O terreno de nossa casa é grande e foi muito bem aproveitado e dividido por minha mãe. Nele ela fez jardim para suas queridas flores e ainda cultivou legumes, verduras e plantas medicinais. Nesse terreno ela plantou, também, muitas árvores frutíferas e é por isso que denominei esta crônica de Pomar Urbano porque, em geral, pomares são feitos nos sítios, chácaras e fazendas.

Mamãe plantou no nosso pomar: duas espécies de mangueiras, macieira, ameixeiras (duas espécies: roxa e amarela), laranjeiras (também duas espécies: caipira e champanhe), mexeriqueira, pessegueiro, mamoeiros, duas espécies de bananeiras, jabuticabeira, limoeiro, figueira, parreira, goiabeira.

Quando um ou mais pé de fruta estava frutificando dava gosto porque, não apenas víamos as cores e sentíamos os cheiros mas, também, sentíamos a alegria de poder apanhar e saborear as frutas no próprio pé, que é muito mais gostoso. De forma que nesse reino encantado chamado pomar, novas surpresas estavam sempre acontecendo para nosso deleite. E se não tivéssemos que ir à escola e fazer uma ou outra atividade em casa, com certeza passaríamos os dias ali naquele mar verde elevado e alegre (de vez em quando muito colorido pelas diferentes frutas) propício ao sonho, encantamento e brincadeiras infantis.

Imagem ilustrativa da imagem Pomar urbano



As árvores, beijadas pelo sol, fustigadas pelo vento e molhadas pelo orvalho, tinham frutas a crescer e madurar em quase todas as estações do ano. As mais variadas nuances de cores frutíferas ali aconteciam, tanto que até nosso paladar, motivado, nos levava a ter água na boca.

Quando o pomar estava todo colorido e o sol aparecia "amarelin, amarelin", borboletas, insetozinhos e aves variadas vinham ali pousar e se alimentar expondo toda a maravilhava de suas formas e cores a nossos sonhadores e maravilhados olhos.

Esse espaço, antes de as árvores se encherem dos frutos, tornava-se um imenso parque de diversões a céu aberto porque, brincávamos de tudo nos galhos das arvores: esconde-esconde, de "casinha", de piratas nos seus navios etc, mas também, ora fazíamos arte fabricando boizinhos de chuchu ou outros, ora fazíamos outras "artes" indesejadas, dentre elas apanhar, para comer, frutas que nem estavam "de vez" (quando levávamos cada repreensão de mamãe) e também fazíamos a gostosa e famosa guerra de mamonas que nos deixava vermelhões, na parte do corpo que foi magoada, e muito verde pelas roupas. E mais bronca tomávamos! Tudo era um verdadeiro e feliz acaso nesse mundo encantado e prazeroso. Pena que acaba!

Marina I. Beatriz Polonio, leitora da FOLHA