Há um bom número de planos gerais compostos inteiramente de elementos digitais
Há um bom número de planos gerais compostos inteiramente de elementos digitais | Foto: Fotos: Divulgação



Não há muitas diferenças entre "Rogue One" e qualquer superprodução hollywoodiana com grande potencial de fogo. Igual a todos eles, o filme avança com uma velocidade que, por momentos, faz com que o relato tropece: há saltos geográficos a cada meia dúzia de minutos, vários personagens apenas delineados, cenas curtas, diálogos carregados de informação e um bom número de planos gerais compostos inteiramente de elementos digitais. Sem comprometimentos, durante a última hora o realizador Gareth Edwards ("Godzilla") reduz o ritmo frenético e concede a seus personagens principais – um grupo de rebeldes – um objetivo concreto que clarifica o relato.

Neste aspecto, o filme nos apresenta um grupo de guerrilheiros desencantados com sua própria luta, alguns meros sobreviventes, outros fanáticos e outros quase convertidos em mercenários esquecidos porque lutavam. Por fim encontram uma missão que dá sentido a tantos anos de guerra, uma missão capaz de ressuscitar um conceito que foi pilar de "Star Wars" e que é parte do título da película imediatamente posterior na linha temporal da saga, a esperança. Mas o conflito humano, o puramente emocional, se dilui no espetáculo puro e duro e na fascinação pelo grandioso e que não leva em conta o que realmente importa das pessoas. Um espetáculo que narra e que se faz entender, mas que deixa no roteiro e na pura habilidade dos atores (que não é tão hábil assim...) a possibilidade de que seus personagens se destaquem de algum modo.

E é nesse território tão difuso e subjetivo, o das emoções, que o filme se entrega unicamente a uma trama do tipo bélico (a clássica missão suicida). E se deixa dominar para o sentido único da aventura e do universo mágico. Não é que "Rogue One" despreza inteiramente a base emocional: o que ocorrer é que está sempre se explicando verbalmente e sentindo muito pouco. Não são poucos os diálogos em que os personagens recitam emoções e pensamentos em vez de plasmá-los de verdade.

O filme é basicamente uma história de missão de guerra, com uma trama muito simples e o típico enfoque épico e maniqueista nos conflitos desta lucrativa saga galáctica, não faltando o sentimentalismo (não se trata aqui da emoção legítima) familiar com ruptura e reencontro; ou o retrato trivial da luta entre bem e mal; ou ainda o personagem messiânico e/ou sacrificado para quem não há limite em sua abnegação pelos demais. E mais: o androide solícito que tem mais lastro psicológico que os humanos que o rodeiam; ou o eficiente grupo multicultural para ponderar o trabalho em equipe. O que falta de um modo geral, além das citadas emoções, é o humor.

Prequela, sequele, spin off, reboot, seja lá o que for. O que temos é de certa forma o mesmo, o balanceado déjá-vu, com ágil disposição de lugares e caracteres, um intenso clima com rotina de combate, nostalgia sobre chaves da mitologia da série e a porta aberta a novas reciclagens. Assim, e apesar de suas falências, o filme mostra que os fatos sucedidos "há muito, muito tempo, em uma galáxia muito distante" (mais precisamente há 40 anos) ainda como sustentar gerações e gerações de fãs originais e seus descendentes.

Filme deixa à pura habilidade dos atores a possibilidade de que seus personagens se destaquem
Filme deixa à pura habilidade dos atores a possibilidade de que seus personagens se destaquem | Foto: Reprodução