Nosso ajuste acabou se tornando meritório, o que beneficia o governador e sua base aliada ante o exército brancaleone de oposição, cada vez mais nanica"

Embotamento fiscal
Os políticos – a maioria deles tisnados pelas propinas - agiram próximos do embotamento com a derrota que impuseram a Michel Temer negando contrapartidas das concessões obtidas nas dívidas estaduais, como a sua não cobrança em três anos. Nem a calamidade do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul os sensibilizou e, é claro que se não houver veto (o que é complicado para um governo fraco e chantageável ), a União deverá valer-se de outros instrumentos para o enquadramento, entre eles o monitoramento cerrado da Secretaria do Tesouro Nacional.
Esse ambiente é propício ao governo Beto Richa que, com ajustes feitos e ainda por fazer, volta a aparentar o que não tem: saúde de vaca premiada em questão fiscal. Pagando, como ainda fez no dia 20, a segunda parcela do 13º do funcionalismo, objetivo não alcançado por numerosas unidades federativas amaciou, em parte, o impacto da proibição do pagamento do reajuste em janeiro de 2017 e ganhou fôlego para novas investidas. Claro que, em termos analógicos, nosso ajuste acabou se tornando meritório, o que beneficia o governador e sua base aliada ante o exército brancaleone de oposição, cada vez mais nanica.
Henrique Meirelles promete submeter a decisão da Câmara Federal - um verdadeiro Exocet no plano de retomada do desenvolvimento - a uma lupa a fim de avaliar se se deve ou não apor o veto presidencial já que há outras batalhas, inclusive a previdenciária que mal começou, a serem enfrentadas. Ficou, porém, nítido que prevaleceu o oportunismo do Rodrigo Maia, cuja maior prioridade, ainda que violando regimentos, está na reeleição para continuar no comando da Câmara Baixa e de toda a base aliada com essa reverência primária aos gastadores e irresponsáveis.
Acabou a lua de mel, que aparentava garantir o fluxo das medidas corretivas ainda que de forte traço impopular, entre governo e parlamento, um verdadeiro corte epistemológico no processo político já afrontado pelas revelações da Lava Jato que parecem alcançar todos os estratos da fauna política, dos duques e barões ao dominante baixo clero. Assim aquilo que dava um mínimo de sustentação à sobrevivência de Michel Temer, como timoneiro de uma suposta virada na recessão, foi por água abaixo e a recuperação é tão singela como a de calafetar o barco que ameaça afundar.

Salvacionismo
Salvar o Brasil está difícil, mas dá para fazê-lo com Araucária e Foz do Iguaçu com seus prefeitos encanados. Em Araucária uma operação foi desencadeada sob o comando do presidente da Câmara Municipal (Roberto Davi Mota) e do prefeito eleito (Hissan Hussein Dehainj) no sentido de ajustar a transição inclusive com a designação de secretários desde agora porque o tempo urge e ruge.

Gaeco aceso
Atuando em vários fronts, surpreende a vitalidade do Gaeco que prendeu o prefeito e o presidente da Câmara de Araucária e comandou ontem uma operação gigante contra a gangue que estoura caixas eletrônicos juntamente com a PM e sua Corregedoria, mais o Bope em 35 mandados de prisão temporária e 37 de busca e apreensão. Há muito tempo – e isso no início da onda dos quadrilheiros -, houve a prisão e processamento de vários PMs envolvidos e o tema saiu da pauta e agora retornou com força.

Alerta
Todo o sistema prisional do Paraná está sob alerta com a emboscada com morte e ferimentos em agentes de presídio de Londrina. O governador determinou a ida do secretário de Segurança ao local da ocorrência e o episódio revela que a passagem do Departamento Penitenciário (Depen) para a Segurança reduziu as tensões e revoltas, mas obviamente não resolveu o problema. Na verdade, os focos de tensão com rebeliões obrigaram a adoção do primado da segurança sobre o da recuperação e integração social em função da liberdade de atuação do Primeiro Comando da Capital e facções menores como o Comando Vermelho nas penitenciárias e até mesmo nas delegacias distritais.
Entre as medidas adotadas está a da suspensão, temporária é claro, de transferências de presos que sempre se constituiu na primeira saída diante dos motins e parecia moeda de troca indispensável nas negociações.

Exemplo
Rafael Greca, bastante consciente da grave situação fiscal de Curitiba (calcula-se até agora um furo de R$ 400 milhões), aplica uma lipoaspiração na estrutura administrativa reduzindo-a de vinte para doze secretarias. Richa deveria aproveitar o embalo e fazer o mesmo no Estado, todavia isso dificultaria suas ações políticas que dependem da base aliada, ainda mais com a sua pretensão de decidir a sucessão e sair como candidato ao Senado.

Folclore
O mais furado dos eufemismos da política é a questão da governabilidade, causa maior da pletora de secretarias e ministérios nos três níveis de governo, uma das sustentações do esquema de corrupção e propinas desvendado pela Lava Jato. Uma das perdas da tonalidade de esquerda no lulopetismo residiu aí nas concessões ao fisiologismo de PP, PMDB e tantos outros de profunda avidez nos negócios. Alguns deles ensinaram o caminho das pedras.