Que fim de ano!
Consolidou-se nos últimos dias do ano a ruptura entre os governos estadual e municipal de Curitiba e tanto que a Secretaria Estadual de Saúde denunciou a da cidade de ter recebido R$ 34 milhões federais e não os ter repassado aos hospitais filantrópicos como era de seu dever, mas tão-somente 10% daquele total. E partiu, antes que levasse a culpa, para a denúncia da candente questão aos ministérios públicos, estadual e federal, para a investigação.

Ficou evidenciado também que o pagamento do terço de férias e quinquênio de barnabés municipais não saiu mesmo ontem e ficou para hoje, coincidentemente feriado bancário. Reflexo afinal da crise que alcança todos os níveis de governo e que está expressa no fato de que mais de vinte unidades federativas fecham suas contas com rombos históricos, razão pela qual Michel Temer vetou a inexistência de reciprocidades na negociação da dívida, um ato irresponsável da maioria esmagadora dos deputados. De 26 unidades há um deficit acumulado de R$ 32,5 bilhões. O Paraná não está com saúde de vaca premiada, com seus R$ 4,1 bi de furo, mas também não é um maracujá de gaveta e como tem no comando fazendário um linha dura, Mauro Ricardo Costa, já sabe que vai ter que combater e muito os que desejam refazer a lua de mel dos exercícios anteriores e que afundaram a nau, a essa altura devidamente calafetada, embora bem abalada.

Em passado distante, governo Lupion, o segundo, o procurador credenciado no Rio, então capital da República, reteve verbas federais destinadas ao hospital dos hansenianos na agência do Banestado e isso acabou largamente explorado pelos oposicionistas. Imaginem o impacto de uma notícia em que se fala em desvio de grana de leprosos. E naquele tempo era assim mesmo: acusava-se o governo de faturar com a retenção das verbas.

Garoto propaganda
Nos documentos da Lava Jato há agora uma passagem do ex-presidente Lula em que a badalada cerveja Itaipava quer que ele a declare como preferencial e narra pagamentos de palestras acertadas com a empresa. Tudo seria normalíssimo não fosse o constrangedor clima de contubérnio do público-privado, velha praxe tupiniquim, e expressa nessas relações do sítio e do tríplex.

Austeridade londrinense
Marcelo Belinati, novo prefeito de Londrina, cogita de reduzir em pelo menos 40% o número das 29 secretarias municipais. Atua na direção também do prefeito curitibano, Rafael Greca e redução de pastas é economia em prédios e na fauna de aspones, algo que parece não agradar Beto Richa com seus problemas políticos de "governabilidade" e que podem atrapalhar suas aspirações eleitorais futuras como a da disputa senatorial.

Filas
Eram bastante expressivas as filas ontem no Tribunal Regional Eleitoral daqueles que faziam a justificativa de não terem votado no pleito de segundo turno.

Acomodação
Toda reforma tem um momento de impacto, tal qual se dá numa revolução, seguindo-se o ciclo de acomodação. Assim ocorreu com a inovação do controle externo do Judiciário: primeiro com o corregedor Dip e depois com a corregedora Eliane Calmon. Aos poucos o rigor da inovação foi perdendo impacto, mas o monitoramento deixou seu lado espetaculoso para rotinas menos constrangedoras. Por isso que a fala de Eliane em entrevista a Ricardo Boechat continua repercutindo quando diz que o Judiciário precisa aparecer, e necessariamente, no polo passivo da Lava Jato.

Roubaram o pavão
Um cidadão, devidamente identificado pela tornozeleira eletrônica, invadiu o Passeio Público levou o pavão de sua jaula imponente e o executou no cenário histórico do Largo da Ordem. Duas questões: em primeiro lugar, o mau acompanhamento desses presos, revelados em várias ações criminosas ainda que não bizarras como essa; em segundo lugar, a vulnerabilidade de um logradouro como o Passeio Público, onde já churrasquearam animais e também houve violência sexual contra os bichos, exercício de tiro contra a aves migratórias, fatos capazes de espantar tanto o divino marquês de Sade quanto Masoch.

Folclore
João Saldanha teve uma crise respiratória na casa de Anfrísio Siqueira e o deputado José Domingos Scarpelini sugeriu que o doente bebesse sangue de carpa e foi buscá-la, ali perto, no Passeio Público. Com toda a fama de agnóstico, o jornalista aceitou o remédio do apucaranense.
Quanto ao pavão há uma carnavalesca: "A galinha botou um ovo azul// o fato causou sensação//o galo não foi na conversa// no dia seguinte matou o pavão!".