População reivindica também aumento de linhas de ônibus
População reivindica também aumento de linhas de ônibus | Foto: Anderson Coelho



Nos últimos anos a zona leste de Londrina vem passando por grande transformação, com a instalação da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), a construção de condomínios fechados, o movimento intenso no Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná e a edificação de alguns prédios residenciais. No entanto aquela parte da cidade ainda carece de investimentos de mobilidade urbana e uma das reivindicações de quem reside ou circula por lá é o aumento de linhas de ônibus, além da construção de um terminal de transporte coletivo. Trata-se da única região da cidade que ainda não possui uma benfeitoria como essa.

A zeladora Teresa Cipriano, 39, reside no Jardim União da Vitória (zona sul) e trabalha na Vila Operária (zona leste). Todos os dias ela pega o ônibus às 6h15
para chegar no serviço às 7h15. "Se eu pudesse reduzir esse tempo seria bom", destaca. Ela conta que para fazer esse deslocamento, precisa pegar o ônibus que sai do seu bairro até a avenida Celso Garcia Cid, na área central, onde faz a integração com outra linha, que vai para o bairro Aragarça. "Se eu tivesse que passar pelo terminal central demoraria mais ainda. Ainda bem que tem essa integração, mas nos dias de chuva fica mais difícil e se tivesse um terminal na zona leste seria melhor", destaca.

A dona de casa Áurea Ferreira Lopes mora na zona leste há oito anos. "Realmente falta um terminal de ônibus. A distância é muito grande daqui para o Centro. Agora mesmo eu tive de vir andando do Aragarça até o HU para pegar o ônibus Interclínicas para ir até o Hospital do Câncer. Deveriam pensar um pouco mais nisso para ajudar quem vive na zona leste, que é muito grande."

A assistente administrativa do Sindicato dos Servidores Públicos Técnicos Administrativos da Universidade Estadual de Londrina, Vânia Palma, 53, é moradora do conjunto Ernani Moura Lima (zona leste) e trabalha na entidade, que fica na Vila Operária, na mesma região. "Eu moro no final da avenida Robert Koch, que é atendida por uma linha só, a 106. Quando o ônibus não passa, eu pego o Psiu, mas a tarifa é mais cara", destaca. Ela afirma que a situação é mais difícil para quem mora no conjunto Armindo Guazzi, próximo ao bairro em que reside. "Acredito que se tivesse um terminal iria ajudar muito o fluxo de ônibus e, consequentemente, poderiam aumentar o número de linhas que atendem a região. O HU recebe muitos pacientes de diferentes regiões", destaca.

O geógrafo Hugo Ribeiro Borges de Paula defendeu, na Universidade Estadual de Londrina, dissertação de mestrado sobre "O planejamento do sistema de transporte público e seus impactos na mobilidade urbana em Londrina". Ele investigou como a mobilidade é constituída por um conjunto de objetos técnicos, meios tecnológicos e ações governamentais que colaboram para configurar o espaço geográfico. E afirma que as principais medidas adotadas pelo poder público para o sistema de transporte coletivo, como os terminais de integração e as faixas exclusivas para os ônibus, vêm contribuindo para melhorar a fluidez e, consequentemente, a mobilidade em Londrina.

No entanto, a inexistência de um terminal na zona leste gera consequências para a população que ali reside. "O impacto disso é que os moradores da zona leste, para se deslocar a outras regiões da cidade, precisam necessariamente ir para o terminal central. Não existe a possibilidade de ir da região leste para a oeste sem passar pelo terminal central. A gente tem uma linha só que liga o jardim Bandeirantes ao HU. É uma linha diametral que passa pelo centro sem passar pelo Terminal Central, mas ela é uma única linha que circula só durante a semana", aponta o geógrafo.

Ele destaca que só agora, no século 21, a região começou a despontar, com a implantação da UTFPR no extremo leste, e alguns condomínios foram surgindo naquela região, na avenida dos Pioneiros. "A população de lá é atendida principalmente pelas linhas radiais. Atualmente a universidade tecnológica possui quatro blocos e o planejamento de expansão prevê que ela terá dez blocos, com a introdução de vários cursos de engenharia", destaca.

Sobre as poucas linhas diametrais, o geógrafo exemplifica que naquela região existe uma linha que liga o Jardim Bandeirantes ao HU. "É uma linha diametral que passa pelo centro sem passar pelo Terminal Central; é a única que circula durante a semana e que possibilita a ligação da zona leste com a zona oeste", destaca. E aponta que mais recentemente, em 2015, foi implantada uma linha que liga a Avenida das Maritacas à Saul Elkind. "Mas essa linha só circula de manhã e no final da tarde, em horários específicos. Ela foi implantada só depois que houve a duplicação da Avenida Angelina Ricci Vezozzo. Fora essas duas linhas, que não são radiais, todas vão para o terminal central", destaca.

‘Ficou limitada pela avenida’
O geógrafo Hugo Ribeiro Borges de Paula observa que da mesma forma que a linha férrea que ficava onde hoje é a avenida Leste-Oeste dividiu durante muito tempo Londrina em dois, a avenida Dez de Dezembro provocou um fenômeno semelhante. Primeiramente, no período em que ela estava sendo construída e, posteriormente, o fluxo intenso de veículos que passa pela via acabou isolando os bairros da zona Leste. "A avenida Dez de Dezembro criou um grande corredor que se tornou um obstáculo para os moradores da zona Leste. A região ficou limitada pela avenida. Os bairros de lá tinham dificuldades de conexão com o restante da cidade", aponta.

Mas não se pode dizer que a zona Leste está esquecida, segundo ele. "É preciso ver como a zona leste vai se estruturar com a implantação do Arco Leste. Isso irá definir como ficará a integração da região com os outros bairros", observa. Ele afirma que a região já possui demanda para a implantação de um terminal de integração. "Seria interessante um terminal próximo ao conjunto Antares, ou no conjunto Guilherme Pires, nas imediações do HU (Hospital Universitário). É uma região que possui um grande movimento e que poderia centralizar a mobilidade dali com um terminal de transporte coletivo", aponta. (V.O.)

CMTU não tem estudos para implantação
O diretor de Transportes da CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização), Wilson de Jesus, afirma que nesse momento não há estudo para a implantação de um terminal na zona leste de Londrina. "Isso será analisado na revisão do plano diretor e do plano de mobilidade do município. O plano de mobilidade trará uma pesquisa de origem e destino (pesquisa OD), que apontará o deslocamento dos londrinenses e com base neles será avaliada a necessidade de construção de novos equipamentos", aponta. Jesus acrescenta que por este motivo é importante a participação da população nas audiências públicas que discutem o plano diretor.

Sobre a necessidade da construção de um terminal de integração, Jesus afirma que essa conexão já é feita pelas diametrais 808 e 810, que percorrem toda a extensão da avenida São João. Já a linha 902 integra as zonas Leste e Norte e faz um trajeto até o Conjunto Eucaliptos e Mister Thomas, pela avenida Angelina Ricci Vezozzo.

Jesus ressalta que a zona Leste ainda possui uma área extensa a ser construída até chegar a Ibiporã. "É uma área bem expressiva. A nossa rede é completamente integrada, coisas que poucos municípios possuem. Londrina é a única cidade cujo transporte coletivo está integrado com a área rural", aponta.

O diretor da CMTU apontou também que até 2019 não está previsto investimento algum pelo contrato que a autarquia possui com as empresas de transporte coletivo. "Por esse contrato, tirando investimentos corriqueiros, não há previsão de implantação de novos equipamentos", aponta. (V.O.)