A feira foi idealizada pelos alunos de relações públicas, que convidaram sete entidades
A feira foi idealizada pelos alunos de relações públicas, que convidaram sete entidades | Foto: Fotos: Anderson Coelho



Quando o Estado falha na oferta de infraestrutura e serviços abre espaço para a atuação de organizações não governamentais que têm no trabalho voluntário sua principal força motora. É por iniciativa de entidades do terceiro setor que uma parcela da população em situação de vulnerabilidade consegue ter acesso a uma diversidade de bens e serviços essenciais. Mas assim como o trabalho das organizações, o voluntariado também passa por mudanças. No lugar das ações de caridade e da doação de materiais começam a surgir profissionais que doam o seu conhecimento em benefício das entidades e do público assistido por elas.

De olho nesse novo modelo de trabalho voluntário, alunos do terceiro ano do curso de relações públicas da Universidade Estadual de Londrina realizaram nesta segunda-feira (14) a primeira Feira do Voluntariado da UEL. O objetivo é ajudar as entidades a encontrarem pessoas interessadas em se tornar voluntárias, doando aquilo que sabem fazer de melhor. A feira foi idealizada pelos alunos dentro da disciplina de comunicação pública.

"Na página Procurados UEL (no Facebook) tem muita gente tentando ser voluntária e não sabe como. Decidimos organizar a feira para que as pessoas possam falar diretamente com as entidades", explicou a estudante Camila Atamanczuk, uma das organizadoras do evento. "O perfil atual do novo voluntário casa com o perfil do universitário", acrescentou Victor Camargo Martins de Souza, que também atuou na organização da feira.

Sete entidades foram convidadas pelos estudantes para participarem da feira. Entre elas, o Emaús Sustentabilidade e Solidariedade, ligado ao Movimento Emaús Internacional, iniciado na França. As fundadoras da ONG em Londrina estabeleceram uma parceria com a Associação das Mulheres Batalhadoras do Jardim Franciscato, na zona sul, e vão reativar a Biblioteca Virtual com o objetivo de transformar a vida de pessoas que hoje se encontram em situação de vulnerabilidade social, com o resgate da cidadania e oferta de oportunidades, inclusive de emprego. A intenção é reaproveitar doações de bens de consumo para serem comercializados na ECOloja para geração de renda e recursos para a manutenção do local. "Em conjunto com o movimento internacional, vamos receber apoio e ajuda financeira para mantermos as atividades no início", disse Carolina Lopes, uma das fundadoras da entidade, que já conta com 27 voluntários.

Carolina Lopes, uma das fundadoras do Emaús Sustentabilidade e Solidariedade: parceria para reativar biblioteca virtual
Carolina Lopes, uma das fundadoras do Emaús Sustentabilidade e Solidariedade: parceria para reativar biblioteca virtual



No CVL (Centro Voluntário de Londrina), além da capacitação para reinserção de profissionais no mercado de trabalho, a organização não governamental faz a ponte entre os voluntários e as entidades que precisam de ajuda, entre elas, hospitais, escolas, lares e abrigos. A ONG existe desde 2003 e tem em seu cadastro 700 voluntários, além das 40 pessoas que se dedicam ao trabalho interno no CVL. "As pessoas fazem o que sabem. Se não sabem nada, mas sabem falar, ler e ouvir, já podem desenvolver algum tipo de trabalho. E ajudar na divulgação da ONG também é ajuda", ressaltou a advogada e voluntária do CVL, Patrícia Lima. "Muitas vezes, as pessoas só precisam ser ouvidas e querem alguém que tenha disponibilidade de escutar", disse a manicure Nivea de Almeida, que criou a personagem Nina Rosinha para desenvolver um trabalho de educação ambiental com crianças dos centros municipais de educação infantil.

O estudante de relações públicas Allan Milla já realiza um trabalho voluntário em um lar em Cambé (Região Metropolitana de Londrina), onde colabora com a divulgação das atividades, e na segunda-feira (14) conversava com representantes das ONGs participantes da feira para conhecer um pouco mais do trabalho desenvolvido. "Acho super importante o voluntariado porque a gente sabe que as ONGs existem por falha do governo", disse.

A professora de comunicação pública do curso, Regina Escudero, destacou que a proposta de ações como a organizada pelos alunos nesta segunda é ampliar as vozes de pessoas que não têm oportunidade de expressão na sociedade. "A gente quer criar uma plataforma virtual para criar o espaço não só para cadastramento das entidades, mas para discussão. Queremos ampliar esse debate", salientou. "O perfil do novo voluntário não é mais o do missionário que doa bens. O voluntário hoje é a pessoa ocupada que dedica parte do seu tempo útil para a causa voluntária."