A palavra lama significa terra molhada e pastosa, mas frequentemente a palavra é utilizada figurativamente como algo ruim, degradante. Quando se fala em corrupção na política, por exemplo, a expressão "mar de lama" é recorrente. Em Londrina, a população da zona rural vive essa experiência de ficar na lama, literalmente, a cada chuva. Dos 803,22 km de extensão de estradas rurais, 645,62 km não são pavimentados (80,37%), segundo dados da prefeitura. Do total de vias que passam por esses distritos, apenas 157,6 km são pavimentadas (19,62%) e nem sempre essas poucas estradas asfaltadas recebem uma boa manutenção.

Estrada de Irerê: nos dias chuvosos é possível passar somente a pé ou a cavalo
Estrada de Irerê: nos dias chuvosos é possível passar somente a pé ou a cavalo | Foto: Anderson Coelho



É difícil colocar em palavras o olhar de indignação e desespero dos moradores que passam por esta situação com frequência. Na quarta-feira (16), quando a reportagem chegou à estrada conhecida como Correia de Freitas, no Patrimônio de Taquaruna, Distrito de Irerê (zona sul), os moradores realizavam um protesto por causa das más condições da via. É o único caminho que liga a Vila Rural Esperança à PR-445, mas nos dias chuvosos é possível passar somente a pé ou a cavalo.

A trabalhadora rural aposentada Rosélia dos Reis Leandro contou que o neto de 13 anos não foi à escola porque a estrada estava intransitável. "A estrada está pura lama. Quando a gente liga pedindo socorro, ninguém vem. Se estiver chovendo e alguém ficar doente, morre, porque não passa nada por aqui. Nós estamos abandonados aqui", reclamou.

A dona de casa Priscila de Souza Pinheiro reclama que não consegue levar os dois filhos para consultas médicas. "Quando chove, o transporte coletivo não tem condições de passar por aqui. Mas não são só os meus filhos que estão sofrendo. Idosos também estão passando por isso. Estamos perdendo consultas que são marcadas", lamentou.

Muita gente que reside na zona rural e trabalha na área urbana é prejudicada pela falta de trafegabilidade. A dona de casa Neusa Maria de Assis, relatou que o marido saiu de casa às 5 horas para pegar o ônibus. "Ele caminha sete quilômetros até o ponto, porque o ônibus geralmente passa às 7h40. O ônibus não passou e ele acabou voltando para casa. E se ele falta, descontam do salário dele. Nós estamos abandonados."

A situação nas estradas de outros distritos é igualmente precária. O proprietário de um mercado no Patrimônio de Guairacá, Almiro Pires Ribeiro, relata que a estrada de Taquara e a estrada dos 80 alqueires estão intransitáveis para veículos de grande porte. "O ônibus de linha não consegue subir. Só carro baixo passa. Está bem ruim. O ônibus da escola também não conseguiu vir", reclamou.

A dona de casa Itaivina Leite Pereira, 74 anos, relata que já presenciou muitos motoristas atolarem perto de sua residência. "Já vi ônibus de linha ficar atolado de um dia para o outro."

EFETIVO
O secretário municipal de Agricultura e Abastecimento, João Mendonça, afirmou que a estiagem de 62 dias deixou as estradas em condições difíceis de manutenção, porque as lâminas das máquinas batiam na terra seca e os equipamentos acabavam quebrando. "Na estrada de Taquaruna e na Vila Rural Esperança consertamos várias ruas, mas ainda não colocamos moledo", observou ele, explicando que já também falta de máquinas e de funcionários. "Atualmente temos 25 funcionários para operar duas escavadeiras, uma pá carregadeira, um rolo compressor, três caminhões caçamba e três niveladoras. Seria necessário dobrar esse efetivo e adquirir o dobro desse maquinário", relatou. "Recentemente pedimos uma patrulha rural (ao governo estadual), que deverá ter cinco caminhões, uma pá carregadeira, uma niveladora, uma esteira e um caminhão pipa para atender em várias frentes de trabalho, mas essas máquinas só chegarão no ano que vem."

Segundo Mendonça, a sua pasta trabalha em parceria com o Emater (Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural) no Programa Pró solo. "É um incentivo para que o produtor rural ajude a conservar suas propriedades, para que a chuva não carregue a terra para a estrada e isso resulte na erosão da pista", explica.