Quando Mariana Vanzella, de 17 anos, aluna do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Universitário, falta uma aula, ela conta com os colegas para recuperar o conteúdo. Eles fotografam a matéria do quadro-negro, gravam as aulas e enviam para a estudante.
No Colégio Universitário o uso de celular em sala de aula é proibido, mas alguns professores permitem que o aluno fotografe a matéria desde que tenham combinado. Uma prática que começa a se difundir por colégios do País. Em São Paulo, por exemplo, algumas escolas permitem que a foto substitua a cópia do conteúdo.
A estudante Lorena Cruciol, de 16 anos, do 3º ano do Ensino Médio, prefere fotografar o conteúdo para a colega do que só repassar o conteúdo anotado por ela. "É melhor tirar a foto, porque às vezes eu anoto diferente do que ela, e daí ela pode perder a matéria", justifica.
Mariana explica que assim que recebe a foto já copia o conteúdo para o caderno. "Assim você chega no outro dia com o conteúdo estudado", diz, lembrando o lema da escola de que matéria do dia se estuda no dia.
Mas a fotografia não é um recurso utilizando apenas quando um colega falta à aula. As estudantes contam que quando o conteúdo é muito extenso ou complicado pedem ao professor para fazer a foto. "A gente costuma pedir para a professora de redação, por exemplo. A foto serve como um texto de apoio. Em matemática é importante a fotografia da resolução da equação. Isso facilita porque você vai acompanhando a matéria e lembra do que o professor falou na sala", argumenta Lorena.
Mas as estudantes afirmam que só tirar a foto não adianta. É preciso estudar em casa. "Às vezes é melhor fazer a foto, prestar a atenção no que o professor está falando e estudar em casa", orienta Mariana. Elas adicionam as fotos dos conteúdos na pasta de favoritos do celular e conforme vão passando o conteúdo para o caderno vão deletando.
Mariana conta que já chegou a gravar uma aula com a autorização do professor. "Vou anotando e acompanhando o que o professor está explicando. Depois em casa, com a foto tenho o conteúdo e com o áudio a explicação. Facilita bastante para estudar."
O Colégio Universitário tem a política de proibição ao uso do celular em sala de aula e até conta com um sistema para bloquear o acesso dos alunos à internet. Mas, de acordo com a diretora educacional, Raquel Calil Ruy, a escola está aberta a determinadas situações e acredita que "a tecnologia a serviço do aprendizado é bem-vinda", mas a preocupação é com o que os alunos possam acessar na internet, por isso a restrição.
Em relação ao aluno fotografar o conteúdo em vez de copiar, a diretora acredita a cópia do conteúdo auxilia mais no aprendizado. "Acreditamos muito na formação da imagem. A cópia do quadro faz ter um movimento cerebral que ajuda no aprendizado", comenta.
O professor de geografia Bruno Rangel Silvone permite que seus alunos gravem e fotografem suas aulas, desde que tenham combinado antes. Mas ele prefere que os alunos copiem o conteúdo como forma de aprendizado. "Eu não falo quando escrevo e não escrevo quando falo para dar tempo do aluno copiar a matéria e prestar a atenção na explicação. Mas quando o aluno pede para gravar, eu deixo", conta.
Ele considera problemático o uso de celulares e tablets em sala por alunos do Ensino Médio, porque é fácil o estudante se distrair com o aparelho. Mas considera benéfico no Ensino Fundamental como ferramenta pedagógica, por causa dos aplicativos que podem ser utilizados pelos professores.

APRENDIZADO
O celular vem se inserindo cada vez mais no dia a dia das escolas e os professores precisam se adaptar à nova realidade dos nativos digitais. A coordenadora da equipe de ensino do Núcleo Regional de Educação de Londrina, Isabel Félix, não acredita que fazer uma foto do conteúdo atrapalhe a formação do aluno, mas afirma que é preciso haver um diálogo entre professor e aluno.
"Anos atrás a discussão era se o professor deveria ou não entregar um texto para o aluno. A aula tem que ser explicativa. Fotografar ou não vai depender do uso que o aluno fará disso", diz.
A forma como o professor trabalha as informações também é fundamental no aprendizado do aluno. Para a pesquisadora em Tecnologia da Educação Gláucia da Silva Brito, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), hoje não dá mais para o professor descartar as novas tecnologias e precisa repensar a forma como disseminar o conteúdo. "Essa questão da cópia pela cópia é condenada. Você encher um quadro e dizer copie para ocupar o tempo de aula e não fazer nada com aquelas informações é trabalho perdido", afirma.
Hoje os alunos encontram na internet as informações que os professores estão passando em sala de aula. Antigamente, essas informações estavam restritas aos livros didáticos e aos professores. A pesquisadora defende que o professor ensine o aluno a organizar o conteúdo fotografado, incentive que ele pesquise mais informações para agregar àquele conteúdo e fomente a discussão em sala de aula. "O fotografar por fotografar é igual a cópia. Não tem sentido. Se eu encho o quadro para o aluno ficar quietinho esse não é o objetivo educacional. Isso é para matar o tempo. O aluno fotografou, agora o professor tem que dar aula. O que precisa mudar é metodologia do professor", argumenta.