As universidades estaduais do Paraná passam por uma crise sem precedentes. Recentemente, o Cine Teatro Ouro Verde reabriu após obras de reconstrução do prédio incendiado em 2012. Apesar dos esforços coletivos para a recuperação do Ouro Verde, outro problema ameaça o pleno desempenho de sua missão frente à comunidade londrinense. Não existe pessoal disponível para manter as atividades normais de um teatro. As contratações ainda estão passando pelos trâmites legais para sua efetivação.

Outro órgão suplementar da UEL que vem sofrendo ameaças a seu pleno funcionamento e conservação é o Museu Histórico de Londrina. De maneira idêntica ao Ouro Verde, o Museu Histórico vem enfrentando restrição para contratar novos profissionais que substituam os técnicos especializados que estão se aposentando.

Entre as reações aos cortes de recursos e pessoal, a mobilização por parte das comunidades interna e externa à universidade tem invocado o termo "patrimônio" para suportar e dar sentido às ações encaminhadas por estes grupos.

O conceito de patrimônio universitário está sendo estudado por pesquisadores dentro e fora do Brasil. Os trabalhos têm demonstrado como a valorização deste patrimônio cultural tem contribuído para a melhoria da qualidade de vida das comunidades do entorno das universidades.

Em 2007, Zenobia Kozak definiu patrimônio universitário como um conceito integrado a partir das vertentes do patrimônio material, imaterial e ambiental. O patrimônio material são objetos, coleções e construções de valor histórico e cultural pertencentes ao conjunto edificado das universidades. São salas de aula, auditórios, teatros, observatórios astronômicos, planetários, jardins botânicos, herbários, bibliotecas, arquivos, centros e auditórios anatômicos, laboratórios e galerias.

Nesta vertente, o Cine Teatro Ouro Verde e o Museu Histórico de Londrina estão contidos. O ambiente natural que envolve as instalações das universidades compõe o patrimônio natural universitário. O patrimônio imaterial universitário são as tradições, jargões, comemorações, efemérides e costumes praticados e cultivados como elementos de valor histórico e cultural, que conferem identidade a uma comunidade universitária. Porém, o conhecimento acadêmico produzido extrapola o âmbito universitário indo ao encontro do que poderíamos chamar de patrimônio da humanidade, já que o conhecimento fica como legado para as futuras gerações.
Um aspecto importante para a manutenção deste patrimônio e dos benefícios que ele promove para a comunidade é a continuidade dos serviços. Para que ela ocorra, é fundamental um número mínimo de profissionais técnicos para que unidades como o Ouro Verde e o Museu Histórico possam manter as atividades sem interrupções e, para que isso aconteça, é necessário o planejamento da reposição de profissionais em tempo hábil.

Atividades complexas e especializadas como conservação museológica, luminotécnica e sonorização precisam de treinamento específico no posto de trabalho. Sem o tempo de adaptação do profissional no novo cargo, ocorrerá um hiato na prestação dos serviços e acarretará em precariedade na boa operação das estruturas técnicas do teatro e na conservação das coleções do museu. O governo do Estado alega que a lei impede contratações enquanto não há a vacância dos cargos. Porém, os antigos profissionais precisam treinar os novatos para o pleno desempenho das atividades.

Órgãos internacionais que atuam na causa de proteção ao patrimônio universitário, como o International Committe for University Museums and Collections (UMAC), estão empenhados em convencer os governos nacionais e regionais para a promulgação de leis que protejam e auxiliem a boa gestão do patrimônio universitário, tendo em vista suas particularidades. A ausência de tais instrumentos legais fragiliza a continuidade dos serviços prestados. Uma legislação específica poderia evitar que os serviços sejam descontinuados.
É urgente uma solução. Caso as providências adequadas não sejam tomadas já, no futuro, poderemos ser responsabilizados pela perda deste inestimável patrimônio.

LÚCIA GLICÉRIO MENDONÇA é historiadora e doutora em Museologia, pesquisadora sobre museus e patrimônio universitário em Londrina

■ Os ar­ti­gos de­vem con­ter da­dos do au­tor e ter no má­xi­mo 3.800 ca­rac­te­res e no mí­ni­mo 1.500 ca­rac­te­res. Os ar­ti­gos pu­bli­ca­dos não re­fle­tem ne­ces­sa­ria­men­te a opi­nião do jor­nal. E-­mail: opi­niao@fo­lha­de­lon­dri­na.com.br