Visitas tiveram início em outubro; projeto atende idosos e crianças e mais recentemente passou a beneficiar também internos do hospital
Visitas tiveram início em outubro; projeto atende idosos e crianças e mais recentemente passou a beneficiar também internos do hospital | Foto: Anderson Coelho



Os pacientes da unidade de Cuidados Paliativos do Hospital do Câncer de Londrina (HCL) receberam três visitas especias na semana passada. Flor, Vitor e Bingo são os novos "voluntários" do hospital. Eles fazem parte do projeto Focinhos que Salvam, um trabalho de terapia assistida por animais, desenvolvido pelo curso de Medicina Veterinária da Unifil.
Flor, uma Lhasa apso de um ano, é a mais simpática do grupo. Vitor é o gato da turma. Muito quieto e comportado. Bingo é o mais velho, um senhorzinho de 12 anos e bem tranquilo. Alegres e receptivos, os três passaram de cama em cama e fizeram sucesso entre pacientes e familiares. "Ele ficou muito alegre. A gente percebe na feição dele", comentou a dona de casa Tereza Lopes, irmã de um paciente de 79 anos, que tem câncer no estômago em fase terminal e está internado há cerca de 15 dias. "Às vezes, ele tem momentos de lucidez e está gostando desse paparico todo", disse Tereza.
Para Dilma Aquino, que acompanha o pai, diagnosticado há dois meses com câncer em estágio terminal no estomago, a visita dos animais faz os pacientes se sentirem mais acolhidos. "Eles percebem que ainda têm importância. É bom não tratar a pessoa enferma como alguém isolado. E para nós também ajuda muito", disse Dilma, que registrou tudo em fotos para mostrar em Nova Esperança (Noroeste), onde mora.
O projeto começou em agosto com a capacitação dos professores de Medicina Veterinária e os alunos de Veterinária, Psicologia e Fisioterapia. As visitas iniciaram em outubro. O projeto atende idosos de quatro casas de repousos, do Meprovi, entidade que atende crianças em situação de vulnerabilidade, e agora iniciou no Hospital do Câncer.
São 12 cães, três gatos e três cágados participantes, todos pertencentes aos alunos. No HC serão desenvolvidas dois tipos de ações. Uma de atividade assistida, onde participam os cães mais ativos e que gostam de brincar e pular. Eles vão atuar em atividades na recepção do hospital para acalmar o ambiente.
Flor, Vitor, Bingo e dois cágados são os animais exclusivos da Unidade de Cuidados Paliativos. Eles têm uma carteira de identificação, passam mensalmente por exames de sangue, fezes e urina e no dia da visita tomam banho e fazem uma higienização das patas e bocas.
Os três foram escolhidos por causa dos perfil comportamental. "Como trabalhamos com o emocional, têm que ser os cães que remetem ao afago. O Bingo foi selecionado pela idade, pois fica fácil para os idosos e familiares olharem para ele e verem que é idoso e perceberem que a vida tem um ciclo", explicou a médica veterinária Suelen Córdova Gobetti, coordenadora de Medicina Veterinária da Unifil e tutora da Flor.
A Flor gosta do toque e permite que o paciente possa escová-la. Os alunos aproveitam essa característica para trabalhar a fisioterapia com movimentação e exercícios. Vitor convive muito bem com as pessoas e aceita o toque. "Ele é bem amoroso", afirmou a estudante de veterinária Ana Mastrascosa, tutora do gato. Desde de pequeno ele acompanha Ana na faculdade para ir socializando com pessoas e animais.
"Temos previsto para o HC dois cágados para remeter a questão que nem tudo precisa ter velocidade. Os cágados têm o tempo deles para sair da casca e para se movimentar e eles poderão caminhar na mão dos pacientes", comentou Suelen.
As técnicas que os profissionais seguem foram desenvolvidas pelo setor de Psicologia e Fisioterapia. O projeto tem o aval da Vigilância Sanitária.
Segundo Suelen, na terapia assistida por animais é possível resgatar a lucidez dos idosos. "Quando eles remetem ao animal esquecem a dor e a doença. Eles vão acessar uma área do cérebro que remete à felicidade", acrescentou. De acordo com a psicóloga do HC, Tatiana Brum Mendes, o foco do hospital é fazer da unidade de cuidados paliativos o mais próximo de um ambiente de casa. "O animal traz essa aproximação mais familiar, de amigo e de cuidados. O foco é o conforto do paciente e a Pet terapia é algo mais nesta visão de cuidado. Tanto para o paciente como para a família", afirmou.