Com 40 anos de estrada na biografia, uma das mais importantes jam bands americanas é consideravelmente pouco conhecida pelo público brasileiro. O PHISH – escreve-se assim, tudo em maiúsculas – começou a sua jornada musical em 1983 e de lá para cá consolidou uma legião de fãs fiéis e dedicados, o que lhe rende muitas comparações com o Grateful Dead.

A banda nasceu em Burlington, no estado de Vermont. Os guitarristas Trey Anastasio e Jeff Holdsworth reuniram seus talentos com o baterista Jon Fishman e o baixista Mike Gordon. O duo de guitarras e o baterista se conheceram primeiro pelos corredores da Universidade de Vermont. Ao espalharem cartazes pela universidade procurando um baixista para fechar a formação acabaram conhecendo Mike Gordon.

As primeiras apresentações aconteceram no começo de dezembro daquele ano numa cafeteria que ficava na universidade. Em ambos os chos o set list trazia uma série de covers de clássicos do rock, especialmente algumas canções do Grateful Dead e a banda já dava seus primeiros passos investindo em grandes linhas de improvisação e também cruzando muitas referências retiradas de ritmos, estilos e gêneros diferentes. A acolhida do público foi generosa mas o PHISH só voltaria a tocar de novo quase um ano depois.

Logomarca desenhada por Trey Anastasio nos tempos da universidade.
Logomarca desenhada por Trey Anastasio nos tempos da universidade. | Foto: Divulgação

Anastasio ganhou uma suspensão da universidade por conta de uma brincadeira infeliz que ele aprontou com a ajuda de um colega. Foi logo depois do retorno da banda já em 1984 que Anastasio desenhou a logomarca que mostra o nome da banda formando a imagem de um peixe. A identidade do grupo se completa com a substituição do guitarrista Jeff Holdsworth pelo tecladista Page McConnell já no ano seguinte.

Essa formação é a que permanece até hoje, mesmo com alguns hiatos nos quais os membros se dedicaram a suas carreiras e projetos paralelos. A última volta do PHISH foi em 2009 e de lá para cá sua produção vai bem obrigado.

Essa afinidade e comparação com o Grateful Dead muitas vezes serve de elogio como também algumas vezes redunda em discussões inférteis entre os fãs mais fanáticos de ambas. Primeiro que comparações no campo da arte sempre são temerárias. Arte e cultura é algo que não se

quantifica e não se compara. PHISH ou Grateful Dead – o problema está no disjuntivo provocado pelo “ou”. Excluir ou perder qualquer uma das duas é uma tristeza sem fim. Porque a arte é o campo das singularidades. Talvez seja muito melhor do ponto de vista das conexões possíveis e dos diálogos que cada obra e cada forma de expressão conseguem estabelecer entre si. PHISH “E” Grateful Dead. Uma geração passando o bastão para a outra. Cada uma dentro de sua singularidade e de seu valor. Tanto que na turnê de despedida do Dead, a “Fare Thee Well”, que aconteceu em julho de 2015, o guitarrista convidado para ocupar o lugar de Jerry Garcia, front man do Grateful Dead falecido em 1995, foi exatamente Trey Anastasio. O resultado foi especial e inesquecível.

Toda a discografia do PHISH pode ser encontrada nas plataformas de streaming mais populares. Assim como os fãs do Grateful Dead são conhecidos como “deadheads”, no caso do PHISH temos os “phish-heads”. Recomendo a audição de Hoist e Billy Breaths, ambos os discos lançados na segunda metade dos ano 90 (96 e 98 subsequentemente), um dos períodos mais inspirados da banda. Também é possível encontrar shows inteiros em HD no You Tube com uma qualidade técnica absurda. A iluminação dos shows do PHISH é um capítulo a parte. O último lançamento da jam band é um CD quíntuplo com gravações ao vivo – chama-se Gorge’98 e percorre um set list que representa todas as fases do PHISH.

Também vale a pena dar uma olhada nos vídeos que o guitarrista Trey Anastasio e alguns componentes da banda junto com outros músicos convidados postaram na internet durante operíodo da pandemia (2020 – 2021).

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