O verão chega ao fim no próximo dia 20 e, por mais um ano, os londrinenses enfrentaram os dias quentes e ensolarados sem uma boa infraestrutura nos espaços de lazer gratuitos junto à natureza. Dos quatro parques municipais e estaduais de Londrina (Arthur Thomas, Daisaku Ikeda, Mata dos Godoy e Jardim Botânico), dois estão fechados à visitação há pelo menos quatro anos e outros dois funcionam precariamente, com problemas de conservação.

Em uma tarde de domingo, a FOLHA esteve no Jardim Botânico e no Parque Arthur Thomas. A falta de estrutura de apoio e descuido na manutenção e decepciona os frequentadores. A lista de problemas relatada por eles é longa, mas a principal reclamação é que faltam atrativos e condições de atendimento adequado ao público.

O dia típico de verão, com muito sol e temperatura acima dos 35 graus, animou muita gente a sair de casa à procura de um lugar mais fresco ao ar livre. Nos dois locais, havia dezenas de frequentadores, mas a reportagem constatou que a maioria deles não permanece por muito tempo por duas razões: não há muito o que fazer e falta estrutura, sobretudo de sanitários.

“Nós viemos (ao Jardim Botânico) pela primeira vez há quatro anos e estamos retornando hoje. Está tudo pior. Não tem funcionários para orientar, está meio abandonado. Era para ter muito mais gente aqui se fosse um lugar que recebesse mais atenção porque a população sente falta desse tipo de lazer. Mas falta um cuidado maior do Estado. A gente vai ao Jardim Botânico de São Paulo, de Curitiba, é outra coisa”, comparou o vendedor José Carlos dos Santos, que estava acompanhado da esposa, Sidnéia. “A gente poderia ficar mais tempo se tivesse o que ver, o que fazer, mas não tem”, acrescentou ela.

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| Foto: Roberto Custodio

Enquanto observava a movimentação de um grupo de quatis na pista de caminhada, Cíntia Cristina e a família lamentavam a falta de cuidados com o Jardim Botânico. “É um espaço muito bonito, mas não estão sabendo aproveitar. As lagoas estão descuidadas, não tem uma lanchonete, os bancos estão quebrados, tem muito mato. Faltam investimentos nesses locais. A gente veio, ficou uma hora e já está indo embora. Uma pena porque é um ótimo lugar. Daria para vir de manhã e ficar o dia todo. Aqui é bem gostoso.”

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| Foto: Roberto Custodio

Logo na entrada do parque, a passarela de madeira que encurta o caminho até a pista de caminhada e as trilhas está interditada há oito meses, segundo um funcionário. “Depois que uma mulher caiu aqui por causa de algumas ripas soltas, a ponte foi interditada, mas não fizeram os reparos. São poucas as ripas que precisam ser recolocadas, umas 15”, comentou. Ele apontou ainda a falta de equipamentos para manter a roçagem em dia e contou que uma das lagoas em cascata secou por problemas em parte da estrutura de impermeabilização.

Os frequentadores destacaram ainda o péssimo estado de conservação dos sanitários, uma queixa quase unânime entre eles. A construção original, que desde a inauguração do parque já era precária, agora está pior. Na entrada do banheiro há um cartaz informando sobre a interdição e, ao lado, um banheiro químico deixa dúvidas sobre a segurança de sua utilização. As queixas se voltam também para a falta de conservação dos bancos, a maioria deles, sem condições de uso, e para a estufa, uma enorme estrutura de ferro e vidro que nunca chegou a ser concluída e que vem se deteriorando com o tempo. “Uma construção desse tamanho que nunca cumpriu sua função. É nosso dinheiro que foi colocado ali e olha como está, tudo enferrujado e com os vidros quebrados”, queixou-se a aposentada Marilene Calixto, que levou os netos para conhecer o local.

