Aposta furada
Desde o início, até pela originalidade dos procedimentos, a do combate à impunidade e contra a corrupção endêmica, a Lava Jato sofreu tentativas de "melar" tudo até pela novidade do aparato jurídico centrado nas delações premiadas. A derradeira foi essa de anteontem que ainda terá mais quatro votos de ministros na próxima quarta-feira, posto que com maioria de sete votos consolidada.

Percebeu-se nos debates a riqueza de matizes que comporta, o que certamente indica que haverá aperfeiçoamentos na legislação para que o novo instituto ganhe maior consistência. Pragmaticamente a validez das delações, bem como a manutenção de Edson Fachin, em sua relatoria é intocável. Jamais se descobriria as dimensões da corrupção em metástase não fosse a deflagração das delações no petrolão. É verdade que o ciclo novo no Brasil se processa com o mensalão onde não há delações premiadas, mas suficientes para minar a atmosfera de demiúrgos dos advogados criminalistas, inclusive o tido como Deus, Marcio Thomaz Bastos.
Que há deformações é inquestionável, mas o nível de exigência da sociedade melhorou e nunca vimos um festival de presos políticos e empresários tão significativo. Não há como negar que o ciclo é mais punitivo do que defensivo e vale a pena passar pela experiência. A maneira como essa gangue político-empresarial trata o Brasil e não sabe estabelecer limites entre o público e o privado não comporta fundamentos como o da presunção de inocência, tantas vezes arguido pela proteção do banditismo tolerado.

Espaço sindical
O Corpo de Bombeiros vai ser ouvido, em perspectiva pericial, se o Palácio Rio Branco, sede do legislativo municipal, em Curitiba, comporta pelo menos em suas galerias 10 delegados por sindicato para a sessão do dia 26 que votará o pacotaço de Rafael Greca. Afinal é melhor um número limitado do que uma invasão como já tivemos duas vezes não apenas na Capital mas também em Colombo, ontem novamente, em temas semelhantes de ajuste fiscal. Em Colombo a comunidade invadiu a Câmara e vereadores ficaram olho no olho ante eleitores e a prefeitura concedeu 33% de reajuste a médicos em greve num momento em que estabelecia restrições gerais, o que rendeu protestos.

A Segurança montou ontem o esquema logístico para garantir o funcionamento dos poderes já assegurado em decisão judicial que garantiu a imissão de posse e a pena complementar de R$ 100 mil diários aos sindicatos. Sindicatos nunca deram bola a essas multas, encarando-as como mero fator inibitório. Não fosse a multa milionária a greve petroleira sob FHC teria quebrado a espinha do Plano Real e está na hora de a justiça não se valer de "pegadinhas" para amortecer conflitos sociais, mantendo a procedência e inteireza de suas decisões. Em meio a alternativas autoridades em segurança chegaram a sugerir o uso das instalações do Ópera de Arame para a sessão histórica, uma opereta bufa como aquela da bancada governista de Beto Richa chegando ao legislativo estadual de camburão.

Pró-Cidadania
Mais sinais de degradação municipal: está nos últimos suspiros o Instituto Pró-Cidadania e pretende-se usar suas instalações para abrigar moradores de rua.

Mais concessões
Mais preocupado com sua sobrevivência do que com o estandarte das reformas, Michel Temer vetou a autorização para atividades agrícolas em áreas protegidas, mas prometeu à bancada ruralista novas concessões do gênero que o fizeram passar por um vexame no exterior com a decisão da Noruega de cortar R$ 167 milhões de recursos que concedia à Amazônia, apoiada em manifestações de protestos de ONGs ambientalistas. Outro recuo, desestimulado pela equipe econômica, estaria na redução de 62 para 60 anos como idade mínima de aposentadoria da mulher.

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O bloqueio às compras de carne bovina "in natura" pelos Esteites em relação ao Brasil acaba alcançando, por via indireta, os produtos de exportação paranaense (frango e suínos). Mais uma derrota para o governo Temer com lupa à mão em busca de sinais positivos.

Na atitude americana um pouco do "trumpismo" nacionalista em defesa do produtor local, algo bem ao gosto do senador Roberto Requião, cult dos tempos de Jango Goulart e da fábrica de ideologia do Instituto Superior de Estudos Brasileiros, Iseb, peça arqueológica de má memória e que depõe contra a inteligência brasileira.

Folclore
À cada inverno com a escassez das pastagens, subia o preço da carne. E no governo Munhoz da Rocha tivemos várias manifestações populares com ataque a retalhistas e queima de carne em praça pública. Numa dessas estudantes entraram em choque com a polícia e dois redatores do serviço público, eu e Newton Stadler de Souza, estávamos na passeata quando percebemos que os cinegrafistas que nos escrachavam não eram nossos conhecidos, mas profissionais da área federal. Quando chegamos na Câmara de Expansão Econômica, nossa repartição, os filmes em que aparecíamos eram revelados no laboratório e o Ascânio de Abreu, policial conhecido, ria do nosso embaraço, avisando que não haveria colher de chá.