De Pinhais, a lição
Uma prefeita com votação gigante, uma comunidade sensível e pronto: é possível convencer a maioria a aceitar sacrifícios. Tal aplicação é possível em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, mas não "cola" nos grandes centros como se infere da situação vivida pelo Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, quebrados pela avidez de seus políticos e em clara posição de calamidade financeira. Aquilo que permitiu em Pinhais votação unânime para redução de custos da prefeitura e Câmara e ainda congelamento de salários para os seus servidores por pelo menos seis meses com corte de abonos e gratificações, é claro que teve resistência furiosa dos barnabés com confrontos corporais, mas acabou passando.
Nas três unidades federativas, todas do ranking da economia, tanto que os gaúchos voltaram a superar os paranaenses no quarto lugar, é inútil qualquer esforço, a despeito da prensa do governo federal que ameaça bloquear empréstimos internacionais e adotar medidas mais severas contra as ações no STF que impedem o bloqueio de verbas dos inadimplentes. É claro que o ocorrido num microuniverso, ainda que gere exemplo marcante, não encontra a complexidade das amarras institucionais e políticas dos centros maiores, ainda mais os cevados pela patologia da corrupção (como é o problema do Rio com seu ex-governador Sérgio Cabral em cana e com a vida agora esquadrinhada, a dele e a da sua mulher na abastança criminosa) e dos desfrutes patrimonialistas.
No país das péssimas referências, como essa da tragédia carcerária, o novo episódio se deu em Roraima, uma falência do Estado brasileiro e em especial do seu Judiciário, a referência a Pinhais e a sua prefeita Marli Paulino tem agudo sentido pedagógico e mereceria ser destacada em nível nacional .

Austeridade
A Câmara Municipal de Curitiba, sob o comando de Serginho do Posto, vai empenhar-se na redução de custos, evitar novas contratações, fazer rigoroso acompanhamento de licitações e desistir das obras para as quais havia um fundo de R$ 58 milhões emprestados à prefeitura na legislatura anterior.

Vietnã
Estradas do Paraná, a maioria tecnicamente ruim e com abusos de motoristas, se transformam num Vietnã: oitava vítima do acidente com ônibus em Campo Mourão veio a falecer e cinco passageiros persistem hospitalizados. Não é um drama como o das rebeliões penitenciárias, mas pela frequência deveria levar o governo estadual à reflexão, ainda mais pelo fato de ser o setor da infraestrutura rodoviária a sua maior presença administrativa.

Sunga
Bombeiros que atuam na Operação Verão não se conformam com a proibição do uso de sungas e reclamam das assaduras que machucam tanto quanto a ardência das águas vivas. Alegam inclusive que nas operações anteriores estava liberado o uso da sunga que, de certa forma, facilita as ações em salvamentos.

Lentidão
Uma das causas da superlotação penitenciária está nas amarras do Poder Judiciário tanto que 41% dos inquilinos do sistema não têm seus processos conclusos e que podem terminar com absolvições ou penas bem menores do que as já cumpridas. Pior estatisticamente a situação dos encarcerados da Amazônia em que 68% estão nessa situação. Algo bem mais do que os mutirões de emergência e as tais inspeções como as do Conselho Nacional de Justiça para monitorar obras é preciso fazer. O Estado - e aí expresso nos Três Poderes - está ausente, um caso claríssimo de anomia em ação, institucional, articulada. Guarda-se a impressão que se delegou a gestão dos presídios às facções organizadas que agem dentro e fora do local em que se encontram como se vê na ação de Fernandinho Beira-Mar em organismos de segurança máxima. Incrível que não se tenha um meio de impedir celulares e equipamentos mais sofisticados isso sem falar em armas como se deu em Manaus.
Percebe-se também que a preocupação do secretário de Segurança do Paraná na hipótese de um levante em outros pontos do país era bem possível, pelos dados colhidos pelo sistema de inteligência e também pelo massacre contínuo em Roraima. Num governo que diante do espanto se refere a "acidente pavoroso" está longe de ter o que dizer e, sobretudo, fazer.

Folclore
Há formas refinadas de reproduzir cultura: como existem ´´contadores de história´´ há os que relatam filmes e mesmo novelas da TV e com extrema habilidade. Dentre as coisas espantosas que vivi nos tempos de boemia uma do Bar Stuart, o mais antigo da cidade, é marcante: um maníaco cinéfilo era capaz de reproduzir, em diálogos, as cenas finais de ´´Casablanca´´ em todos os detalhes e em alguns momentos ele os produzia em inglês para acentuar o tom dramático. Ele o fazia em pé à beira do balcão sorvendo uma interminável gim tônica. Histrionismo não faltava e até o silêncio de Paul Henreid era captável.