"Você é doente!". Se você é fanático por futebol, você já ouviu essa frase, carregada de um pouco de incompreensão e algumas verdades. Quem não é "doente" não entende a dimensão do futebol, principalmente na vida de um menino. Durante a infância e adolescência, o futebol é simplesmente tudo.
Antes do primeiro beijo, antes do "pé na bunda" da menina mais bonita da turma (bem antes), nós já escolhemos o time de coração como se fosse amor à primeira vista. E não há nada e ninguém que faça você mudar de ideia. Nem o seu pai (outro doente) ou o sofrimento de quase 20 anos na fila sem comemorar um mísero título estadual.
O futebol significa júbilo ou vergonha na segunda-feira. Não existe nada mais difícil que levantar cedo e ir para escola depois de sofrer uma goleada do arquirrival. Por outro lado, não existe sensação melhor do que se exibir com a camisa do time de coração. Falando em colégio, a incapacidade de entender fórmulas matemáticas é inversamente proporcional a nossa capacidade de lembrar de times, jogadores e resultados. O futebol pode até pesar na escolha da sua profissão. Mas, você se esquecerá de tudo isso na correria da vida adulta.
Eu chorei tanto por causa deste esporte, que quando meu filho nasceu, achei mais prudente não influenciá-lo para que ele não se tornasse um "doentinho". Além do sofrimento como torcedor, ainda tem a mania de disputar qualquer pelada, mesmo que seja descalço na rua, como se fosse uma final de Copa Libertadores. Vencendo ou perdendo, termina em confusão.
A minha suposta proteção e hipocrisia que o futebol não é tão importante assim não duraram por muito tempo. Logo, surgiram algumas perguntas sobre o jogo, o interesse pela bola e as narrações no vídeo game. Na minha época, era no futebol de botão ou na imaginação mesmo com o gravador cassete ligado, tentando imitar o Léo Batista.
No primeiro dia no Café, duas descobertas. Não existe lugar mais legal que um estádio de futebol e um novo time para torcer: o Tubarão. Com apenas cinco anos na terceira vez no Café, já foi embora falando que nunca mais ia voltar. Depois do épico 3 a 2 em Campinas, fez as pazes com o time e na goleada da última terça-feira (15), perguntou, primeiro, o resultado do jogo e depois que horas eu ia sair do trabalho.
O escritor inglês Nick Hornby conta no livro "Febre de Bola" as suas aventuras como torcedor e como ele odiava amar o Arsenal. Por mais que você tente ficar longe, você não consegue. O futebol tem uma espécie de "assombro" que deixa o torcedor encantado, como ouvir um vinil dos Beatles pela primeira vez. É o guarda-roupa aberto para um mundo escondido lá dentro. Aproveite, filho! E obrigado por me lembrar como o futebol é divertido.