Muito embora os caingangues tenham suas próprias leis para crimes leves cometidos dentro de suas áreas, o líder maior da Reserva Apucaraninha, o cacique Juscelino Vergílio, não vê problemas em se respeitar também a lei do branco. ''A gente tem que respeitar as nossas leis e as leis dos não índios. Criminoso tem que pagar e ir para a cadeia para aprender'', sentencia.
O cacique ensina que na aldeia quem comete faltas graves, como crimes de morte, paga com o exílio forçado: ''vai para outra aldeia, fica lá e não pode nem pisar aqui mais''. Mas ele acha que só isso ''não é castigo''. ''Acho que ele tem que responder na lei dos brancos e ir a julgamento. Como cacique, não posso segurar o índio na reserva porque gera mais conflito.''
Nas reservas caingangues também existem cadeias mas apenas para crimes leves como desordem e brigas entre marido e mulher. ''Se brigar, ficam lá dois dias e depois saem. Quando bebe, fica meio valente e não deixa ninguém dormir vai para lá até o outro dia'', cita Vergílio.
O cacique reclama que não só a Justiça Comum deveria agir mas também a Polícia dos brancos. Ele aponta que a população mais que dobrou nos últimos 10 anos - passou de 700 em 1999 para 1.500 indivíduos atualmente - e os problemas aumentaram na mesma proporção. ''Tem rapaziada que estuda fora, na cidade, e dá muito problema'', lamenta. Outra situação são os brancos que invadem a reserva para assaltar. ''Eles entraram e apontaram arma na cabeça de uma índia. Fui em Tamarana pedir ajuda para a Polícia Militar mas falaram que não podiam. A Polícia Federal também não veio. A gente se reuniu em mais de 100 índios escondido na estrada para pegar eles (sic) mas não vieram mais.''
Por tudo isso, ele engrossa o coro dos que querem leis mais modernas para os povos indígenas. ''Para a gente que é cacique tem hora que não dá para controlar. Tem que passar a Patrulha Rural aqui para dar segurança'', pede. (L.A.)