Raspando a trave
O czar financeiro Mauro Ricardo Costa foi ontem à Assembleia Legislativa para o relato da situação fiscal e, embora discreto ao registrar o fato de que tivemos no exercício passado um superavit de pouco mais de meio bilhão de reais, acentuou que as cautelas devam ser mantidas no sentido de aumentar a arrecadação e tudo fazer para impedir que seja inferior aos gastos. Esse resultado não justifica qualquer tipo de euforia, como as habituais falas do governador que insiste na analogia com unidades federativas sob calamidade declarada para nos por em evidência.
A hidra estatal é pesada demais, ineficiente e corrupta e de custo tão elevado a exigir algo mais do que uma lipoaspiração em sua estrutura ornamental. Pouco é feito nesse sentido e o esforço para conter gastos na educação com a hora-atividade esbarra em decisões judiciais e acirra a disposição dos sindicalistas à greve. Também as respostas em investimentos, ainda que melhoradas, são extremamente baixas. E leve-se em conta que os maiores feitos se dão nas privilegiadas estatais por força da expansão dos seus negócios.
O calendário eleitoral é um dos fatores que impede a prática da austeridade como se vê nas negociações das dívidas dos Estados falidos e que encontrarão resistência nas duas casas do Congresso, principalmente ante tabus ideológicos como o das privatizações com a venda de ativos como o da Companhia de Água e Esgotos do Rio de Janeiro. Aliás, a propósito, nos tivemos no governo Lerner a tentativa de leiloar a Copel extremamente dificultada, embora por diferença mínima de votos tivesse sido revogada a Lei de Iniciativa Popular que impedia a venda. E estava tudo pronto para a licitação quando houve a convergência de dois fatores, o apagão generalizado e o ataque às torres gêmeas nos Esteites, que a inviabilizaram por falta de proponentes. Se estamos mal com a Copel, que inclusive emprestou R$ 1 bi ao governo, dá para imaginar em que situação estaríamos sem ela.
O governo teve pouco mais de meio bilhão de reais de superavit, todavia continua sacando quase dois bilhões de reais anualmente da ParanaPrevidência, algo que suavizou a folha de pagamentos na rubrica do Tesouro, desequilibrando o fundo de pensão que foi alvo de empréstimo do pródigo governo em R$ 640 milhões que vem sendo pago em prestações do tipo Casas Bahia em setenta vezes. Não dá para esconder que a situação é dramática. Não foi um gol, a bola raspou na trave.

Incidente
Como se não bastasse a perspectiva de greve do professorado municipal, ficou patente ontem a disposição do funcionalismo em resistir ao congelamento dos salários na sessão da Câmara em que o secretário de Fazenda, Vitor Puppi, falava sobre a situação fiscal. O vigor da manifestação deu a entender claramente que a resistência vai funcionar plenamente, embora o histórico do seu ativismo sindical não seja tão eficaz. O baixo astral começa a alcançar a gestão Rafael Greca em toda a intensidade, mormente depois da alta dos ônibus. Puppi anunciou ser inevitável, diante da herança recebida mais a crise nacional, um pacote de ajustes que exigirá sacrifícios.

Tráfico
Uma ação conjunta da Polícia Rodoviária Federal e Polícia Civil tornou possível a prisão de uma quadrilha de colombianos ligada no tráfico de drogas.

Quase milagre
Uma gestante de 21 anos em Campo Largo sofreu um Acidente Vascular Cerebral e ficou 123 dias mantida sob aparelhos para preservar dois gêmeos, o que acabou acontecendo. Seguiu-se a morte da paciente declarada com o desligamento dos aparelhos.

Recuo
Notícias negativas da gestão Rafael Greca se acentuaram com as restrições aos gastos com a Oficina de Música e agora com o Carnaval. Ontem, havia esforços para salvar o "zombie walk" em meio a mediações do secretário Marcelo Catani, que acumula a Comunicação e Fundação Cultural, para a agenda positiva que terá seu ponto principal na Saúde enunciada no mutirão de exames e consultas com especialistas a partir de 9 de março. Nada menos de 150 mil aguardam atendimento especializado e 330 mil esperam exames no objetivo de reduzir filas do Sus.

Oposição
Percebeu a bancada brancaleone da oposição que a figura principal do governo Richa é o seu secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, contra o qual passaram a disparar petardos, como o de que receberia dinheiro demais inclusive dos conselhos das estatais. Isso já se dizia em tom baixo, há algum tempo, mas o objetivo agora é desgastá-lo como se já não houvesse no secretariado gente indisposta com tanta hegemonia e dureza nos gastos.

Folclore
Eliezer Batista, pai do Eike, criador genuíno da Vale do Rio Doce, estudou engenharia em Curitiba e viveu o momento mais intenso da cidade universitária com seus trotes de calouros e reuniões sociais como o Chá de Engenharia. Parava na esquina do Café para Todos, Travessa Oliveira Belo, e ficava assistindo o footing com o cravo vermelho na lapela. Era o Bóris Bacana.