Dados do Ministério da Saúde apontam que o Acidente Vascular Cerebral (AVC), mais conhecido como derrame, é a principal causa de mortes no Brasil. Estimativas constatam ainda que seja também a principal doença incapacitante, levando milhares de pessoas a se aposentarem por invalidez, já que cerca de 40% das pessoas que sofrem um AVC ficam com sequelas. Apesar de ser grave, o atual comportamento diante da doença pode fazer vítimas desnecessárias. Isso porque, com medidas simples de diagnóstico aliadas ao avanço da medicina, é possível evitar ou ao menos minimizar os danos causados.
Segundo o cardiologista do Hospital do Coração, Manoel Canesin, a constatação da doença pode ser feita logo no início com a observação de alguns sintomas. ''Ao ver que um familiar não está se sentindo bem, peça que ele sorria. Se a boca cair para um lado, pode ser um sinal. Outra medida é pedir que a pessoa pronuncie uma frase com letras repetidas, como por exemplo, ''O rato roeu a roupa do rei de Roma''. Caso seja impossível entender uma palavra na pronúncia, também pode ser um sinal. Por último, mas não menos importante, a pessoa deve levantar os dois braços e mantê-los erguidos por mais de dez segundos. O braço não pode cair.'' A alteração de apenas um dos sintomas representa 72% de chances de ser um AVC.
Diante dos inúmeros casos de doença no país, para o especialista, é obrigação dos profissionais da área da saúde informarem aos pacientes com fatores de risco sobre essas medidas. ''O paciente que faz regularmente seu check up deve ser educado por seu especialista. Ao apresentar um sintoma de AVC, a pessoa tem apenas uma janela de 4 horas e meia para que seja feito o tratamento correto e ter uma chance de não sofrer sequelas graves'', explica. Pacientes com fatores de risco são principalmente aquelas que apresentam pressão alta, tabagismo, obesidade, diabetes, colesterol sem controle e até mesmo sedentarismo.
''É importante que, se alguém tiver algum desses sintomas, correr imediatamente para o hospital. Dessa forma, há tempo de se fazer o diagnóstico precoce - por uma equipe multidisciplinar - e iniciar o tratamento o quanto antes, dentro do intervalo limite.'' O tratamento varia conforme o tipo de AVC. Conforme ele, há, basicamente, dois tipos da doença: um que 'entope' os vasos do cérebro, e outro, mais grave, que 'rompe' esses vasos. ''No caso de do entupimento, pode-se fazer uma medicação com um remédio trambolítico, para dissolver esse coágulo. Já no caso de um rompimento, há a necessidade de um acompanhamento para uma possível drenagem, dependendo da extensão da lesão'', complementa.
Canezin diz que a chance de melhora feita com o trambolítico chega a 30%, se dentro do período limite. Contudo, nem todos podem receber. ''É imprescindível a avaliação correta para se ter a relação de custo benefício do resultado do medicamento. Mas, se passar esse período de espera, a chance cai para 0%, ou seja, certamente o paciente terá sequelas, de maior ou menor grau.''
Infelizmente, esse medicamento, segundo ele, não é utilizado no Sistema Único de Saúde. ''Porém, existe um projeto nacional junto ao Ministério da Saúde, chamado Atendimento às Doenças Cardiovasculares e Urgência e Emergência. Se tudo der certo, a Santa Casa e o Hospital Universitário (HU) devem ser os pioneiros a receber a unidade, que também contará com o medicamento. Isso vai acarretar em melhores e maiores chances de cura, além de se evitar mais gastos futuros no sistema e na previdência'', acrescenta Canesim, que é coordenador do programa.