Vivemos tempos de incertezas, tempos de tensão, tempos de descrença. Isto gera como condição humana um tempo possível de pensar novas possibilidades. Um tempo de pensar novas ideias, problematizar o passado e o presente, e lançar bases de futuro. Trata-se de rever profundamente nossa maneira de pensar e habitar o mundo. Assim o hoje, torna-se um tempo possível de pensar novas formas de sociabilidade, convivialidade, de produção, de consumo. Há uma linha tênue, entre o que queremos e o que o mercado quer.

Necessitamos compreender a natureza desse encaixe. Sobrepostos não conseguiremos, com lucidez, entender a construção que se evidencia, fazendo com que as formas se submetam a sua lógica.

Hoje, também, é um tempo possível de pensar novas formas na esfera política, portanto, um tempo de pensar formas de reconstruir, ampliar a democracia, um tempo para pensar as diversidades existentes de cidadania possível no interior das diferenças. Nesse sentido, é um tempo possível de ampliação dialógica em todas as esferas entender e ouvir melhor a natureza e a natureza humana.

Há uma degradação da economia e da política determinada por um tipo de produção, mercado e consumo. Há evidências que a democracia é, sobretudo, de mercado, onde anula o cidadão e estabelece a figura do consumidor. Há, portanto, um tempo de desencantamento de formas democráticas de baixo teor.

Necessitamos pensar e mudar as coisas... Já dizia o poeta. Algumas mudanças, outras transformações. Não podemos, nessa esteira de desencantamento, deixar de tentar e reconstruir possibilidades, alternativas, formas possíveis e necessárias para cruzarmos as próximas décadas. Teremos que permanentemente tentar outras e novas formas, comum num exercício do pensar permanente da análise, em verificar os elementos que permitem outras formas de combinação, e por que não as que ainda não existem e sequer foram testadas.

Qual a globalização que desejamos para o nosso país, ou seja, qual nossa forma de inserção diante da globalização? Qual o projeto de país, de nação? Hoje para a intelectualidade crítica, a democracia de baixo teor, dará muito trabalho para entender o quadro, fazer análises e para possivelmente perceber nas frestas que se abrem e que se fecham, os sinais que emitem e que podem colocar as análises à emergência do novo. Entendo que o novo proposto terá que ser qualitativamente superior ao que está posto, e não simplesmente um aperfeiçoamento da realidade, mas no sentido de produção de novas realidades.

Entender as forças que lutam e desejam as transformações com este roteiro, e as que lutam em sentido contrário. O fato pode ser resumido no seguinte: não podemos continuar a assistir ao mesmo filme.

Esses conjuntos de perspectivas que eclodem pelas diferentes bordas do tecido social, apresentam-se como força social carregada de significados, de valores, de formas. Portanto, há um saber gerado no cotidiano moderno, não restam dúvidas. As dúvidas residem nas formas de captar e entender este conteúdo gerador de um saber necessário para cruzarmos o nosso tempo, para um novo tempo, talvez nossas metodologias não conseguem captar essas formas diferenciadas. Por isso, não podemos desperdiçar as experiências e nem tão pouco descartá-las. Pelo contrário, cabe um esforço redobrado, em rever nossa maneira de captar e de analisar essa textura complexa e diferenciada. Por isso, necessitamos apurar nossas metodologias para recriar nossas teorias e aprofundar nossas análises.
Pelo visto, será um ano muito difícil este 2018.

PAULO BASSANI é sociólogo e professor da UEL (Universidade Estadual de Londrina)

■ Os ar­ti­gos de­vem con­ter da­dos do au­tor e ter no má­xi­mo 3.800 ca­rac­te­res e no mí­ni­mo 1.500 ca­rac­te­res. Os ar­ti­gos pu­bli­ca­dos não re­fle­tem ne­ces­sa­ria­men­te a opi­nião do jor­nal. E-­mail: opi­niao@fo­lha­de­lon­dri­na.com.br