Haja filtro

O esforço do governo para negar a crise é notório: agarra-se em fio desencapado para mostrar vitalidade e quem o ajuda, de forma estratégica nessa tarefa, é o Ipardes na interpretação de indicadores macroeconômicos e na constante analogia entre dados nacionais e suas médias e os paranaenses que, sob qualquer governo, bom ou ruim, quase sempre se revelam superiores. Agora até o movimento nos transportes é posto como fator valorativo no registro de que o tráfego de veículos cresce 8,1% aqui e apenas 5,1% na média nacional. E com um detalhe, mostrando a face diferenciada nossa num quadro recessivo: só o Paraná apresentou aumento de fluxo de veículos pesados (2,9% e 0,1% em junho de 2016 e 2017) muito vinculado à performance industrial e ao desempenho da supersafra.

A melhora é discreta conforme o índice ABCR da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias divulgado anteontem. No acumulado do ano, o Paraná tem 2,1% de crescimento, São Paulo 0,3% e Rio -3,1%.

Com todo o processo de pasteurização, o governo continua fazendo chantagem com obrigação que não pagou (os atrasados em progressões e promoções) utilizada para negar condições ao Tesouro de conceder qualquer aumento ao funcionalismo, restrição apenas ao Executivo, já que os demais poderes as obtém regularmente. Vale-se, portanto, da inadimplência, fruto da má gestão, e prova concreta de que o ajuste fiscal é uma farsa, no qual o fator de maior peso para confirmar a maquiagem continua sendo o R$ 2 bi anuais saqueados do fundo de pensão, ao qual se referiu ainda ontem em entrevista à CBN Curitiba um dos criadores mais atuantes da ParanaPrevidência, Renato Folador, e reafirmaram integrantes da retaguarda técnica do Tribunal de Contas.

Se as resistências que está encontrando da parte das universidades estaduais, submetidas ao bloqueio de recurso há mais de um mês, se aguçarem e a APP-Sindicato cumprir o prometido em mobilizações e possível greve para destravar o reajuste automático, dificilmente Beto Richa terá condições de deixar o Palácio Iguaçu para disputar o Senado.

Até no Senado

Algumas senadoras, dentre elas a nossa Gleisi Hoffmann, Vanessa Graziottin e Fátima Borges ocuparam na marra a Mesa do Senado e conseguiram, à maneira dos sindicalistas municipais de Curitiba, impedir a votação da reforma trabalhista e que só permitiriam a continuidade da sessão se fosse admitido o ingresso das centrais sindicais nas galerias. Percebe-se o absurdo do país que entrou num ciclo de anomia: para barrar o funcionamento da Casa apela-se para a ação direta, faltando apenas para completar a farsa a intervenção de black blocs. É resistência civil, ato de ruptura, revolucionário, motim, em que pese seu aspecto de burla.

Negociações - um absurdo, mas um fato real - se desenvolveram para que as guerreiras entregassem a trincheira com alguns querendo vítimas e martírio para esgarçar ainda mais o governo encurralado e em estado terminal.

Radicalismo direitista

Um militante direitista, Eder Borges, filmou uma exposição no campus da Federal no litoral para fazer seu exercício retórico de defensor da ordem, usando as imagens como prova de que a subversão política é a marca do ambiente. Primarismos à direita como esse e à esquerda como o da ocupação da Mesa do Senado são a marca do momento que nega o raciocínio das pessoas rumo à bestialidade e, de repente, ao terror.

Solidariedade

Caminhoneiros solidários à Polícia Federal, ante as restrições orçamentárias que prejudicam as suas atividades, fizeram intensas manifestações ontem em Curitiba em Santa Cândida e nas estradas.

Pró-Lula

O Ministério Público, através do procurador Ivan Claudio Lopes, do Distrito Federal, pediu o arquivamento do processo contra o ex-presidente Lula por obstrução da Justiça baseado em relato do ex-senador Delcídio do Amaral.

Trailer

Nas redes sociais o trailer sobre o documentário cinematográfico da Lava Jato, hoje não mais centralizada na República de Curitiba e promovendo ações no Rio, São Paulo, Brasília.

Credibilidade

Depois de exposto em suas tramoias, às vezes ajudado pela mulher advogada, como o povo recebe a negativa de Sergio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro, dos 5% de propina que teria recebido de cada uma das obras? Diante do juiz Marcelo Bretas, a ênfase da inocência dificilmente pega. Acusados da Lava Jato, que não contestam acusações na hora, levam clara desvantagem. É duro colar essa negativa.

Folclore

A crise com as universidades estaduais, ainda mais se ligada a manifestações da APP-Sindicato, pode, se prolongada o suficiente, não só impedir a candidatura de Beto Richa ao Senado como dificultar, se isso não ocorrer, a de Cida Borghetti pela reeleição. O confronto é inevitável. São obstáculos programados já que é difícil uma composição na alegada falta de alternativas dos porta-vozes do Centro Cívico. E depois dizem que o Paraná é uma ilha no país quebrado.