É importante saber, mas o mais importante é nunca perder a capacidade de conhecer, de buscar. Não se trata de superestimar, nem de subestimar nossas capacidades diante do novo que se apresenta. Por isso, propomos pensar! Pensar sempre para não sermos engolidos pelo cotidiano pragmático e programático que condiciona nossas vidas como coisas, engrenagens de um grande sistema. Um sistema que nos lota de informações inúteis, fúteis e alienantes, e nos absorve, nos engole.

Precisamos pensar para desconstruir e para reconstruir. Desconstruir o desencantamento para reconstruir o encantamento do mundo. Isso pode ocorrer nos diálogos filosóficos, científicos multi e interdisciplinares nos quais poderemos encontrar pistas para a construção de um futuro.

Acreditamos que, sem esse procedimento, poderemos apenas assistir à chegada do futuro sem nossa participação, sem nossa contribuição. Ele será dado, erigido pela lógica do presente desigual, exploratório, predatório e destrutivo. Assim, tudo será apenas o prolongamento do mesmo, e este parece ser algo sem nenhuma crítica, sem nenhum pensar emancipado.

Queremos algo mais, queremos contribuir com a construção desse futuro. Além disso: queremos fazer parte desse futuro, um futuro equilibrado entre os homens e natureza; justo, solidário, colaborativo e sustentável. Por isso, será imprescindível nosso pensar, para, desconstruindo, construir algo emancipado, superior. Ao fazer parte deste pensar, garantimos, pelo menos alguns traçados do novo que imaginamos, do novo que desejamos. Traçados estes que permitem as condições dignas de vida para todos os seres humanos e de toda a biodiversidade da qual dependemos.

O que objetivamos nesta fala é proporcionar um canal, um mapa inicial para que o pensamento crítico possa ser desenvolvido, e que nos coloque numa situação de rebeldia, indignação e desconforto diante de um mundo desencantado. Paralelo a isto, tratamos de encontrar pistas para a construção de um saber que percorra outros caminhos. Nessa ênfase, entendemos que não podemos pensar, muito menos, fazer mais do mesmo, pois, em grande medida, foram os velhos pensamentos e ações que nos levaram a este estado que conhecemos, criticamos e desconstruímos.

Trata-se de inaugurarmos um tempo novo, que se estabeleça com um novo campo gerador de conhecimento e saber que possam nos guiar a um amanhã melhor. Estamos motivados para iniciar, ingressar e percorrer esta jornada em busca deste conhecimento perdido e disperso, com fundamentos tomados de empréstimo de diferentes autores, clássicos e contemporâneos, os quais têm se debruçado com seus estudos e reflexões para decifrar a nossa condição humana desde as origens mais remotas até nosso tempo. Uma viagem pretensiosa, porém humilde.

Reconhecemos que se trata de um pensamento imperfeito, incompleto e absolutamente aberto. Um pensamento que dialoga com diversas leituras, para com elas juntar e compor, com nossas análises, ao longo destas três décadas como educador, pesquisador e extensionista, mapas, pistas nas brechas luminosas do novo que já está emergindo.

Nessa imersão, que nada mais é que uma tentativa, talvez possa ser gerada, de forma embrionária, uma nova era: distante do capital e do mercado, perto da humanidade e da natureza; menos quantitativa, mais qualitativa; menos competitiva e mais colaborativa.

Exige-se uma tentativa permanente de encontrar um equilíbrio entre o material e o imaterial, entre o objetivo e o subjetivo, entre o instrumental e o sensível. Talvez, desta forma, possamos navegar em mares seguros, para que nossa condição humana possa fluir com naturalidade em nossos potenciais e nossos desejos.

Trata-se de um novo começo, com uma consciência crítica de uma interrelação de tudo com tudo, que forma, conforma e garante a vida com todos que querem e merecem viver.

PAULO BASSANI é sociólogo e professor da Universidade Estadual de Londrina

■ Os ar­ti­gos de­vem con­ter da­dos do au­tor e ter no má­xi­mo 3.800 ca­rac­te­res e no mí­ni­mo 1.500 ca­rac­te­res. Os ar­ti­gos pu­bli­ca­dos não re­fle­tem ne­ces­sa­ria­men­te a opi­nião do jor­nal. E-­mail: opi­niao@fo­lha­de­lon­dri­na.com.br