A rouquidão das ruas
Baixos índices de Michel Temer, por enquanto ainda melhores do que os de Dilma Rousseff em seu inferno astral, são um dos fatores que aconselham recuos como o de Romero Jucá na intenção de blindar os presidentes da Câmara e do Senado, e moderação nas ofensivas contra a Lava Jato de um modo geral. O excesso de entusiasmo na proteção dos flagrados nas delações perdeu impulso e desprezada a alternativa de um ministro da Justiça linha dura que peitasse e acertasse a Polícia Federal, o que só seria possível com o divisionismo incontrolado da corporação. Também a hesitação do deputado federal Rodrigo Maia quanto ao rumo do projeto anticorrupção inteiramente desfigurado ainda que se tratasse de medida de iniciativa popular, o que em tese sustentaria a linha que a gerou na consulta com mais de dois milhões de eleitores. Maia, que tanto se sobressai nas defesas da autonomia da Casa, tende a esperar que o STF defina o procedimento que tem tudo de doméstico.
Ainda que haja sinalizações que no momento habilitam o presidente como condutor das reformas (a baixa da inflação e do risco país juntamente com a do dólar e também indicadores de recuperação em setores da economia), apoiado pelo capital e pelas forças conservadoras à falta de outra opção, não está fácil combater com esse paralelismo das ansiedades judiciais, em torno do qual já se cogitou de "melá-lo" ou "deter a sangria" em função de suposta alteração na correlação de forças dentro da mais alta Corte do país e que poderia melhorar de escore com o novo ministro a ser sabatinado pelo Senado.
A voz rouca das ruas, sujeito oculto dessa análise, mesmo que não expressa nos agitos já programados, talvez sem o timbre desejado, ainda é parte ponderável do processo.

Marola demais
Há muito artificialismo na cogitada onda em favor de Osmar Dias para o governo e, como ele já se deu mal em ocasiões anteriores por suas hesitações, recomenda-se muito cuidado com essa precipitada euforia. Ademais, mesmo com baixo Ibope, Beto Richa é ainda peça relevante no tabuleiro no qual já tem pelo menos dois postulantes com a vice-governadora e Ratinho Júnior. Como o clima é apropriado à paranoia, há quem entenda que alguns dos esforços internos do governo para promovê-lo têm objetivo exatamente diverso, o de queimá-lo.

Desigual
A competição no transporte é bem mais desequilibrada do que os tais contratos de permissão: a Urbs não parece, a despeito do tempo de existência, estar tão equipada como o cartel que ainda ontem exibiu um trabalho de consultoria nacional sobre o setor. Volta e meia, o grupo tira do bolso do colete algo equivalente como aquele que expôs a pesquisa origem-destino dos usuários, que detonou a ruptura da integração metropolitana. Se há forte desequilíbrio entre os grupos que formam o oligopólio, muitos deles frágeis e que acabam pelo não pagamento de suas obrigações contratuais a greves que interessam aos mais fortes em sua posição imperial, assunto jamais apreciado em profundidade, estranha-se a não divulgação em detalhes do apurado pelo Gaeco estadual em torno de tramas aqui no Paraná, em Brasília e outras unidades federativas pelos empresários hegemônicos.
A fragilidade com que a prefeitura como poder concedente cedeu às pressões é incompatível com os avanços já havidos como o da CPI da Câmara Municipal e da auditagem do Tribunal de Contas, ora enriquecida pelo ato de anulação do aumento estratosférico da tarifa. O clima de cumplicidade do público-privado voltou a operar fortemente. Outra coisa: o alegado prejuízo dos três consórcios de R$ 1,3 bi de 2010 a 2017 produzido por erros da Urbs quanto à demanda verdadeira exige, se houver um mínimo de decência, uma perícia que seja neutra e não daquela que sempre traz as soluções que lhe interessam.
Se a Urbs não tem competência técnica para o enfrentamento, é melhor que saia de campo ou se recicle, já que seu custo tanto no sistema (4% da taxa de gerenciamento) como no orçamento municipal não justifica tanta fraqueza.

Abuso
Ministério Público acaba de recomendar à polícia judiciária maior cuidado com quebra de normas como a recente em que uma mulher ficou presa, junto com quatro homens, durante toda a noite no 8º Distrito. Quando se vê tanto agito em torno do tema (entre outros a Lei Maria da Penha) e a sistemática doutrinação de movimentos feministas ou de iniciativas como a criação da Casa da Mulher Brasileira, percebe-se o quão distante é a teoria da prática.

Congelada
O juízo da 1ª Vara Federal de Curitiba, a pedido do Ministério Público, decretou ontem o congelamento dos bens da Odebrecht. E agora?

Folclore
Chega a dar pena a situação das empresas de ônibus de Curitiba que alegam ter perdido de 2010 a 2017 nada menos de R$ 1,3 bilhão. Já os usuários dispensam a ida ao psicanalista por pagarem o que pagam para andar de busão, tal seu nível de autoestima e sensação de poder.