Curitiba - O número 181 é um canal direto da população com as polícias civil, militar e federal do Paraná. Por meio desse telefone qualquer cidadão pode comunicar às autoridades informações sobre crimes, em especial tráfico de drogas, sem ser identificado. O anonimato total protege quem ajuda a polícia a combater a violência.
A eficácia desse instrumento não passou despercebida pelos traficantes que atuam em regiões de Curitiba, como a Vila Icaraí, no Uberaba, palco de recente chacina que deixou oito mortos; e a Vila das Torres. Segundo a FOLHA apurou, o tráfico tem usado a força para impedir que a população registre suas denúncias. Nenhum dos entrevistados quis se identificar por temer represálias.
''O meu comprovante de ligação eu nem pego'', relata uma senhora, moradora do Icaraí. ''Quando chega o dia, vou e pago (a conta do telefone) direto na lotérica'', conta. O medo é que o documento seja solicitado pelos traficantes em busca de ligações que comprometam o usuário da linha.
A promessa de anonimato - principal atrativo do serviço 181 - não convence quem vive com medo. ''Eles conseguem descobrir quem ligou'', acredita a moradora. Para outra mulher da Vila das Torres, o problema é a falta de confiança na polícia. ''A maioria dos PMs é corrupta. Ninguém confia. Se a gente chama a polícia, eles já avisam (para os traficantes) quem ligou e porquê'', diz. Para ela, 181 e o 190 ''são a mesma coisa''. ''A informação volta para a vila'', sentencia.
Marta (nome fictício) é moradora da Vila União, no Uberaba, há oito anos. Ex-usuária de drogas, conhece bem a dinâmica do tráfico. ''A gente sabe quando tem uma movimentação, quando chega droga. Mas não me arrisco a denunciar'', conta. Para evitar abordagens, anda com o celular escondido. ''Mas nem do telefone fixo teria coragem de ligar.''
A situação é novidade para um líder comunitário ouvido pela FOLHA. ''Não tenho conhecimento disso'', relata. Segundo ele, 90% da população residente do Bolsão Audi-União utiliza celulares pré-pagos, portanto, não teria conta telefônica. ''O que deve existir é falta de informação. As pessoas pensam que o 181 é como o 190. Se você liga no 190, a polícia já chega dizendo quem foi que ligou'', conta. No 181 - Narcodenúncia, todas as denúncias são anônimas.
Segundo a Polícia Militar, desde o início deste ano apenas uma ligação registrada no 181 teve origem em telefones localizados na Vila Icaraí. A PM não divulga a estatística completa sobre denúncias realizadas por bairro. Porém, informa que desde 1º de janeiro de 2009, sete homens e uma mulher foram presos no bairro Uberaba (onde fica a Vila Icaraí e a União) por denúncias apresentadas ao 181.
Nesse item, outros 12 bairros, de um total de 52, tiveram desempenho superior ao do Uberaba. No Centro, foram realizadas 56 detenções pelo 181. O Cajuru teve 28 prisões e a Cidade Industrial de Curitiba (CIC), 22 detenções, entre homens e mulheres adultos e adolescentes. No total, foram 352 prisões realizadas na Capital em consequência de denúncias feitas ao 181.