Militares do 30º Batalhão de Infantaria Motorizado de Apucarana e do Tiro de Guerra de Londrina se juntaram à família nas homenagens prestadas a "José do Lenço"
Militares do 30º Batalhão de Infantaria Motorizado de Apucarana e do Tiro de Guerra de Londrina se juntaram à família nas homenagens prestadas a "José do Lenço" | Foto: Anderson Coelho



Com direito a honrarias fúnebres realizadas por militares do 30º Batalhão de Infantaria Motorizado de Apucarana, foi sepultado nesta segunda-feira (25) o ex-combatente da Segunda Guerra Mundial José Soares Neto, 96. Conhecido em Londrina pela disposição em compartilhar histórias da época em que atuou como "pracinha" pela FEB (Força Expedicionária Brasileira) na Europa, Neto – também conhecido como "José do Lenço" - foi homenageado pela Guarda Fúnebre durante o enterro realizado no cemitério João XXIII. A bandeira nacional, símbolo da dedicação cívica do idoso, foi entregue à família.

Neto estava entre os últimos pracinhas ainda vivos no Brasil. Conforme relatou em várias ocasiões à Folha, ele servia o Exército em São Paulo quando foi convocado para a Segunda Guerra. "Pedi para uma tia dizer aos meus pais que eu estava indo para uma excursão e que ficaria fora uns meses. Depois, já na Itália, mandei uma carta explicando tudo", relatou ele em reportagem publicada em 2014.

O ex-combatente chegou a ser atingido por um tiro no ouvido esquerdo, o que levou à perda da audição. Com o fim da guerra, voltou ao Brasil e, pelos serviços prestados, foi condecorado como herói nacional. Além de trabalhar como caminhoneiro por boa parte da vida, ele também foi proprietário de um hotel em Londrina.

A viúva do pracinha, Alaíde Martins, 81, conta que o marido tinha muito orgulho de conversar sobre os tempos da guerra. "Se alguém puxava assunto, ele não tinha preguiça de falar", recorda, destacando que, apesar de ter esquecido alguns fatos da vida após sofrer um AVC, as histórias dos tempos de combate jamais se apagaram da memória. "Ele tinha uma mala onde guardou tudo daquela época. A família fica orgulhosa por saber que ele fez parte da história", emociona-se.

Neto coleciona outros feitos relacionados à longevidade. Conforme a família, ele dirigiu até os 94 anos. Era também um habilidoso goleiro, tendo jogado nesta posição, em partidas com amigos, até os 92 anos. Torcedor do Palmeiras, gostava de assistir aos jogos de futebol, mas o maior prazer era mesmo entrar em campo.

A filha Rosa Maria Soares conta que o pai fazia questão de participar dos eventos cívicos relativos ao 7 de setembro, dia da independência do Brasil. "Ele participava da cerimônia de hasteamento da bandeira e também desfilava, era uma alegria para ele", revela. Além de Rosa, Neto e Martins são pais de Esmeralda, já falecida. Os dois são avós de Tamires e Fernanda e bisavós de Lara e Lorena.

O ex-combatente teve um filho do primeiro casamento, Roberto Silva Soares, a quem ele reencontrou há três anos – após 43 anos separados – por causa de reportagem publicada na FOLHA.

Ao ver uma foto do ex-pracinha paramentado com a antiga farda, Soares, de São Paulo, o reconheceu. A imagem, feita pelo fotógrafo Anderson Coelho, para uma reportagem publicada no jornal em 2012, foi encontrada por Roberto na internet. Com ajuda de familiares, ele veio em busca do pai e, nos últimos anos, os dois tiveram uma convivência saudável.

"Foi uma mudança enorme na minha vida, até minha saúde melhorou. Eu tinha um vazio que foi preenchido pela presença dele", conta Soares, que também guarda orgulho dos atos heroicos do pai na guerra. "Essa história era a vida dele", conta.

HOMENAGENS
O subtenente Augusto, do Tiro de Guerra de Londrina, participou do velório e do funeral acompanhado de muitos jovens atiradores, para quem o ex-combatente fazia questão de contar histórias. "Ele gostava de participar dos eventos do Tiro de Guerra e sempre recebia homenagens. Para nós, era sempre uma satisfação recebê-lo e ouvir relatos do tempo da Segunda Guerra. Ele inclusive foi condecorado com a medalha Sangue do Brasil, por ter sido ferido em combate", relata.

Irineu Abílio Vieira compareceu ao velório e contou que, no dia 21 de agosto, a Maçonaria de Londrina fez uma homenagem a Neto por ocasião do dia do soldado. "Ele conversou bastante e ficou muito emocionado. O senhor José participou da batalha conhecida como ‘tomada do Monte Castelo’, quando mais houve perda de brasileiros. Até hoje a FEB é homenageada na Itália", ensina.

Já o subtenente Sílvio Barreto, chefe de instrução do TG em Londrina, contou que a última homenagem a Neto ocorreu no dia 26 de agosto, também por ocasião do Dia do Soldado. "Ele já estava com a saúde frágil, mas ficou o tempo todo em pé. Era muito lúcido e gostava de contar histórias. Nossos atiradores sempre se emocionavam com a presença dele, foi um grande exemplo", elogia.