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| Foto: Roberto Custodio

Lançado pelo governo do Estado em 2006, durante a gestão do governador Roberto Requião, o projeto original do Jardim Botânico de Londrina era grandioso e previa a construção de vários jardins temáticos, espelhos d’água, lagos, entre outras obras. A construção demorou para avançar e mesmo tendo sido alterado para um desenho bem mais enxuto, muita coisa não saiu do papel. As primeiras edificações foram concluídas em 2008 e a primeira fase das obras foi entregue dois anos depois. A abertura à visitação ocorreu em 2013, com o projeto inacabado. Os investimentos na execução do parque superaram os R$ 20 milhões.

O Jardim Botânico tem 73 hectares de área e foi idealizado para ser um espaço destinado à pesquisa e conservação de espécies nativas e exóticas no Paraná e também voltado à proteção e cultivo de espécies silvestres raras, ameaçadas de extinção, ou econômica e ecologicamente relevantes para a restauração e reabilitação de ecossistemas.

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| Foto: Roberto Custodio

No início de 2023, a Prefeitura de Londrina e o governo do Estado anunciaram uma parceria para promover melhorias na infraestrutura do parque e a sua revitalização. Na ocasião, a Sedest (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Sustentável) se comprometeu a recuperar o projeto original para avaliar o que poderia ser realizado e se dispôs a acolher sugestões que passariam por um estudo de viabilidade, como a criação de um centro de reabilitação de aves silvestres e a concessão de uma lanchonete. Mais de um ano depois, nada aconteceu.

A assessoria de imprensa do IAT (Instituto Água e Terra) informou que o projeto de reforma do Jardim Botânico está pronto e aguarda dotação orçamentária. A obra deverá custar R$ 1,4 milhão. As ações previstas em um primeiro momento incluem serviços de impermeabilização dos lagos, recuperação da passarela, instalação de elementos para segurança na área do anfiteatro, remoção dos vidros da estufa, revitalização dos dois prédios, entre outros reparos. A contratação dos serviços de recuperação do parque é de cerca de 6.850 metros quadrados, divididos entre seis estruturas.

A solicitação de recursos tramita na Casa Civil e assim que for encerrado esse processo, a obra deverá ser licitada, segundo o IAT. A expectativa é que o edital seja publicado ainda neste ano.

TURISMO

Embora não seja um destino prioritariamente turístico, Londrina poderia divulgar os parques públicos como atrativos para os visitantes que vêm à cidade fazer negócios e estimulá-los a esticar a estada por mais alguns dias.

Segundo informações do IAT divulgadas recentemente pelo Governo do Estado, os parques do interior impulsionam crescimento de 64% do turismo nas Unidades de Conservação. Com os problemas enfrentados, Londrina ficou de fora dos destaques, perdendo assim uma chance de impulsionar o turismo.

A presidente do Londrina Convention & Visitors Bureau, Hérika Galli, destacou que o foco primordial da entidade é captar eventos para o município, especialmente após a pandemia. Ainda assim, Galli disse que sempre que há a oportunidade não se exime de cobrar do poder público municipal e estadual as melhorias nos espaços públicos de lazer e a instalação de novas infraestruturas turísticas. "A gente sente essa necessidade de Londrina se posicionar mais dessa maneira."

Revitalização no Arthur Thomas é esperada para os 90 anos da cidade

O Parque Arthur Thomas, cuja gestão é de responsabilidade do município de Londrina, passa por reformas desde setembro do ano passado. Além da substituição do alambrado por palitos de concreto e da revitalização da calçada no entorno do espaço, o projeto anunciado pela prefeitura prevê melhorias na iluminação, a construção de passagens subterrâneas para a fauna que transita entre o anexo e o bloco principal do parque, a implantação de um jardim de mel para cultivo de abelhas nativas, sem ferrão, e de um jardim dos sentidos, voltado à educação ambiental. O investimento total é de quase R$ 5,4 milhões, liberados pelo Fundo Municipal do Meio Ambiente, gerido pelo Consemma (Conselho Municipal do Meio Ambeinte), e o prazo para término das obras, executadas por uma empresa licitada, é julho de 2024. A reforma foi apontada como o início de uma série de melhorias que seriam realizadas no parque.

