Nem todos gostam do próprio nome e muitos acabam preferindo ser chamados por algum apelido, ou a abreviação do nome, ou ainda um segundo nome. Pois esse mesmo raciocínio pode ser usado quando pensamos no uso do nome social. É por ele que pessoas transexuais ou travestis preferem ser chamadas, preterindo o nome de registro, já que este não está em conformidade com o gênero com que ela se vê. O que parece óbvio infelizmente não é enxergado por muitas pessoas.
"Quem decide fazer a transição tem que estar disposto a enfrentar constrangimentos. O uso do nome social traz a possibilidade de vivenciar minha identidade plena, me dá oportunidade de estar como eu sou em todos os ambientes." A afirmação é da pedagoga Naomi Neri Santana, de Maringá (Noroeste), que só passou a usar a identidade feminina após a aprovação do uso nome social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).
"Só quando entrei na universidade entendi o que era a transexualidade. Minha transição foi gradativa, os colegas não estranharam porque desde o início sabiam da minha militância. Quando fiquei sabendo da possibilidade do uso do nome social, procurei a universidade antes do início das aulas e preenchi o formulário fazendo a solicitação. Quando vieram os documentos, já estavam com o nome social. Apesar disso, o diploma veio com o nome civil, porque por se tratar de um documento para uso fora da universidade, precisa vir com esse nome", lamenta.
Local de convivência e aprendizado, escolas e universidades gradativamente estão passando a aceitar o uso do nome social, tanto para alunos quanto servidores ou candidatos ao vestibular ou outros processos seletivos. Para Naomi, entretanto, permitir esse uso não significa garantir um direito. Para ela, o uso do nome social apenas serve para que as pessoas trans sejam menos constrangidas. "Direito seria se houvesse a aprovação de uma lei que me garanta ir a um cartório e solicitar a alteração do nome. Hoje eu preciso do laudo de um psiquiatra, de um psicólogo e outros profissionais para somente após isso fazer a alteração, o que torna o processo caro e inacessível para muitas pessoas", reclama.
Também formada pela UEM, a pedagoga Daniele Oliveira foi a primeira pessoa a fazer o requerimento formal para o uso do nome social. "Todo início de ano eu precisava conversar com o professor, explicar como gostaria de ser chamada e solicitar a troca na ficha da disciplina. Precisava ficar falando da minha vida pessoal e sempre me adiantava, para evitar constrangimentos. Quando meu nome foi inserido de forma automática pela primeira vez, isso já no último ano do curso, em 2015, foi um avanço", conta.
Daniele diz que apesar da posição oficial da universidade, houve professor que se negou a chamá-la pelo nome social, alegando motivos religiosos e somente após a reclamação junto à coordenação pedagógica e à chefia do departamento conseguiu resolver o problema.
Apesar do preconceito que ainda existe, ela considera que o uso do nome social nas universidades irá tornar a instituição mais receptiva para as pessoas transexuais. "Muitos não participam da universidade por causa do preconceito. Usar o nome social vai muito além da estética, significa que a universidade está aberta a nós. Espero que possa ver mais da comunidade LGBT dentro da universidade."