Imagem ilustrativa da imagem AOS DOMINGOS PELLEGRINI
| Foto: Shutterstock



Caso policial
O que você pensaria se estivesse numa praça e visse passar pela rua um carro puxando cavalo? Isto mesmo, o passageiro ia com braço para fora, puxando cavalo com corda no pescoço. Mas mal tive tempo de pensar, viatura policial emparelhou com o carro, PM já com pistola na mão mandando o carro encostar.
Encostou. Três policiais armados saíram da viatura, mandaram sair o condutor do carro e o condutor do cavalo. Ele amarrou em árvore da calçada gramada o cavalo, que passou a pastar tranquilamente, enquanto os dois suspeitos, com as mãos na cabeça, respondiam a perguntas dos policiais. Fiquei imaginando o diálogo:
- De quem é esse cavalo?
- Do meu tio, seo guarda, que é carroceiro. Ele ficou doente e...
- Por que não leva o cavalo montado?
- É cavalo de carroça, não tem arreio pra montar. É proibido levar cavalo assim?
- Se não é proibido, é perigoso. Se esse cavalo desembesta...
- Que nada, seo guarda, nem cavalo é, é égua, mansinha que só vendo, aliás, o senhor tá vendo, né. E tá prenha.
- Pois é, tem mais valor ainda.
- Mas a gente não tava roubando não, seo guarda! Pode ir com a gente lá em casa comprovar!
Então a égua resolveu participar da conversa, emitindo um grande volume de estrume.
- Ih, sujou, seo guarda, mas ela é assim, não tem hora...
Ficam todos olhando a emissão da égua de rabo erguido, e uma mulher a meu lado diz que só falta quererem prender o pobre animal, com tanto traficante pelas esquinas. Digo que o problema é que não são traficantes, são menores mandados, que nem adianta prender pois serão soltos rapidinho. Pois é, diz ela, mas se estão prendendo até ex-ministro... Os policiais porém não prendem a égua e liberam os sujeitos do carro. Eles voltam a levar a égua a reboque, a viatura atrás.
Não só não prenderam como estão até fazendo escolta, digo à mulher. Pois é, diz ela, mas se a gente chama viatura quando precisa, ih, só vem depois de hora, quando vem. Digo que estou brincando, devem estar indo checar se a égua tem dono. Ah, diz ela, pensei que fosse a tal condução coercitiva...
Mas a viatura ultrapassa o carro e se vai. Minha cachorra vai cheirar o estrume e volta de rabo abanando, sinal de aprovação. A égua vai tranquila ou, como diz o hino, impávida. Enfim, uma investigação policial bem concluída, sem nem precisar de delação premiada.

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| Foto: Dalva Vidotte/Divulgação



Notícia da Chácara

Jaboticabeiras
As jaboticabeiras floriram, depois de pacientemente esperar pela chuva, e agora já enfrentam nova seca, mas os frutinhos vão se formando. Essa florada aí da foto é de jaboticabeira com frutas maiores que as das outras duas jaboticabeiras mais velhas, portanto não é filha delas e decerto foi plantada por passarinho. Nativa das matas da Serra do Mar, com os passarinhos a jaboticaba primeiro se espalhou pelas terras próximas, e depois foi plantada por todo o país, disputando com a manga o título de a mais nacional das frutas, até porque a manga é originalmente da Índia.
Na floresta dos índios, as jaboticabeiras chegavam a dez metros de altura, com seus longos galhos buscando luz. Os índios passavam dias arranchados debaixo, comendo as frutas ou ferventando com casca, para beber e assim, sem saber, usufruindo mais de seu poder antioxidante.
Meninos imitavam os índios nos quintais doutrora, rapelando jaboticabeiras como macaquinhos silenciosos. Em Assis, SP, onde morei menino, chácaras e até quintais alugavam jaboticabeiras: a gente podia entrar e comer quanto quisesse. Um primo comeu tanto, com caroço, que dias depois empachou entupido e acabou no pronto-socorro, onde foi devidamente desentupido, ganhando uma história para contar. Daí até hoje a jaboticabeira parece me olhar com suas centenas de olhos negros a dizer modere-se, hem, modere-se...