Os torcedores mais fanáticos poderiam criticar que Londrina tem as ruas São Paulo, Santos e Flamengo, mas não tem Palmeiras, Corinthians ou Fluminense. É claro que os nomes de cidades paulistas não fazem menção aos times de futebol. Mas e a Rua Flamengo, perdida entre várias ruas de nomes indígenas na Vila Yara (Zona Leste)?
Flamengo, segundo o dicionário, é relativo à região de Flandres, na Europa. Também é uma variação da palavra flamingo, uma ave de plumagem cor-de-rosa da América do Sul. Ou seja, não há qualquer relação com a língua ou cultura indígena. A rua ganhou esse nome por meio de uma lei municipal de 1966, que não especifica o porquê desse nome. Ou seja, o que motivou seu autor a inserir o Flamengo na vila Yara é um mistério.
Outra peculiaridade da rua é o fato de ela estar dividida em duas partes: acima e abaixo da avenida Brasília (BR-369). Para ir da metade inferior para a superior de carro, só dando uma volta enorme por outras ruas. Se abaixo da rodovia a rua só tem casas e uma oficina, na outra parte ela tem a Escola Estadual João Sampaio, sacolão, bares e outros estabelecimentos.
''Precisamos andar três quilômetros para ir à farmácia ou à padaria'', comenta Rogério Antônio Batista, que tem uma microempresa na metade de cima da rua, mas se solidariza com seus vizinhos da ''segunda divisão'' da rua Flamengo. Segundo o presidente do bairro, Vinícius Yoma Bueno, a prefeitura estuda um projeto que vai resolver o problema por meio da mudança de sentido de algumas ruas.
Quanto à rua fazer alusão a um time de futebol, Batista não vê o menor problema, embora torça pro Londrina e seja da Falange Azul. Batista só diz não concordar com a idéia de se dar o nome de um time a uma rua. ''Acho que os nomes das ruas têm que homenagear pessoas que fizeram coisas importantes para a cidade. Imagina um palmeirense tendo que morar na rua Corinthians?'', questiona.
Mas, se o futebol suscita rivalidades, entre as duas divisões da rua a relação é pacífica. Morador do lado mais tranquilo da via há mais de 20 anos, o pedreiro aposentado José Ferreira, 65 anos, diz ter acompanhado o desenvolvimento do bairro, e que a rua manteve-se pacata com o passar do tempo. Sem ter do que reclamar, ele sequer tem problemas com o time que dá nome à rua. ''Não torço para nenhum time, não gosto de futebol'', assume.
Da metade de cima, o mecânico Jaime Norberto Crotti, 48 anos, também diz não ter o que reclamar nem do bairro, onde nasceu e cresceu, nem da Rua Flamengo, endereço da sua oficina há seis anos. Ele admite que até já se habituou a ouvir eventuais brincadeiras. ''Às vezes eu dou o endereço e tenho que ouvir comentários como 'é o melhor time do mundo'. Tem que aguentar, né?'', revela este santista, que acha que o time rubro-negro vai ficar fora da Libertadores.