A sala ajudará na escuta de crianças e adolescentes; cerca de mil inquéritos estão em andamento no Nucria
A sala ajudará na escuta de crianças e adolescentes; cerca de mil inquéritos estão em andamento no Nucria | Foto: Fotos: Gustavo Carneiro



Instalado em Londrina há três anos, o Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes inaugurou nesta quinta-feira (22) uma ludoteca. O Nucria, que atende situações em que a criança e o adolescente são vítimas de crimes ou encontram-se em situação de risco, também passou a contar com uma psicóloga especializada, o que não existia na delegacia até então.

A ludoteca conta com brinquedos específicos para tratar de temas como abuso sexual ou violência física. Segundo a delegada do Nucria em Londrina, Lívia Pini, a sala ajudará na escuta de crianças e adolescentes. "Em todas as nossas salas tentamos não deixar com cara de delegacia, mas não tínhamos um lugar tão próprio, com brinquedos para fazer interação. Estamos muito felizes de iniciarmos este projeto. É um local que favorece e promove a proteção daquele que foi violentado", destacou.

Outro fato comemorado por Pini é a chegada de uma psicóloga, que foi cedida pela Prefeitura de Londrina em um convênio assinado entre núcleo e município. Antes, era a escrivã, que é pedagoga, quem desempenhava este papel na escuta qualificada. "Existe essa necessidade de ter uma profissional que saiba conduzir uma oitiva de criança em razão dos aspectos diferenciados da idade. A psicóloga tem uma sensibilidade maior, o que minimiza o trauma e na investigação é importante", elencou.

Assim como a profissional de psicologia, a ludoteca foi montada a partir de uma parceria. Todo o mobiliário e ferramentas que compõem o espaço foram doados por uma empresa privada de análises clínicas. "A intenção é que estas salas possam ser implementadas nos Cras (Centros de Referências de Assistência Social) de Londrina, mas ainda depende de questões burocráticas", explicou Lian de Carvalho, analista de projetos da Sabin. Em oito anos, a organização montou 79 ludotecas em 11 estados do Brasil.

Autora de um livro que trata do tema violência contra a criança, a nova psicóloga do Nucria, Cristina Fukumori Watarai, quer levar este debate para as escolas. "Ouvir um adulto é diferente de ouvir uma criança. Por isso, o trabalho é diferenciado e ferramentas específicas são de extrema importância. Outra questão é o diálogo, pois não queremos que os casos cheguem aqui e isso passa por um fortalecimento do ambiente familiar", ressaltou ela, que há 13 anos trabalha nesta área. Sua vaga no Creas, em que trabalhava, será preenchida por outra profissional. Na Polícia Civil, não existe a carreira de psicólogo.

Lívia Pini, delegada: "O choro excessivo, silêncio repentino ou irritabilidade são sinais de aquela criança merece um cuidado especial"
Lívia Pini, delegada: "O choro excessivo, silêncio repentino ou irritabilidade são sinais de aquela criança merece um cuidado especial"



BAIXO EFETIVO
O Nucria funciona em Londrina em uma casa alugada na zona leste da cidade. Atualmente, são cerca de mil inquéritos em andamento, sendo que 80% dos casos correspondem a violência sexual. O restante se divide em crimes de violência física, Maria da Penha contra adolescentes, fornecimento de drogas ou bebidas alcoólicas para menores de idade, pornografia infantil e abandono de incapaz.

Apesar do elevado número de procedimentos abertos, é baixa a equipe de trabalho do núcleo, que possui apenas dois policiais e uma escrivã. "Temos a necessidade do incremento de servidores. A maioria dos inquéritos são de situações muito graves e precisávamos que eles tivessem uma andamento mais célere, que é algo que não conseguimos efetivar em razão do pouco efetivo", lamenta Lívia Pini.

De acordo com a delegada, existem casos de 2010 que ainda não foram finalizados em razão do pouco efetivo de servidores. "O que está chegando (de inquérito) estamos tentando finalizar em pelo menos um ano, nos casos de menor gravidade. Já nos mais graves, normalmente, já é feita a prisão e em dois, três meses está encerrada", afirma. "Era preciso, no mínimo, dobrar o número de escrivães e o de policiais para podermos aumentar o andamento destes procedimentos", completa.

ATENÇÃO
O núcleo atende crianças de zero a 12 anos e adolescentes até 18 anos de idade. Por ser uma faixa etária mais vulnerável, a atenção a qualquer mudança de comportamento precisa ser levada em conta, já que pode ser sinal de violência. "Tanto choro excessivo, silêncio repentino ou irritabilidade são sinais de aquela criança merece um cuidado especial. O familiar precisa dar a ela confiança para que conte algo que vivenciou. A partir do momento que seja notado alguma evidência de violação, é importante procurar o Nucria", recomenda.

Sobre o baixo efetivo do Nucria em Londrina, a Polícia Civil do Paraná afirmou, por meio de nota, que "a contratação de novos profissionais para as polícias do Paraná é debatida permanentemente pela SESP (Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária), em conjunto com outras secretarias de governo" e que desde 2011 "já foram incorporados às forças policiais do Estado cerca de 11 mil profissionais".

SERVIÇO
O Nucria atende na rua Gago Coutinho, 833, jardim Caravelle. O telefone de contato é (43) 3325-6593.

Matéria atualizada às 22h