitante às respectivas licitações.

Favorecido por decisões judiciais, o cartel argumenta que apesar da crise haveria apenas 239 unidades com vida útil vencida. Ainda ontem caiu a porta de um ônibus enquanto fazia manobras no terminal de Santa Cândida. É visível a degradação da frota e nisso se evidencia o colapso do sistema que já foi apontado como modelo para o Brasil e o mundo.

Outra evidência do colapso total está no problema da criminalidade com os sequestros e arrastões no interior dos ônibus, nos terminais e nas estações tubo, tema ontem debatido à tarde na Câmara Municipal e para o qual não há uma resposta eficaz ante a falência do aparato de segurança.

Intervenção
O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), da lei anti-trust e para garantir a concorrência, a pedido da Infraero, abriu investigação contra as casseterias nos aeroportos. Apesar das irregularidades já apuradas no transporte coletivo, principalmente essa do Rio de Janeiro no propinoduto que favorecia o ex-governador Sergio Cabral e solicitações, como uma de Curitiba, para apurar se há ou não a cartelização no oligopólio empresarial, do qual até hoje não se soube de qualquer resposta.

Dificuldades
Como o pacote fiscal de Beto Richa mexe na questão das gratificações, como a clássica de Tempo Integral e de Dedicação Exclusiva, haverá trombada com a APP Sindicato e agora porque não houve um mínimo de consulta prévia. Já está criado o clima de turbulência que se expressará, como sempre, pela ocupação das galerias. Vai também mobilizar universidades estaduais que discordam do Meta 4, que obriga a prestação de contas, da concepção que o governo tem e pretende impor no regime de gratificações .

Melhora
Depois de meses de queda, tivemos uma alta de 0,5% na produção industrial paranaense em junho relativamente a maior. No semestre acumulou 2,5% e ficou, segundo o IBGE, em quarto lugar no Brasil atrás de Espírito Santo (4,5%), Rio de Janeiro (3,6%), Santa Catarina (3,3%). Há quem veja aí sinal de retomada da economia notadamente porque havia uma sequência negativa do primeiro trimestre. No Paraná, os setores em destaque em junho foram máquinas e equipamentos, veículos e bebidas. O avanço referido do semestre é em relação ao mesmo período de 2016.

Mais crise
Há uma crise de pessoal no governo e que se tornará mais aguda quando se consumarem as aposentadorias, até aqui represadas pela ParanaPrevidência que não reconhece o último nível, o 11, das progressões que alcançam policiais e professores. A convocação de pessoal da reserva da Polícia Militar e mais o desestímulo a aposentadorias expressam bem isso. A evasão em massa de pessoal da Defensoria Pública para a capital (as classes jurídicas estão com notória deficiência) desfalca as delegacias do interior. Nada menos que catorze servidores são deslocados para a capital e as delegacias afetadas são as de Cascavel, Umuarama, Foz, Matinhos, Paranaguá, Francisco Beltrão, Campo Mourão, Guarapuava e Cianorte.

E o governador sugere que não há crise e que os ajustes dão certo.

Uber em paz
Na comissão de legislação, ontem, na Câmara Municipal da capital, decidiram derrubar as propostas sobre o Uber e demais aplicativos, prevalecendo o rigor do decreto de Greca que regulou o assunto.

Folclore
A defesa acusar que o promotor ou o juiz tem interesse pessoal em prejudicar o acusado é um dos mais primários recursos judiciais, mas os gênios que defendem o atual presidente e o mais antigo se valem desse argumento. Arguir a suspeição do procurador da República e esquecer a conversa pouco republicana do presidente com o homem da JBS é estarrecedor, uma opereta.