Campo Mourão - Lecionar sempre foi a paixão da vida da professora Juliana (nome fictício). Desde menina ela sonhava com a sala de aula. Em 2003, a primeira vez na rede municipal de Campo Mourão (Noroeste) e a certeza de que tudo que havia sonhado estava prestes a se concretizar. A carreira ia bem até o ano passado, quando veio o grande susto. Diagnosticada com Síndrome de Burnout, conhecida como a doença do esgotamento profissional, teve que parar para se tratar.
A primeira reação foi negar. "Acredito que ninguém espera uma situação como essa e não aceitava que pudesse estar doente, que teria que tomar remédios fortes. Só depois de muitos conselhos consegui encarar", conta a docente, lotada na educação infantil.
O quadro de Juliana é cada vez mais comum entre professores em todo o Brasil. Relatório do Ministério do Trabalho e da Previdência Social de 2015 mostra que transtornos mentais estão entre os quatro principais motivos para conceder benefícios previdenciários no País.
Em Campo Mourão, um trabalho preventivo de saúde mental foi idealizado depois que um levantamento realizado pelo Programa Saúde do Servidor detectou que 34% dos 900 professores da rede municipal apresentaram risco de desenvolver doença mental.
O programa foi iniciado em agosto com a primeira turma, da qual Juliana é uma das integrantes. Estão previstos oito encontros semanais de 50 minutos para trabalhar temas relacionados ao ambiente de trabalho, relacionamento interpessoal, comunicação, autoimagem, autoestima e feedback. "Observamos que estava crescendo muito o número de afastamentos por adoecimento mental em relação aos professores. E aí veio a ideia de fazer uma pesquisa, com intenção de ter uma noção mais ampla, por que tinha muitos (atestados) que nem chegavam a nós", observa a coordenadora do programa, Tânia Mara da Silva Backschat.
As doenças mentais são a segunda maior causa de afastamentos da Prefeitura de Campo Mourão, atrás apenas das lesões osteomusculares, com prevalência nos servidores da Educação. Daí a necessidade de realizar um trabalho de prevenção. "Se os que estão em sala de aula se ausentarem, é ruim para quem fica porque corre o risco de adoecimento por conta da sobrecarga; para a comunidade, porque é um serviço que deixa de ser prestado. Os impactos são diretos e indiretos, não só sobre a vida do professor adoecido como para a comunidade onde a escola está inserida, por isso vimos como uma situação grave", aponta Tânia.

Condição
Juliana diz que o quadro que enfrenta tem como origem a rotina pesada e as frustrações que os professores encaram no sistema de ensino atualmente, como salas lotadas e as dificuldades de relacionamento com os alunos. "O que mais me atingiu foi a indisciplina dos alunos. Amo minha profissão e sempre adorei preparar aulas. Mas quando chegava na sala, passava mais tempo chamando a atenção deles e isso me frustou muito", citou a professora.
Até o momento, foram quatro encontros, já suficientes para uma melhora na rotina da professora, que já conseguiu voltar ao ambiente escolar. "O programa tem me ajudado muito. Passei dois anos sem poder entrar na escola e agora já voltei a trabalhar, em outra função. Busco ajuda de todas as formas para ficar bem e voltar a dar aulas. Tenho vontade, mas ainda preciso superar algumas barreiras", diz Juliana.
Para a secretária de Educação de Campo Mourão, Karla Tureck, o programa ajuda a prevenir problemas com as doenças. "O professor não é como um pneu de carro, que quando fura tem sempre um estepe. Trabalhamos com o quadro enxuto e teríamos que buscar uma solução para reverter esse quadro", destaca.
Ela garante também que outras medidas estão em andamento para evitar que novos professores adoeçam. "A questão da condição de trabalho, salas que não estejam lotadas. O terço de hora atividade, que foi implantado, também reduziu o tempo de permanência na sala com os alunos, eles não levam atividade para casa. Além deste trabalho da saúde, temos buscado no dia a dia soluções para diminua a ocorrência de doenças psicológicas", assegura.