Tornar-se desnecessário

Mães e pais quando ganham filhos ficam encantados com aquelas criaturinhas graciosas e dependentes. É até bom que esse encantamento exista, pois sem o cuidado parental apropriado a criança não sobrevive e nem se desenvolve. A criança só aprende a se cuidar e se desenvolver quando internaliza os cuidados recebidos e ao perceber todo o carinho e atenção dispensados pelos pais passa então a se gostar verdadeiramente.

Com o tempo, se essa relação de cuidados funciona satisfatoriamente, a criança se torna um jovem mais seguro e confiante e vai cada vez mais conquistando realizações e independência. Na verdade, chega-se uma hora na vida dos filhos em que os pais não são mais necessários, não ao menos como haviam sido no passado. Os filhos não necessitam deles para sobreviver porque já aprenderam a se cuidar e podem seguir em frente sozinhos e até formar suas próprias famílias.

Os pais, então, devem, à medida que os filhos crescem, se tornar desnecessários e isso representa um sucesso na educação dos seus rebentos. É comum haver ressentimento da parte dos pais por se perceberem não mais necessários e confundem essa nova independência com falta de amor e esquecimento dos filhos para com os pais. Todavia isso é um engano porque mesmo que os filhos já não precisem dos pais para a sobrevivência, o amor que ficou estabelecido permanece e continua a existir junto com um sentimento de gratidão. Só que esse relacionamento se dá agora numa base mais madura e não de dependência infantil. Assim, filhos e pais podem se descobrir de uma maneira inédita e muito proveitosa.

No entanto, se os pais, por questões próprias mal resolvidas, não conseguem aceitar as transformações que se dão ao longo da vida podem criar um problema muito grande que é, em muitos casos, interferir ou se intrometer demasiadamente na vida particular dos filhos. Muitos pais, nas melhores das intenções, forçam situações que deixam os filhos vulneráveis e frágeis e recorrentes na dependência. Aprender a se tornar desnecessário é importante para ceder espaço para o outro e para o amor crescer maduro e forte. Tornar-se desnecessário é uma arte indispensável à vida.

SYLVIO DO AMARAL SCHREINER é psicoterapeuta em Londrina


O que é ter uma vida boa?

Cuidar da saúde emocional é tão importante quanto cuidar da saúde física. A Psicologia é uma ciência que, de maneira geral, está preocupada com o bem-estar das pessoas e atua em diferentes áreas para propiciar a aprendizagem de novas habilidades e, consequentemente, favorecer o desenvolvimento pessoal e/ou profissional. Embora grande parte das pessoas acredite que trabalhar bastante, ter fama ou dinheiro possa propiciar uma vida boa, têm sido cada vez mais comuns discussões sobre qualidade de vida e saúde emocional. Inclusive, várias pesquisas científicas têm se debruçado a isso. Em um momento sociocultural em que preocupações com saúde e bem-estar estão em alta, pensar sobre como você tem se engajado no próprio processo de mudança, implica em pensar quão feliz e satisfeito está com a própria vida. O que é ter uma vida boa para você? Como estão os seguintes aspectos na sua vida? Estudos, trabalho, família, questões afetivas, questões financeiras, saúde física e emocional. O quanto você se sente confortável e satisfeito da forma como tem lidado com esses fatores? Ter uma vida boa parece estar bastante relacionado a ter boa saúde emocional, afinal pessoas que são mais felizes costumam viver mais e ser mais saudáveis. Olhar para si próprio, em especial em um contexto de autoconhecimento, desenvolver estratégias para reconhecimento dos estressores e manejo dos mesmos, realizar atividades prazerosas, se dedicar a atividades intelectuais, de preferência que sejam desafiadoras, possuir bons relacionamentos e estar engajado socialmente, ter cuidados com a saúde física e ter um projeto de sentido na vida, são ferramentas importantes para a construção de uma vida saudável e podem ser desenvolvidas por meio da psicoterapia. Além disso, ter uma vida boa favorece não só a experimentação de momentos de felicidade no presente, como pode ser o principal fator protetivo para um envelhecimento saudável e prevenção de doenças.

PATRÍCIA MOTTA C. GONÇALVES é psicóloga comportamental em Londrina

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