"Ele não anda muito a pé, então quando está sozinho fico preocupada e falo para prestar atenção", explica Viviane Marçal, mãe de Thiago
"Ele não anda muito a pé, então quando está sozinho fico preocupada e falo para prestar atenção", explica Viviane Marçal, mãe de Thiago | Foto: Fotos: Saulo Ohara



Adolescentes andando na rua com fones de ouvido ou operando o celular é distração na certa. Adolescentes andando na rua distraídos ficam mais vulneráveis a acidentes e podem pôr em risco a própria vida. Em 2014, o número de mortes de pedestres de 15 a 19 anos de idade por atropelamento cresceu 10% no Brasil, índice que corresponde a sete mortes por semana envolvendo pessoas dessa faixa etária. Os números estão em um levantamento feito pela ONG Criança Segura, que alerta estudantes, pais e motoristas para os perigos no trânsito, especialmente no período de retorno das férias escolares.

"É bem importante que os pais e responsáveis olhem esses números e conversem com seus filhos. É um trabalho de conscientização que a gente está fazendo. Não tem fórmula mágica. É conversar com as crianças e adolescentes e explicar a importância de ter atenção na rua", disse a coordenadora da Criança Segura, Gabriela Guida de Freitas. Ela ressaltou, no entanto, que nem todas as ações preventivas competem aos pais e adolescentes e o poder público também tem responsabilidade de atuar na prevenção e combate aos acidentes. "É preciso melhorar a sinalização e reduzir os limites de velocidade no entorno das escolas."

Gabriela destaca que os adolescentes de 15 a 19 anos representam 26% da população com idades entre zero e 19 anos, mas concentram 46% das mortes por atropelamentos dessa faixa etária em todo o País. Mas não são só as mortes que preocupam. Segundo a Criança Segura, em 2015, 2.452 adolescentes de 15 a 19 anos foram hospitalizados do Brasil com ferimentos causados por atropelamentos. Somadas as vítimas na faixa etária dos 10 aos 14 anos, o número de internações sobe para 4.162.

Maria Clara está sempre acompanhada da mãe ou da avó Sheila Rosana Carvalho
Maria Clara está sempre acompanhada da mãe ou da avó Sheila Rosana Carvalho



Nos Estados Unidos, a Safe Kids Worldwide – organização global dedicada à proteção de acidentes com crianças, da qual a ONG Criança Segura faz parte - chamou a atenção de motoristas e estudantes para os perigos do trânsito em zonas escolares depois que um estudo apontou o aumento de 13% na taxa de mortalidade entre os adolescentes de 12 a 19 anos nos últimos dois anos. No período, tem sido registrada a média de cinco óbitos de pedestres por semana nos EUA apesar de a morte por atropelamentos na faixa etária de zero a 19 anos ter caído em duas décadas.

A entidade norte-americana observou o comportamento de 39 mil estudantes dos ensinos fundamental e médio e de 56 mil motoristas em áreas escolares e concluiu que andar distraído está entre os maiores perigos para os adolescentes. A cada quatro estudantes do ensino médio, um andava distraído pelas ruas do entorno da escola e entre os alunos do ensino fundamental, a proporção foi de um para seis. Entre os distraídos, 44% usavam fones de ouvido e 31% enviavam mensagens de texto pelo celular. Oitenta por cento dos estudantes agiram de forma insegura nos cruzamentos das ruas e quase um a cada três condutores adotaram comportamento inseguro no embarque e desembarque dos alunos, como parar em fila dupla ou sobre a faixa de pedestres. "Está ficando muito grave o problema do uso do celular pelos adolescentes", comentou a coordenadora da Criança Segura.

Imagem ilustrativa da imagem VOLTA ÀS AULAS - Trânsito no entorno de escolas exige atenção de adolescentes



"Eu me preocupo com meu filho porque ele caminha pela rua caçando Pokémon", disse a analista de sistemas Viviane Marçal, mãe de Thiago, de 12 anos. É ela quem leva o filho todos os dias à escola antes de ir para o trabalho e depois de estacionar o carro, acompanha Thiago até o portão de entrada do colégio. "Ele não anda muito a pé, então quando ele anda sozinho fico preocupada e falo para prestar atenção. Quando está comigo fica mais seguro e usa mais o celular", comentou. "Quando eu ando sozinho às vezes eu presto atenção (no trânsito) e às vezes não", confessa Thiago.

Maria Clara, de 12 anos, afirma sentir-se segura para andar sozinha pelas ruas, mas a avó e a mãe ainda se preocupam com a integridade dela. "Eu levo e busco na escola todos os dias. Ela não anda sozinha porque nunca precisa. Quando não está comigo, está com a mãe e ela não traz o celular para a escola porque nós proibimos", contou a avó Sheila Rosana Carvalho.

A designer de interiores Denise Borges afirma que ainda não é o momento de deixar a filha, Sofia, de 8 anos, caminhar sozinha pelas ruas. Além do risco de atropelamentos, ela teme por outros tipos de violência, como assalto. Mas Denise aproveita o trajeto de 12 quarteirões entre a casa e a escola para ensinar Sofia a se proteger de acidentes. "Eu criei uma brincadeira. Faço de conta que sou cega e a Sofia tem que me guiar. Ela cansa, se irrita, mas aprendeu. Ela faz certinho", elogiou a mãe. "Mas mesmo na minha companhia, não deixo trazer o celular e o fone de ouvido, que ficam em casa."