VOLTA ÀS AULAS - Trânsito no entorno de escolas exige atenção de adolescentes
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 07 de fevereiro de 2017
Simoni Saris<br>Reportagem Local
Adolescentes andando na rua com fones de ouvido ou operando o celular é distração na certa. Adolescentes andando na rua distraídos ficam mais vulneráveis a acidentes e podem pôr em risco a própria vida. Em 2014, o número de mortes de pedestres de 15 a 19 anos de idade por atropelamento cresceu 10% no Brasil, índice que corresponde a sete mortes por semana envolvendo pessoas dessa faixa etária. Os números estão em um levantamento feito pela ONG Criança Segura, que alerta estudantes, pais e motoristas para os perigos no trânsito, especialmente no período de retorno das férias escolares.
"É bem importante que os pais e responsáveis olhem esses números e conversem com seus filhos. É um trabalho de conscientização que a gente está fazendo. Não tem fórmula mágica. É conversar com as crianças e adolescentes e explicar a importância de ter atenção na rua", disse a coordenadora da Criança Segura, Gabriela Guida de Freitas. Ela ressaltou, no entanto, que nem todas as ações preventivas competem aos pais e adolescentes e o poder público também tem responsabilidade de atuar na prevenção e combate aos acidentes. "É preciso melhorar a sinalização e reduzir os limites de velocidade no entorno das escolas."
Gabriela destaca que os adolescentes de 15 a 19 anos representam 26% da população com idades entre zero e 19 anos, mas concentram 46% das mortes por atropelamentos dessa faixa etária em todo o País. Mas não são só as mortes que preocupam. Segundo a Criança Segura, em 2015, 2.452 adolescentes de 15 a 19 anos foram hospitalizados do Brasil com ferimentos causados por atropelamentos. Somadas as vítimas na faixa etária dos 10 aos 14 anos, o número de internações sobe para 4.162.
Nos Estados Unidos, a Safe Kids Worldwide organização global dedicada à proteção de acidentes com crianças, da qual a ONG Criança Segura faz parte - chamou a atenção de motoristas e estudantes para os perigos do trânsito em zonas escolares depois que um estudo apontou o aumento de 13% na taxa de mortalidade entre os adolescentes de 12 a 19 anos nos últimos dois anos. No período, tem sido registrada a média de cinco óbitos de pedestres por semana nos EUA apesar de a morte por atropelamentos na faixa etária de zero a 19 anos ter caído em duas décadas.
A entidade norte-americana observou o comportamento de 39 mil estudantes dos ensinos fundamental e médio e de 56 mil motoristas em áreas escolares e concluiu que andar distraído está entre os maiores perigos para os adolescentes. A cada quatro estudantes do ensino médio, um andava distraído pelas ruas do entorno da escola e entre os alunos do ensino fundamental, a proporção foi de um para seis. Entre os distraídos, 44% usavam fones de ouvido e 31% enviavam mensagens de texto pelo celular. Oitenta por cento dos estudantes agiram de forma insegura nos cruzamentos das ruas e quase um a cada três condutores adotaram comportamento inseguro no embarque e desembarque dos alunos, como parar em fila dupla ou sobre a faixa de pedestres. "Está ficando muito grave o problema do uso do celular pelos adolescentes", comentou a coordenadora da Criança Segura.
"Eu me preocupo com meu filho porque ele caminha pela rua caçando Pokémon", disse a analista de sistemas Viviane Marçal, mãe de Thiago, de 12 anos. É ela quem leva o filho todos os dias à escola antes de ir para o trabalho e depois de estacionar o carro, acompanha Thiago até o portão de entrada do colégio. "Ele não anda muito a pé, então quando ele anda sozinho fico preocupada e falo para prestar atenção. Quando está comigo fica mais seguro e usa mais o celular", comentou. "Quando eu ando sozinho às vezes eu presto atenção (no trânsito) e às vezes não", confessa Thiago.
Maria Clara, de 12 anos, afirma sentir-se segura para andar sozinha pelas ruas, mas a avó e a mãe ainda se preocupam com a integridade dela. "Eu levo e busco na escola todos os dias. Ela não anda sozinha porque nunca precisa. Quando não está comigo, está com a mãe e ela não traz o celular para a escola porque nós proibimos", contou a avó Sheila Rosana Carvalho.
A designer de interiores Denise Borges afirma que ainda não é o momento de deixar a filha, Sofia, de 8 anos, caminhar sozinha pelas ruas. Além do risco de atropelamentos, ela teme por outros tipos de violência, como assalto. Mas Denise aproveita o trajeto de 12 quarteirões entre a casa e a escola para ensinar Sofia a se proteger de acidentes. "Eu criei uma brincadeira. Faço de conta que sou cega e a Sofia tem que me guiar. Ela cansa, se irrita, mas aprendeu. Ela faz certinho", elogiou a mãe. "Mas mesmo na minha companhia, não deixo trazer o celular e o fone de ouvido, que ficam em casa."