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| Foto: Celso Felizardo

A área interna também deverá ser inteiramente revitalizada. Em 10 de dezembro de 2023, data em que Londrina comemorou 89 anos, o prefeito, Marcelo Belinati, anunciou a obra. Os planos é que tudo esteja pronto até 10 de dezembro deste ano, para as comemorações dos 90 anos do município.

Somando as duas intervenções, externa e interna, serão mais de R$ 10 milhões em investimentos. Para a área interna, orçada em R$ 4 milhões, o recurso é proveniente da Itaipu Binacional por meio de sua iniciativa de financiamento de projetos de cunho socioambiental, além de R$ 670 mil de contrapartida do município. Em dezembro, Belinati afirmou que o processo licitatório para contratação da empresa responsável pela obra seria iniciado em janeiro para que as obras começassem em março, o que ainda não ocorreu.

A gerente do Parque Arthur Thomas, Esther Romero, informou que os últimos detalhes do projeto estão sendo finalizados e assim que forem concluídos, poderá ser dado início ao certame.

As intervenções a serem executadas incluem a recuperação de trilhas, alargamento de calçadas e construção de ciclovia, reconstrução de tubulação de drenagem, reforma do restaurante, reconstrução de duas pontes de madeira, instalação de corrimãos e guarda-corpos e implantação de 11 marcos de distância. A instalação de bebedouros, placas de sinalização e comunicação visual, construção de sanitários, implantação de academia ao ar livre e de playground, iluminação das trilhas e as reformas do Mirante da Cachoeira, Centro de Educação Ambiental e Espaço Ipê, também foram incluídos no projeto.

Os visitantes esperam por essas melhorias. O espaço de lazer é um dos mais antigos da cidade, fundado na década de 1970. Além da questão ambiental, tem relevância histórica. Fica lá dentro a primeira usina hidrelétrica construída no município.

Atualmente, algumas áreas, como a Trilha do Macaco, estão interditadas ao público e os espaços liberados carecem de melhorias e de uma manutenção mais cuidadosa. A principal trilha do parque também está bloqueada com um alambrado logo após o acesso ao mirante da cachoeira, impedindo o acesso à estrutura da primeira usina hidrelétrica de Londrina. Outro atrativo interditado é o mirante da escada caracol.

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| Foto: Celso Felizardo

“Faz sete anos que eu e meu marido moramos em Londrina e hoje viemos ao Arthur Thomas pela primeira vez. O lugar é lindo, tem esse ar refrescante, barulho de cachoeira, me apaixonei. É impressionante que exista um lugar desse bem no meio da cidade. Mas fiquei um pouco desapontada porque esperava mais manutenção”, comentou Maricleuza Carnelutt Chafrão.

Ela iniciou a visita pelo lago, onde é possível contemplar os cardumes. Mas ficou incomodada com o forte cheiro de esgoto. Também sentiu falta de informações sobre os atrativos que o espaço oferece e apontou melhorias que poderiam ser feitas na infraestrutura. “Não tive coragem de usar o banheiro. Mas tirando essa falta de manutenção e de um cuidado maior, o lugar é muito agradável. Londrina tinha que cuidar melhor daqui para as pessoas virem mais.”

Mata dos Godoy e Daisaku Ikeda seguem fechados sem previsão de reabertura

Se nos dois primeiros atrativos a situação é precária, no Parque Estadual Mata dos Godoy e no Parque Municipal Daisaku Ikeda, o cenário é ainda mais grave. As duas unidades ambientais estão fechadas para visitantes há quatro e oito anos, respectivamente. A FOLHA também esteve nos dois espaços para conferir de perto o estado de conservação.

Na Mata dos Godoy, localizada à margem da PR-538, a 18 km ao sul da cidade, um banner instalado na porteira de acesso avisa em letras garrafais: "O PARQUE ESTÁ FECHADO".

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| Foto: Roberto Custodio

A área de conservação de 690,1756 hectares, um dos maiores maciços florestais remanescentes de Mata Atlântica da região, foi transformada em parque estadual em 1989 e desde 1995 estava aberto ao público. As visitações, porém, foram interrompidas durante a pandemia de Covid-19, em 2020, e desde então não foram retomadas.

