Mais atenção aos jovens negros
Luislinda Valois


Costumamos dizer que os jovens são o futuro do País. Mas se queremos realmente chegar lá, precisamos investir neles, pois é no presente que temos a oportunidade de fazer florescer todo o seu potencial de transformação, criatividade e dinamismo rumo a uma concepção de mundo mais igualitária. Neste momento em que acabamos de realizar a Olimpíada no Brasil, temos a grata satisfação de constatar que – por meio do esporte – muitos negros conseguiram romper a barreira da invisibilidade, da falta de perspectiva e do preconceito. Mas os Pelés, os Joões do Pulo, as Daianes dos Santos e as Rafaelas Silva ainda são poucos. Temos capacidade para muito mais. Não podemos nos contentar com o êxito de alguns poucos negros que, infelizmente, ainda representam uma exceção, uma "cota" em nosso país. Não podemos nos resignar à naturalização da desigualdade. O mundo registra a maior população de jovens de toda a história,1,8 bilhão de pessoas. No Brasil, são mais de 50 milhões de jovens que carregam dentro de si o poder das mudanças para a construção de um País melhor. Por isso, temos a grande responsabilidade, neste momento, de oferecer aos nossos jovens instrumentos que os capacitem a exercer todas as suas habilidades e competências, desviando-os dos caminhos da miséria, do analfabetismo, da violência, das drogas e da morte prematura e assegurando-lhes caminhos seguros de crescimento, formação e ascensão social e profissional. Com essa perspectiva de futuro em nossas mãos, não é aceitável que na história recente do nosso país cerca de 30 mil jovens sejam assassinados por ano e, destes, 77% sejam negros; não é aceitável que cerca de 20% dos jovens não estudem nem trabalhem e, destes, 63% sejam negros e/ou mulheres. Esses índices expõem a dura desigualdade que ainda experimentamos em todos os aspectos da vida social. Temos mecanismos para mudar isso, seja pela educação, pela formação profissional, seja pelo esporte. Que as vitórias dos nossos atletas negros sirvam de exemplo para a juventude preta, pobre, da periferia e para toda a juventude brasileira, mas que seu sucesso não sirva para esconder a infinita desigualdade que ainda precisamos superar.

LUISLINDA VALOIS é secretária Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Ministério da Justiça e Cidadania




De amores e amarguras
Walmor Maccarini

São poucas as canções ou poesias da mulher dedicadas ao homem, mas abundam as do homem à sua amada. Seria o homem mais sentimental, mais sofrido, mais sensível, mais vulnerável à paixão ou mais submisso diante dela? Ou seria a mulher mais reprimida e cautelosa no manifestar seus sentimentos? Mistério tão indecifrado ou indecifrável quanto decifrar a própria mulher. Ela expressa arte e beleza nos seus movimentos, na graça de existir e por outras tantas formas, mas rara foi aquela que dedicou uma ode ao homem. É ele que derrama lágrimas por ela nos seus cantares cheios de amor sincero, de paixão ou de amargura, e às vezes com desabafos de rancor. Uma paixão do homem para com a sua amada nunca se extingue. Ele a carrega pelo restante dos seus dias, e se perde a quem idolatra, custa a reequilibrar-se e sai então em busca de compensar esse vazio dentro dele. Geralmente com outra mulher que tenha semelhanças com a anterior. O varão cultua em seu inconsciente uma grande paixão no vislumbre de uma mulher, mesmo que ainda não a tenha conhecido, e se borboleteia experimentando sabores aqui e ali como a abelha que beija flor em flor, não é porque seja volúvel mas porque está em busca daquela paixão que adormece em seu eu profundo. E quando a encontra, a ela se entrega inteiro. Uma mulher também se apaixona, mas em caso de perda tem a virtude de recuperar-se em pouco tempo. Certamente a grande mãe cósmica deu-lhe a faculdade da resiliência, que é o dom de retemperar-se e recolocar-se em pé, altiva e soberana. O homem mantém a falsa postura de forte, mas tem consciência de sua fragilidade diante da mulher. Em sua fraqueza, ele manifesta um poder que demonstra ter mas que se anula facilmente diante de um gesto astucioso dela... E a astúcia é um componente poderoso e infalível que essa privilegiada criatura da alquimia divina traz em seu código genético. Se o homem não a vence, fica às vezes agressivo. A mulher tem a seu favor uma lei de proteção, o homem não tem para si a mesma consideração legal na relação com ela. Disfarça-se de machão, pelo privilégio de sua musculatura viril, mas é o elo fraco da corrente. Ele sabe disso e vive uma farsa de poder; ela sabe disso e vive uma ardilosa farsa de fragilidade e submissão. E assim ambos convivem, em harmoniosos "tapas e beijos", sem poder desvincular-se do sentimento que une essas duas metades fisicamente distintas e que, por suprema sabedoria, foram dessa forma criadas.

WALMOR MACCARINI é jornalista em Londrina

■ Os ar­ti­gos de­vem con­ter da­dos do au­tor e ter no má­xi­mo 3.800 ca­rac­te­res e no mí­ni­mo 1.500 ca­rac­te­res. Os ar­ti­gos pu­bli­ca­dos não re­fle­tem ne­ces­sa­ria­men­te a opi­nião do jor­nal. E-­mail: opi­niao@fo­lha­de­lon­dri­na.com.br