Revisões naturais
Não se pode acompanhar andamento da Justiça como se fosse jogo de futebol ou disputa de rainha do rádio entre Emilinha Borba e Marlene. Infelizmente, é assim por causa dos baixos índices de civilidade dos brasileiros e de suas instituições. A liberação de Zé Dirceu desagradou o público e a acusação, mas não significou o fim da Lava Jato, tanto que ontem ela retornou com toda a força e com mais denúncias, uma delas, imaginem, envolvendo até dinheiro de má origem do propinoduto petrolífero e repatriado.
Nem todos achavam que Sérgio Moro estava certo naquela decisão de obrigar Lula a estar presente nos depoimentos de suas 87 testemunhas. Era algo pedagógico para constranger um jogo de cena de dilação de prazos, como o magistrado deu a entender. Pois ontem o Tribunal de 4ª Região, através do julgador Nivaldo Brunoni, derrubou a exigência. Duplo grau de jurisdição é para isso mesmo e Lula está dispensado da obrigação. A torcida pode ulular, mas não bloqueia a Justiça e aqueles que se assanharam com os habeas corpus podem estar certos de que as tendências no fluxo judicial não são as imaginadas.
O habeas corpus em favor de Palocci, por decisão de Edson Fachin, vai para o pleno com o que se distancia da visão negativa que guarda nos julgamentos em que foi derrotado. Também uma outra decisão de linha construtiva foi a de submeter o governador de Minas, Fernando Pimentel, a julgamento pelo STJ sem o aval da assembleia mineira. Ontem, o STF decidiu que o caso é aplicável a outros governadores, entre os quais o nosso.
Essa deliberação é um avanço importante (nove votos a dois) porque afasta uma exigência que impediria a maior parte dos procedimentos em escala nacional em função das oligarquias e das pressões cartoriais em nome de um suposto princípio de autonomia. Vivemos realidade nova como a prisão de Sérgio Cabral que, se dependesse desse tipo de exigência, corria o risco de não avançar em que pese a contundência dos crimes praticados. Aqui, no Paraná, por exemplo, ela bloquearia qualquer iniciativa pelo grau de submissão legislativa e a existência de uma oposição minimalista.
Como se vê, emoções passageiras – sentimento normal de frustração ou de euforia - não afetam a marcha dos processos até porque o lamaçal revelado pelas delações é de tal ordem que se torna inimaginável a impunidade. Tudo vale a pena - e isso nada tem a ver com Fernando Pessoa e o poema imortal - se a lama não é pequena.

Fecha tudo
Por causa da audiência de Lula no dia 10, a própria Justiça Federal decidiu dispensar seus servidores exceção daqueles envolvidos no processo, suspender contagem de prazos. E ontem houve nova reunião para cuidar de detalhes preventivos na Segurança. Por sinal que tanto o sindicato local como a Federação de Jornalistas pediram garantias a profissionais que farão a cobertura. Reserva de hotéis indica que a mobilização será grande dos dois lados.

Saúde
No Paraná, houve 4 mil casos de intoxicação medicamentosa e uma das preocupações do momento é com a incidência de casos agudos de gripe que chegam a 38. E isso se dá em meio à campanha de imunização dos chamados grupos de maior risco.

Paranoia
A sede da Prefeitura de Curitiba viveu ontem momentos de terror com a notícia de que iria estourar uma bomba. O agito foi grande e levado a sério, mas o que era tido como explosivo não passava de um amontoado de roupa velha.

Polícia
A Secretaria de Segurança comemorou os feitos estatísticos na queda da criminalidade, algo em torno de 40% no Paraná e de 31% em Curitiba. Na capital, a área de maior frequência de crimes foi a da Cidade Industrial que teve participação de 22%. Já em crimes como roubos de carros, de agências bancárias houve alta. Por sinal que a área de segurança está numa fase boa como a prisão da quadrilha que roubava eletroeletrônicos em shoppings, hiper e supermercados. E ontem, no Pinheirinho, com a prisão de suas mulheres, foi descoberta uma verdadeira fábrica de placas de veículos, das quais havia 400 virgens e nada menos de 75 fajutadas e prontas para uso.

Folclore
Havia expectativa ontem no Palácio Iguaçu em torno da deliberação do STF de que cabe ao STJ o julgamento dos governadores, já que existem vários inquéritos com relação a Beto Richa, entre os quais o decorrente da Publicano em que uma delação premiada do auditor Luiz Antonio de Souza afirma que parte do dinheiro achacado de empresários pela gangue fiscal teria sido drenado para a campanha da reeleição. Trata-se de um testemunho, certamente insuficiente, por seu isolamento, para comprovação. Entre as acusações há algumas decorrentes da Lava Jato e de delações da Odebrecht, nem sempre muito precisas.