Apesar da primeira impressão de abandono nos primeiros metros da estradinha que leva à sede do parque, com árvores caídas em razão de uma chuva recente, a conservação da unidade está em boas condições.

A reportagem não teve permissão para registrar imagens no interior do parque, mas pôde constatar a grama aparada, trilhas e jardins bem cuidados e organização no setor administrativo. Isso porque oito funcionários continuam trabalhando normalmente durante os quatro anos de portões fechados. Fazem questão de manter tudo em dia.

Segundo fontes ouvidas pela FOLHA, o principal entrave para a reabertura do parque está na reativação de uma mina d'água. Toda a água consumida e utilizada durante o trabalho precisa ser levada de outros lugares. Outro entrave é a infestação de javalis, problema que, segundo os funcionários, está mais controlado nos últimos meses.

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| Foto: Roberto Custodio

No site Tripadvisor, referência em avaliação de destinos turísticos, muitos usuários lamentam o fechamento do parque. "Nunca conseguir ir lá, pois todas a vezes que eu fui estava fechado. Estou louco para conhecer. Devia ficar aberto ao público e ter mais divulgação", reclama Lucas Bueno, de Astorga. "Triste. Fechado há anos e sem previsão de reabrir... infelizmente. Fui quando criança há muitos anos atrás. Seria bom se reabrisse", postou Maiara C.

Em resposta oficial, o IAT apenas informou que o parque segue fechado para reformas, sem detalhar os problemas a serem corrigidos.

Daisaku Ikeda

O Parque Municipal Daisaku Ikeda, inaugurado em 2000, abrigava a estrutura da Usina Três Bocas, segunda hidrelétrica do município, criada pela Copel em 1943. O principal atrativo do parque, com a barragem, foi totalmente destruído pelas tempestades que atingiram a região em janeiro de 2016. A força da água devastou o parque e modificou toda a paisagem.

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| Foto: Roberto Custodio

Desde então, há oito anos, o atrativo ecológico de 120 hectares localizado a aproximadamente 12 km do centro de Londrina, na PR-218, estrada para o distrito de Maravilha, se tornou sinônimo de abandono e vandalismo. A erosão nas barrancas do Ribeirão Três Bocas impedem o acesso ao mirante. O prédio da sede está totalmente depredado, com fiações furtadas.

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| Foto: Roberto Custodio

O estado precário do parque se tornou alvo de debate e polêmica depois que um garoto de dois anos caiu no Ribeirão Três Bocas e morreu, com o corpo sendo localizado quase uma semana depois do desaparecimento, em junho do ano passado. A criança havia sido levada pela mãe e o padrasto, que na hora de ir embora não perceberam que o menino não estava no carro.

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| Foto: Roberto Custodio

O MP-PR (Ministério Público do Paraná) chegou a encaminhar uma recomendação administrativa ao município pedindo uma série de ações no local, como o fechamento, para evitar novas tragédias. Sete meses depois, poucas melhorias paliativas foram colocadas em prática, enquanto não é feita uma grande reforma. Apenas algumas barreiras de concreto foram instaladas sob o pórtico de acesso ao parque.

PROJETO

A esperança de revitalização do parque, agora, vem de um projeto de levantamento topográfico e de paisagismo prometido por um instituto com sede em Barueri (SP). O acordo firmado entre a associação sem fins lucrativos e o poder público londrinense teve o aval da Procuradoria-Geral do Município. O serviço é orçado em cerca de R$ 50 mil. O contrato impede que a instituição cobre qualquer tipo de valor do Executivo e todo gasto para elaboração que existir será de responsabilidade da entidade. Não há um prazo para a entrega, mas a previsão é que ocorra ainda neste semestre.

De imediato, o que está previsto para o Daisaku Ikeda é o cercamento de toda a área com gradis. O serviço que vai custar R$ 194 mil será tocado por uma empresa que já tem contrato com a prefeitura para manutenção predial. Já os gradis para se evitar o acesso ao parque serão providenciados pela Sema (Secretaria Municipal de Ambiente). Os recursos ainda estão sendo levantados junto ao Consemma (Conselho Municipal do Meio Ambiente Londrina).