"O discurso de Michel Temer contra as ações da Procuradoria da República lembra, em parte, o silêncio de Lula, ambos afinal explorando um velho complexo brasileiro, o do vitimalismo"

Anti-herói consagrado
Com pouco mais de sete pontos, com tendência declinante a zerar, de créditos na opinião pública, atacado por todos os lados como corrupto, ainda assim o presidente Michel Temer se mantém como derradeira esperança da classe política ante o furor da Lava Jato. E isso se verá claramente na forma como a classe política reagirá, em bloco, em favor do governo trancando a marcha da denúncia da Procuradoria Geral da República no Parlamento, mesmo que sob o filtro do Judiciário. Acumulando mancadas como a idiotice de revelar a identidade do homem da CIA no Brasil ou de chamar a Rússia de soviética e confundir a Noruega com a Suécia, acautela-se, porém, na hora de cunhar frases de resistência como a de que não pararão o governo ou ainda a de que nada o destruirá.

Virou o porta voz final da fauna que tem feito da corrupção um ecossistema, transformou-se naquilo que todo político aspira – a de encarnar a esperança, no caso a derradeira, a final. Sua força está no tamanho da adversidade e na ameaça comum hoje presente de combater e abolir a corrupção, sem a qual o sistema dominante não funciona.

Por isso, se pode dizer tudo dele, menos que não tenha convicção. Encurralado, sua resistência nada tem de pessoal, mas de um sistema pelo qual vale a pena lutar, correr riscos, mas com chance real de vitória porque afinal estamos no Brasil, universo de Macunaíma. Claro que a derrota política da denúncia não afasta a crise, todavia sustenta o predomínio dos políticos num momento em todos estão ameaçados pelas denúncias e a maioria esmagadora quer ver extinta, eliminada, a ameaça candente da Lava Jato.

O discurso de Michel Temer contra as ações da Procuradoria da República lembra, em parte, o silêncio de Lula, ambos afinal explorando um velho complexo brasileiro, o do vitimalismo. O fato é que Lula, hoje liderando as intenções de voto no Brasil, tem a imagem mais forte de perseguido como se Sérgio Moro fosse o inspetor Javert de Victor Hugo. Já Temer faz o papel de salvador da classe política, pela primeira vez enfrentada pela Justiça.

Custo malefício
O agito das votações do pacote fiscal de Rafael Greca, ontem finalizado, apesar dos oito itens ainda que passarão pelo crivo da Câmara podem levar à suspensão do recesso (há uma ala forte contra açodamento por parte do Executivo), dá para um confronto com o massacre de Beto Richa em termos de resultados numa avaliação de custo-benefício (ou malefício). O ônus do servidor municipal (isso sem considerar que a Justiça devolveu os R$ 600 milhões ao IPMC) é menor ao perder apenas alguns meses de reajuste quando os do Estado dançaram por duas vezes seguidas, também nas perdas previdenciárias se situa melhor, já que os R$ 2 bi anuais que o fundo de pensão estadual perde o descapitaliza fortemente. Quando à estatística de vítimas, a de agora mal chega a 10% das havidas sob o comando Francischini no Centro Cívico.
Definida a derrota, a greve perdeu empuxe e as tentativas derradeiras de cercar e constranger a prefeitura se mostraram frágeis. Os vereadores é que não suportariam encarar sequência de desgaste com novas votações e se mostram estressados. Daqui para a frente, a pressão funcional deve reduzir-se consideravelmente até porque a greve não decolou.

Recurso
A decisão do Tribunal de Justiça de ratificar a liminar da primeira instância que considerou anômala a apropriação pela Prefeitura de Curitiba dos R$ 600 milhões do IPMC (que já havia sido criticada por órgão fazendário vinculado à Previdência) estava sendo apreciada ontem para fins de recurso. O apetite municipal não é pantagruélico quanto o do Estado com seu saque de R$ 2 bi anuais da ParanaPrevidência. O elogio que Beto Richa fez à ação policial decorre de uma sutileza subconsciente: com Francischini tudo foi pior naquele massacre.

Intenções
Pesquisa da Fecomércio detectou um crescimento de 12% em expectativas de consumo na sociedade paranaense em relação ao mesmo período do ano passado.

Inflação
Inflação de 2017 ficará abaixo de 3%, muito abaixo do piso do Banco Central, o que levará o seu presidente a explicar, em carta aberta ao Ministro da Fazenda, a razão pela qual isso se deu. A meta, historicamente, sempre foi desviada, mas nunca por ficar abaixo do piso até aqui fixado em 4,5%.

Folclore
Razões para o nepotismo sempre existiram: não dá para comparar talentos como o do Bruno do vôlei como protegido pelo pai, Bernardinho, ou o de Fernanda Torres como beneficiária da influência da mãe, Fernanda Montenegro, mas em política normalmente não há esse tipo de simetria como se via com Requião a argumentar que nomeava sempre irmãos talentosos o que ele chamava de nepotismo esclarecido. Quando governador, Guataçara Borba Carneiro nomeou o filho Paulo Carneiro para o Tribunal de Contas e a um crítico da medida observou: "Vosmicê queria o que, que eu nomeasse o seu filho?". Essa de Nhô Guata é clássica.