"Se no processo de impeachment de Dilma Rousseff, apesar da certeza absoluta na vitória, foram respeitados todos os rituais, a troco de que não se fará isso agora?"



Acredite se quiser

É tão sinuoso o cenário político que as supostas dificuldades que Michel Temer teria na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados, nas bancadas do PSDB e PMDB, soam como artifício para valorizar a postura de negociadores. Sugere-se que dos sete deputados que o PSDB detém na CCJ apenas um votaria a favor do presidente e ainda que dos cinco deputados do PSD haveria uma decisão de três votos a dois. Esse aumento súbito das dificuldades cresce com o fato de a PGR querer o fatiamento das demandas e também das decisões do presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, no andamento dos rituais a evitar o atendimento da pressa desejada pelo presidente.

Enquanto o governo quer celeridade para liquidar a fatura o quanto antes, reduzindo o nível de desgastes, outros pretendem justamente o contrário para que tudo pelo menos pareça mais republicano: se no processo de impeachment de Dilma Rousseff, apesar da certeza absoluta na vitória, foram respeitados todos os rituais, a troco de que não se fará isso agora? Surfando no clima, Rodrigo Maia tenta mostrar-se distanciado dos interesses em jogo e reage ao pleito de aceleração do rito na pretensão de unificar as acusações.

Se no caso das reformas e a pretexto de preservá-las, ainda que desfiguradas, o governo se transformou num balcão de negócios, dá para imaginar o que poderá acontecer em questão vital como essa. Apesar da reconhecida capacidade de negociar do presidente, que nunca foi negada, sabe-se que as dificuldades serão cada vez maiores. Daí porque raios de autonomia suscitados num momento dramático ganham relevo como se os seus participantes tivessem noção de que estão escrevendo um capítulo-chave da história brasileira.

Como o desempenho da política brasileira como ciência e arte não é lá muito decente, e isso especialmente no ciclo atual, é dificílimo acreditar nos seus agentes que à moda firme de Taleyrand entendem que a palavra foi dada ao homem justo para dissimular seu pensamento.

Pontinha

Nunca os paranaenses tiveram tanto protagonismo em crise nacional como agora, uns em papéis centrais como Sérgio Moro, ministro Edson Fachin ou em posturas pesadas como a de Rodrigo Rocha Loures e outros em papéis menores como o do primeiro secretário da Câmara, Fernando Giacobo como emissário da notificação ao Planalto.
Na queda de Jango, tínhamos o Ministério do Trabalho ocupado por Amauri de Oliveira e Silva, que capitaneava as ações reformistas como a da sindicalização rural, um dos atos mais fortes que radicalizou as ações à direita, e na tragédia de Vargas em 1954 o líder da bancada era o advogado paranaense Vieira Lins.
De todas a mais decantada ainda é a da resistência da Lapa em 1894 como fortim ao avanço dos rebeldes da Revolução Federalista do guerrilheiro Gumercindo Saraiva.

Confiança

Procuradores da Lava Jato em Curitiba divulgaram nota em que depositam a máxima confiança na procuradora Raquel Dodge que substituirá Rodrigo Janot e que tem todas as condições para manter a linha atual da Procuradoria da República em sua ação institucional contra a corrupção. Não há espaço hoje - e isso vem desde o nível de autonomia concedido ao Ministério Público pela Carta de 1988 - para o retorno dos tempos em que o peso da instituição era amortecido pelas pressões políticas. As primeiras declarações da futura procuradora foram em defesa da ação institucional em operações como as da Lava Jato.
Na política interna da PGR, Raquel tinha divergências com Janot, daí porque foi uma das que polarizaram a lista aparecendo em segundo lugar.

Vôlei

Com Lerner no governo, tivemos o período áureo do vôlei feminino com o Centro Rexona sob comando de Bernardinho. Tornamo-nos um centro de excelência várias vezes campeão. Com o governo Requião, os estímulos desapareceram e a decadência é de tal ordem que o próprio ginásio de esportes do Tarumã entra em desagregação e é abandonado e só agora, no segundo mandato de Beto Richa, recuperado. O apoio da rede Madero é a base de tudo e a orientação técnica fica por conta do olímpico Giba.

Greve

Greve geral sem respaldo do setor de transporte de massa, como se viu ontem, não pode sequer aparentar vitalidade como se deu com a anterior. Se aquela fosse despojada desse fator teria sido um fiasco. Centrais sindicais perceberam que devem fazer o esforço final contra as reformas trabalhista e previdenciária quando a matéria for votada no Congresso Nacional já que elas se transformaram no único aval do empresariado a Temer.

Elevadores

Num edifício da José Loureiro, no centro da capital, um elevador caiu e vitimou uma senhora de 61 anos. A rotina do transporte vertical é dependente da manutenção especializada, o que nem sempre se dá nas revisões.

Folclore

Causa mortis dos anos 50 afirmada por médico em Curitiba: "Tosse. E que tosse!".