Mal na praça
Nesta semana Beto Richa deu entrevistas em rádios e ontem na TV Globo. Urge recuperar a imagem degradada desde o massacre de abril e isso já foi feito na nova etapa do ajuste fiscal, ante a comparação com os demais Estados, e com sua ação político-eleitoral nas prefeituras de Curitiba e Londrina que havia perdido no pleito retrasado. Segundo as sondagens (a da Paraná Pesquisas registra 71,4% de rejeição em Curitiba, o que já é uma boa recuperação, pois em abril era de 84%) busca refazer seu capital político prodigamente desperdiçado, daí passa a imaginar soluções que agradem, a um só tempo, Osmar Dias, Ratinho Júnior, Cida Borgheti, nas quais está incluído, uma partilha de fazer inveja aos mais avançados modelos socialistas e isso tudo depois de combinar com os russos, como filosofava o Garrincha.
Claro que sucessão com tantos interesses contrariados, uma das fórmulas o colocaria em dupla com Gustavo Fruet a disputar o Senado, tem tudo para transfigurar-se em secessão.

Isolamento
Roberto Requião já sofreu intervenção do Diretório Nacional quando o afrontou com a cruzada do "Disk, Quércia" e ficou como agora nas cordas, em clinch, mormente quando o partido está na presidência da República. Ou se acomoda e mostra suas posições com mais discrição, reduzindo o poder cáustico das piadas e intervenções, ou fica, agora sim, na marca do pênalti. Na verdade sua situação como maior cabo eleitoral do partido se constitui, especialmente num momento de arrancada pela gestão Michel Temer, numa contradição em termos, antes de tudo pela expressão do colégio eleitoral paranaense no país. .
A situação de hoje é mais grave do que a do tempo de Quércia que gerou intervenção só resolvida depois de impasses judiciais, gastos consideráveis em notas oficiais contra o suposto dissidente por parte da direção nacional, enfim desgastes de monta. O partido o isola e aguarda a autometabolização do processo na própria região, não desejando transformar o senador paranaense em mártir. Concomitantemente os seus, afinal julgados depois de tanto tempo nos tribunais, começam a ser sentenciados como seu irmão Eduardo, apontado com autor da desobediência de decisão do STF contrária ao bloqueio dos transgênicos no Porto. O Paraná, com essa intervenção desastrada, fortaleceu portos de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, gerando prejuízos em bilhões de dólares, demanda que também pode ser arguida.

Greve petroleira
Está aí um obstáculo para o governo Michel Temer na área sindical: o protesto petroleiro que atingiu no Paraná a Repar, a unidade de fertilizantes, a usina do xisto, terminal portuário em cima de cláusulas do contrato coletivo de trabalho no qual a empresa quer mexer na carga horária e reage ao ajuste inflacionário . Sob FHC, uma greve da Federação dos petroleiros visava quebrar a espinha do Plano Real e ela foi enfrentada com decisões judiciais que impunham multas pesadíssimas que quebrariam a instituição sindical, razão pela qual recuou. A quadra recessiva de agora dificulta composições, o que pode transformar-se na maior crise política, superior a agitos de ruas e estradas e de cercos palacianos.

O ônus dos ônibus
Transferir a Oficina de Música, apesar dos constrangimentos, foi fácil para Rafael Greca, mas a questão dos transportes coletivos estourará nos primeiros dias do seu governo. Ontem ainda havia três empresas que não haviam feito o pagamento do ´´vale´´, causa eficiente das últimas paredes e a herança a ser enfrentada não é pequena. A relação pactual não é a da primeira gestão quando implantou, com brilho, os vermelhões biarticulados e os conflitos se sucedem com a CPI da Câmara Municipal, a auditagem do Tribunal de Contas que mandou cortar os 4% de taxa gerencial da Urbs para baixar a tarifa e o ato de rompimento da integração metropolitana que ele promete resolver. Aí não dá para argumentar que a saúde é prioritária sobre o transporte. Quem sabe um armistício com moratória a credores e devedores.

Hospitais na UTI
Antes emendas parlamentares eram feitas para garantir hospitais e unidades de pronto atendimento, agora elas visam o varejo do material permanente e de consumo como algodão e esparadrapo, isso é quebrar o galho do cotidiano para um mínimo operacional. Por isso é importante o repasse de R$ 3 milhões do governo estadual ao Hospital Evangélico em crise permanente e sob intervenção. É um retrato síntese da crise na saúde e que obviamente o teto dos gastos não vai resolver e, ao contrário, certamente agravará.

Folclore
Moisés Lupion, normalmente fleugmático, um dia perdeu as estribeiras com as ondas sobre o seu segundo governo e numa reunião do secretariado disse que não havia o menor sentido em preocupar-se com o diz-que diz-que da Boca Maldita. Pois o austero Pedro Viriato Parigot de Souza, minado pelo câncer, quis responder os boatos de que estariam assinando decretos em seu lugar no Palácio Iguaçu e apareceu na avenida Luis Xavier, abatidíssimo e em condições lastimáveis, para estar à altura do teaser do seu governo ´´O Paraná é um dever. Vamos cumpri-lo´´. E o cumpriu no martírio da missão.