República dos caras de pau
Fiquei sabendo que existe uma república, na qual quem executa as leis, quem as julga, quem as promove, enfim, aqueles que são chamados de "servidores públicos" ganham de aposentadoria, em média, 650% a mais que um cidadão comum, os pobres mortais que se dedicam ao trabalho na iniciativa privada.

Uma república em que cerca de 3 milhões de aposentados do setor público recebem cerca de 70% de tudo o que é pago pela Previdência, enquanto os outros 27 milhões são providos com 30%. Tomei conhecimento que o rombo no caixa do sistema é formado por duas partes iguais – metade do setor público e metade do setor privado –, mesmo que o primeiro tenha um contingente de beneficiados nove vezes menor.

Me contaram outras coisas sobre esta república, senhoras e senhores. Ouvi por aí que milhares se aposentam antes dos 50 anos de vida, sendo que a expectativa de vida no Brasil cresceu 52% entre 1960-2010.

Esta república encara com naturalidade o fato de que um "representante do povo" vai a um meio de comunicação e declara que não pode votar pela reforma desta mesma previdência por que ela, a tal reforma, é "impopular"!

Este representante, gente, deve acreditar piamente que a justiça social vale bem menos que os votos que ele vai receber na próxima eleição.

Gente, me disseram que nesta mesma república há um teto salarial para todos os servidores públicos. E, que, estes mesmos que estabeleceram isso, os mesmos que julgam, são os primeiros a se recusarem a se submeter o tal teto. Pior ainda, me contaram, a dita "oposição" que se instalou no poder na última década também concorda e foi conivente com estas aberrações.

Não, não pude acreditar. Não, não brinquem! Pois como no verso daquela velha canção popular ("Nessa hora eu acordei abraçando o travesseiro"), acabei descobrindo o que não gostaria de descobrir. Sim, sim...Esta república é o nosso Brasil...

CLAUDIO TEDESCHI é presidente da Associação Comercial e Industrial de Londrina

Síndrome de vitimização
Todos os dias os meios de comunicações divulgam infrações e acidentes de trânsito. Não assumir seu erro ao volante é o que mais ouvimos como justificativas ao serem notificados. Para esse tipo de comportamento, damos o nome de "Síndrome de vitimização". E como toda síndrome deve ser tratada para livrar-se dela. Venho me deparando com sites que anunciam: "Detran multas – Foi multado? Não pague! Manual 100% legalizado! Técnicas infalíveis para cancelar suas multas de trânsito e pontos na CNH. Sucesso de vendas em todo Brasil".

O nome do Detran é usado indevidamente, pois quem vê o site acredita que o próprio órgão de trânsito nos ensina como se safar das multas. Se quiser explorar o site, se certificará que todas as infrações previstas no CBT poderão ser motivo para você não assumir o seu comportamento inadequado no trânsito, reforçado pela sua "Síndrome de vitimização".

O site ainda o atrai ao apontar que esse manual é "sucesso de vendas em todo Brasil". Como antiéticos, se colocam contra como advogados e despachantes, convencendo o infrator que pode fazer todo o procedimento sem o auxílio dos mesmos. Imaginem se a moda pega e todos os condutores multados recorressem das multas e esses recursos fossem deferidos, como alguns casos apresentados no site? Imaginem se a moda pega com a nova Resolução do Contran que também multará os pedestres em 2018?

O tal "manual" apresenta "mais de 1.200 modelos de recursos contra multas e pontuações. Como ficará a segurança no trânsito se os infratores cometem infrações de natureza, como imprudência, negligência e imperícia? Como ficará a falta de respeito em relação aos agentes de trânsito, que estão cumprindo não só com o seu papel de fiscalizar, mas de educar por ocasião de uma abordagem e fazer uma advertência?

Estou pasma, pois estamos imbuídos em educar para o trânsito. Estamos imbuídos em colaborar com a segurança de trânsito. Diante de tal site, preocupo-me com a referida "Síndrome de vitimização" e imagino o que será do nosso país, onde cada dia mais somos informados de políticos de mau-caráter que roubam e não assumem seus atos? Com tantos portadores da "Síndrome de vitimização", percebo que vivemos num país doente. Ao invés de construírem prisões, deveriam construir hospitais. Como sanar tal impasse?

JULIETA ARSÊNIO é psicóloga especialista em comportamento de trânsito em Londrina

■ Os ar­ti­gos de­vem con­ter da­dos do au­tor e ter no má­xi­mo 3.800 ca­rac­te­res e no mí­ni­mo 1.500 ca­rac­te­res. Os ar­ti­gos pu­bli­ca­dos não re­fle­tem ne­ces­sa­ria­men­te a opi­nião do jor­nal. E-­mail: opi­niao@fo­lha­de­lon­dri­na.com.br