Feira na UEL mostra o novo modelo de trabalho voluntário
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 14 de agosto de 2017
Simoni Saris<br>Reportagem Local
Quando o Estado falha na oferta de infraestrutura e serviços abre espaço para a atuação de organizações não governamentais que têm no trabalho voluntário sua principal força motora. É por iniciativa de entidades do terceiro setor que uma parcela da população em situação de vulnerabilidade consegue ter acesso a uma diversidade de bens e serviços essenciais. Mas assim como o trabalho das organizações, o voluntariado também passa por mudanças. No lugar das ações de caridade e da doação de materiais começam a surgir profissionais que doam o seu conhecimento em benefício das entidades e do público assistido por elas.
De olho nesse novo modelo de trabalho voluntário, alunos do terceiro ano do curso de relações públicas da Universidade Estadual de Londrina realizaram nesta segunda-feira (14) a primeira Feira do Voluntariado da UEL. O objetivo é ajudar as entidades a encontrarem pessoas interessadas em se tornar voluntárias, doando aquilo que sabem fazer de melhor. A feira foi idealizada pelos alunos dentro da disciplina de comunicação pública.
"Na página Procurados UEL (no Facebook) tem muita gente tentando ser voluntária e não sabe como. Decidimos organizar a feira para que as pessoas possam falar diretamente com as entidades", explicou a estudante Camila Atamanczuk, uma das organizadoras do evento. "O perfil atual do novo voluntário casa com o perfil do universitário", acrescentou Victor Camargo Martins de Souza, que também atuou na organização da feira.
Sete entidades foram convidadas pelos estudantes para participarem da feira. Entre elas, o Emaús Sustentabilidade e Solidariedade, ligado ao Movimento Emaús Internacional, iniciado na França. As fundadoras da ONG em Londrina estabeleceram uma parceria com a Associação das Mulheres Batalhadoras do Jardim Franciscato, na zona sul, e vão reativar a Biblioteca Virtual com o objetivo de transformar a vida de pessoas que hoje se encontram em situação de vulnerabilidade social, com o resgate da cidadania e oferta de oportunidades, inclusive de emprego. A intenção é reaproveitar doações de bens de consumo para serem comercializados na ECOloja para geração de renda e recursos para a manutenção do local. "Em conjunto com o movimento internacional, vamos receber apoio e ajuda financeira para mantermos as atividades no início", disse Carolina Lopes, uma das fundadoras da entidade, que já conta com 27 voluntários.
No CVL (Centro Voluntário de Londrina), além da capacitação para reinserção de profissionais no mercado de trabalho, a organização não governamental faz a ponte entre os voluntários e as entidades que precisam de ajuda, entre elas, hospitais, escolas, lares e abrigos. A ONG existe desde 2003 e tem em seu cadastro 700 voluntários, além das 40 pessoas que se dedicam ao trabalho interno no CVL. "As pessoas fazem o que sabem. Se não sabem nada, mas sabem falar, ler e ouvir, já podem desenvolver algum tipo de trabalho. E ajudar na divulgação da ONG também é ajuda", ressaltou a advogada e voluntária do CVL, Patrícia Lima. "Muitas vezes, as pessoas só precisam ser ouvidas e querem alguém que tenha disponibilidade de escutar", disse a manicure Nivea de Almeida, que criou a personagem Nina Rosinha para desenvolver um trabalho de educação ambiental com crianças dos centros municipais de educação infantil.
O estudante de relações públicas Allan Milla já realiza um trabalho voluntário em um lar em Cambé (Região Metropolitana de Londrina), onde colabora com a divulgação das atividades, e na segunda-feira (14) conversava com representantes das ONGs participantes da feira para conhecer um pouco mais do trabalho desenvolvido. "Acho super importante o voluntariado porque a gente sabe que as ONGs existem por falha do governo", disse.
A professora de comunicação pública do curso, Regina Escudero, destacou que a proposta de ações como a organizada pelos alunos nesta segunda é ampliar as vozes de pessoas que não têm oportunidade de expressão na sociedade. "A gente quer criar uma plataforma virtual para criar o espaço não só para cadastramento das entidades, mas para discussão. Queremos ampliar esse debate", salientou. "O perfil do novo voluntário não é mais o do missionário que doa bens. O voluntário hoje é a pessoa ocupada que dedica parte do seu tempo útil para a causa voluntária."